As polêmicas do novo mandato de Bruno Covas, que completa 1 mês
Aumento do próprio salário, pedras sob viaduto, ida a estádio... após ser eleito, prefeito tucano vai engordando lista de controvérsias
Bruno Covas (PSDB) assumiu a prefeitura paulistana em 2018, após renúncia do atual governador de São Paulo, João Doria, que concorreu e venceu as eleições estaduais. Na época, o neto do ex-governador Mário Covas era um desconhecido na cidade.
Em 2020, Bruno foi candidato à reeleição e venceu Guilherme Boulos (PSOL), com quem travou o segundo turno “mais jovem” desde a redemocratização, tendo o tucano 40 anos e o psolista, 38.
No primeiro mês de 2021, o prefeito enfrenta pressão pública por conta de polêmicas no início da gestão, que acaba de completar um mês. Veja abaixo:
Suspensão de gratuidade para idosos de 60 a 65 anos no transporte
Junto de João Doria, Bruno Covas determinou no dia 23 de dezembro o fim do direito de idosos entre 60 e 65 anos de viajar gratuitamente em ônibus, trens e metrô na capital e ônibus intermunicipais da Grande São Paulo. A medida entrou em vigor no dia 1º de fevereiro de 2021.
Ele revogou a lei que garantia a isenção de pagamento da tarifa de ônibus da capital a essas pessoas. Ao mesmo tempo, o governador também revogou um decreto de 2014 que regulamentaria a gratuidade nos outros meios de transporte, como Metrô, trens da CPTM e os ônibus intermunicipais (EMTU) da Grande São Paulo.
Agora, só têm direito a andar de forma gratuita no transporte público da cidade os idosos com 65 anos ou mais. Segundo a prefeitura, a mudança “acompanha a revisão gradual das políticas voltadas a essa população”. “A recente reforma previdenciária que, além de ampliar o tempo de contribuição, fixou idade mínima de 65 anos para aposentadoria para homens e 62 para mulheres”, justifica em nota o Executivo municipal.
Uma liminar judicial chegou a suspender a alteração em janeiro, atendendo a uma ação do Sindicato Nacional dos Aposentados, da Confederação Nacional dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas e do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas Mecânicas e de Material Elétrico de São Paulo e Mogi das Cruzes. No entanto, a decisão foi revertida e a nova política, mantida em vigor.
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Aumento de mais de R$ 10 000 no próprio salário
No dia 24 dezembro, apenas um dia depois da polêmica envolvendo as gratuidades no transporte, Covas sancionou o aumento de seu salário, do vice Ricardo Nunes e de secretários da cidade de São Paulo.
Com o reajuste, válido a partir de 2022, o teto do funcionalismo público municipal também sobe. O salário atual do prefeito é de 24.175,55 reais e passará para 35.462 reais. O vice-prefeito ganhava 21.700 reais e terá a renumeração de 31.915,80 reais. Os salários dos secretários subiram 55%, de 19.340,40 para 30.142,70 reais.
Segundo a casa, o reajuste corrige subsídios “do prefeito, vice-prefeito e secretários em patamar abaixo da inflação acumulada no período” dos últimos 8 anos. O aumento foi muito criticado nas redes sociais por acontecer em um período de pandemia e crise econômica.
Derrotado nas eleições municipais, Guilherme Boulos afirmou em entrevista à Vejinha que iria protocolar uma representação contra o aumento. “Essa aprovação fere, ao menos, dois princípios legais: o princípio da razoabilidade e o princípio da moralidade pública, porque nós estamos no meio de uma pandemia, com uma crise social aguda”, explica. “Nós achamos que o Ministério Público tem que atuar junto ao judiciário para impedir esse aumento”.
Ao ser questionado sobre o projeto, Covas afirmou que “hoje o teto está defasado, é um teto de R$ 24.000.” Segundo ele, o valor congelado não acompanhou a inflação e é nocivo para o funcionalismo público, “por que é importante fazer isso? Porque o salário do prefeito é o teto do funcionalismo. O teto está congelado desde 2013, quando tivemos o último reajuste, durante este período de oito anos, a inflação foi de 60% a 100%, dependendo do valor que é considerado.”
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“Por que é ruim para a cidade de São Paulo ficar com o teto defasado? Porque algumas carreiras que recebem pelo teto, como é o caso dos auditores fiscais, começam, os funcionários, a se preparar para concursos para trabalharem no governo federal ou em outros governos municipais ou estaduais e nós vamos perdendo esses servidores”, explicou.
O prefeito defendeu que a medida precisava ser tomada naquele momento ou só poderia ser votada no fim de seu mandato, “Aqui não se trata apenas do salário do prefeito, que só será reajustado caso a gente passe pela pandemia, em 2022. Aqui se trata da correção do teto que está congelado nesses últimos oito anos. Se a câmara não aprovasse isso agora, só poderia aprovar depois de mais quatro anos, porque ele é aprovado sempre para o exercício seguinte, e nós ficaríamos doze anos com este valor defasado.”
Instalação de pedras sob viaduto
A gestão municipal instalou na última quinta-feira (28) pedras pontiagudas na parte inferior do viaduto Dom Luciano Mendes de Almeida, na avenida Salim Farah Maluf, Zona Leste de São Paulo. Moradores de rua, que costumavam dormir lá, ficaram impossibilitados após a ação.
As obras para fixar as pedras no chão foram finalizadas no último domingo (31) por uma empresa contratada pela prefeitura. “A gente faz porque é obrigado, mas até aperta o coração tirar o teto de quem já mora na rua”, disse um dos trabalhadores em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
Na manhã desta terça-feira (2), o padre Júlio Lancellotti foi até a avenida do bairro do Tatuapé. Em um ato simbólico, ele quebrou as pedras instaladas no local pela prefeitura com uma marreta.
“Foi um gesto de indignação”, disse uma das vozes mais ativas no trabalho com a população de rua de São Paulo. Segundo o pároco, há no local duas escavadeiras, cinco caminhões, duas vans com técnicos e mais de trinta trabalhadores retirando os pedregulhos. “Eu vejo isso como uma improbidade administrativa, porque há um custo para colocar o concreto e para retirar”, afirmou à Vejinha.
A administração municipal disse que foi pega de surpresa e afirmou não ter conhecimento da obra. Segundo ela, uma sindicância foi aberta para apurar os fatos e o servidor responsável pela ação foi exonerado do cargo. Ele não teve o nome nem o cargo divulgados. O concreto começou a ser retirado.
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Ida ao estádio durante o avanço da pandemia
Bruno Covas foi alvo de críticas na internet após ser visto no estádio do Maracanã acompanhando a final da Libertadores entre Santos e Palmeiras. No final de semana, São Paulo encarou seu primeiro retorno à fase vermelha, quando apenas os serviços essenciais estão autorizados a funcionar.
O prefeito foi a público se defender. Afirmou que nada do que fez é ilegal e que decidiu tirar mais três dias de licença não remunerada para ficar com o filho. Os dois foram ao estádio.
“A lacração da internet resolveu pegar pesado. Depois de tantas incertezas sobre a vida, a felicidade de levar o filho ao estádio tomou uma proporção diferente para mim. Ir ao jogo é direito meu. É usufruir de um pequeno prazer de vida. A hipocrisia generalizada que virou nossa sociedade resolveu me julgar como se tivesse feito algo ilegal”, explicou em uma postagem nas redes sociais.
Reforma do Anhangabaú: adiamento e aumento dos custos
Pela sexta vez, a entrega do Vale do Anhangabaú foi adiada. As obras estavam previstas para serem finalizadas no último dia de janeiro de 2021 pelo Consórcio Central, responsável pela revitalização. Originalmente, o planejamento previa a entrega da reforma à população em junho de 2020.
De acordo com texto publicado pelo Diário Oficial do município de São Paulo no sábado (30), o contrato de execução foi prorrogado por mais dois meses, com a data de conclusão marcada para o primeiro dia de abril.
A gestão Covas afirma que a obra de requalificação do Vale do Anhangabaú terminou, porém, diz que a prorrogação do contrato “foi necessária para dar continuidade à operação assistida pelo consórcio responsável pelos serviços para certificar que, na entrega definitiva, todos os novos equipamentos, entre eles as fontes de água, funcionem perfeitamente”. Não há data para entrega para a população.
Segundo a reportagem do G1, as construtoras FBS Construção Civil e a Lopes Kalil Engenharia, que compõem o Consórcio Central, disseram que o novo prazo foi requisitado para concluir a “operação assistida para as fontes, atividades complementares e ajustes finais da obra”.
Além disso, a reforma havia sido orçada em R$ 80 milhões. No entanto, o custo atual estimado é de R$ 105 milhões, valor 32% maior do que o previsto inicialmente pela prefeitura.
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