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“Vou pular de paraquedas”, diz Bruno Covas

Em meio ao aumento de casos de coronavírus em SP, o tucano, que ainda trata um câncer, diz estar bem de saúde e marcou a data para um salto radical

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 Maio 2024, 16h55 - Publicado em 4 dez 2020, 06h00
Covas na sacada da prefeitura
Covas, na sede da prefeitura: promessa de transporte aquático de 100 milhões de reais (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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Reeleito com 3,1 milhões de votos, o atual prefeito de São Paulo tem muito trabalho pela frente. Nas próximas semanas, Bruno Covas, 40, precisa construir o futuro secretariado, consolidar uma base aliada que não lhe cause sobressaltos na Câmara Municipal e pôr em prática as primeiras medidas da próxima gestão. O tucano diz ainda que a capital estará preparada para uma vacinação em massa e assegura que não colocará “fiscal em cada esquina” para verificar o uso de máscara por parte da população.

Afinal, o governador João Doria deixou de apertar as regras da quarentena para não prejudicar o senhor na reta final da eleição? Há um vídeo dele circulando nas redes sociais falando que isso não ocorreria, mas aconteceu poucas horas depois da sua vitória.

Reforço que na cidade continua valendo o que eu disse há dez dias. A gente tem estabilidade da pandemia. Tanto é verdade que não vamos retroceder no que já foi aberto. Não vamos fechar parques nem o setor cultural. O Estado está sendo cauteloso e atuando com agilidade para segurar uma segunda onda. Aqui na cidade não há indícios de segunda onda. O próprio governo chamou 62 municípios para uma conversa e não chamou a gente.

Mas os hospitais estão mais cheios e vemos nas ruas um grande número de pessoas sem máscara e se aglomerando em festas e bares. A prefeitura não teria de ser mais enérgica? O senhor pretende cobrar o uso de máscara na rua?

A gente tem mantido as campanhas, reforçado ações das UBSs. Temos dito que esse período não significa o fim da pandemia. Mas também não vamos botar um fiscal em cada esquina.Tem de usar máscara, passar álcool em gel. Aqui não há espaço para discurso alarmista e não há espaço para dizer que a pandemia acabou. A pessoa tem de ter consciência dos seus hábitos.

Há quatro anos, durante um surto de febre amarela, houve grande alarde na cidade e muitas pessoas dormiram nas filas para serem vacinadas. Quando a vacina contra a Covid-19 ficar pronta, que tipo de medidas o senhor vai tomar para evitar correria aos postos de imunização?

Vamos aguardar a vacina ficar pronta para saber quem precisa e quem não precisa ser vacinado. Faremos um cronograma. Supondo que a imunização seja para todo mundo, vamos separar por faixa etária, ocupação.

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Sua coligação elegeu 25 vereadores, uma margem confortável, mas de número insuficiente para aprovação de projetos que exigem maioria simples, de 28 votos. E ano que vem teremos votações importantes, como a revisão do Plano Diretor e o destravamento de operações urbanas, que exigem maioria mais qualificada, de 60%. Como se dará a obtenção dos apoios?

No segundo turno nós recebemos apoio do PSD, NOVO, PSL e Republicanos. Poderão ser mais dez vereadores, totalizando 35. A partir disso formaremos nossa base. É uma conversa que se inicia no fim do ano, mas em janeiro há recesso. No início de fevereiro finalizamos esse processo.

Quais serão os espaços que esses partidos recém-chegados terão no seu próximo governo?

Nem os partidos do primeiro turno nem os do segundo farão loteamento no futuro governo. Agora estamos preocupados em desenhar o organograma do ano que vem, saber se vamos fundir ou desmembrar secretarias. Só depois disso começaremos a discussão de nomes. É muito cedo para estabelecer (alocação de outros partidos).

Quais pastas podem ser desmembradas ou encerradas?

Ainda não sabemos, a única certeza é de que não passarão de 23, que é o número atual.

“Não vamos fechar parques nem o setor cultural. Aqui na cidade de São Paulo não há indícios de segunda onda”

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Sua gestão construiu apenas 14 000 unidades habitacionais e outras 14 000 foram feitas pela iniciativa privada, por meio de isenções fiscais da prefeitura. Nesse segundo caso, o senhor contabiliza como obra feita pelo município. De quanto foram essas isenções? É certo colocar tudo na mesma conta?

As isenções foram de 1 bilhão de reais. (Se nós tivéssemos construído e entregue) acho que gastaríamos mais. Viabilizamos os investimentos privados, para uma faixa de renda que é beneficiada pela Cohab. Por isso contabilizamos como unidade habitacional. Se construíssemos e entregássemos, custaria mais de 1 bilhão de reais.

O orçamento de 2021 proposto pelo senhor é 2,1% menor que o de 2020, por causa dos efeitos da pandemia. As três subprefeituras que terão mais cortes de verbas são Parelheiros, M’Boi Mirim e Itaim Paulista, todas na periferia. Por que essas regiões, que estão entre as mais carentes da metrópole, sofrerão os maiores contingenciamentos, chegando a quase 50%?

Durante a discussão para a aprovação do orçamento na Câmara isso pode ser revisto. A gente enviou uma proposta muito parecida no ano passado e os ajustes ocorreram por meio de emendas parlamentares dos vereadores.

O seu plano de governo fala em ajudar o governo do estado na duplicação da Estrada do M’Boi Mirim. De que forma isso ocorrerá e quanto vai custar?

A participação da prefeitura será com as alças de acesso, reforma das calçadas e reorganização do corredor de ônibus. A via é uma estrada estadual, uma SP. O governo do estado está resolvendo as últimas pendências com o Tribunal de Contas para poder licitar. Não tenho de cabeça qual será a contrapartida do município.

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Ambientalistas afirmam que a duplicação da via vai aumentar ainda mais os desmatamentos e as ocupações irregulares, como mostrou a Vejinha em reportagem recente. Há grandes loteamentos clandestinos sendo construídos em áreas de difícil acesso. Com a duplicação a boiada poderá passar de vez?

A população sofre do jeito que é hoje. Vamos resolver um gargalo logístico histórico. A avenida é toda travada. Sobre os desmatamentos, vamos intensificar as ações de proteção específicas e retomar a Operação Defesa das Águas, que foi paralisada na gestão Haddad. Estamos há seis meses discutindo isso. Não há relação entre uma coisa e outra.

Por falar em água, como será seu programa Aquático, que prevê transportar passageiros nas represas? A medida é viável? Quanto vai custar, de onde sairá o dinheiro e por onde vai começar?

É viável, vai começar na Represa Billings, entre o Cantinho do Céu e a Pedreira, passando pelo Jardim Cocaia e o Jardim Apurá. A expectativa é que custe 100 milhões de reais (os recursos serão do Tesouro) e leve entre um ano e meio e dois para ser executado. Serão barcos como os que fazem a travessia Santos-Guarujá. Reduziremos os deslocamentos de um ponto a outro, que leva uma hora e quinze hoje, para apenas quinze minutos.

bruno covas comemoração
Eleito: Bruno Covas vence segundo turno das eleições de 2020 (Gilberto Marques/Divulgação)

Quantas pessoas serão transportadas por dia?

Não tenho a quantidade aqui e ainda não sabemos quantos barcos serão necessários. Tudo isso ainda será decidido.

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Nos últimos dois anos, a sua gestão fez dezenas de operações de apreensões de produtos pirateados, principalmente na região central. Apesar disso, os estabelecimentos voltam a funcionar e a vender as mercadorias logo depois. Críticos dizem que não vale a pena continuar com essas grandes mobilizações, sem efeito permanente. Em outras palavras, vale continuar enxugando gelo?

Se estamos enxugando, o paninho está bem encharcado. Em dois anos, em ações conjuntas com o Deic e a Receita Federal, apreendemos 4 000 toneladas de contrabando e temos recebido até prêmios internacionais por isso. O problema é que esses locais voltam a operar por determinação judicial, mesmo com a prefeitura lacrando e cassando o alvará. Vamos persistir, pirataria é um jogo em que todo mundo perde.

“Se estamos enxugando gelo, o paninho está bem encharcado. Em dois anos, apreendemos 4 000 toneladas de contrabando”

Tem metas e planos de ampliações para outras regiões da cidade?

Não temos metas, mas o desafio vai continuar.

Por falar em desafio, como vai a sua saúde? Até quando vai o tratamento?

Os últimos exames, em agosto, mostraram uma redução de 50% no tumor que tinha persistido após o fim da quimioterapia. Semana que vem farei novos exames para saber por quantas sessões de imunoterapia precisarei passar. Os médicos me liberaram para fazer campanha e a cada quatro meses eles estão vendo o andamento do tratamento.

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Durante entrevista à Rádio CBN o senhor falou que saltaria de paraquedas caso ganhasse as eleições. Mas isso vai ficar para o fim do tratamento, não?

Não (risos). O médico me liberou e vou pular de paraquedas agora em dezembro. Estou querendo marcar para o dia 12.

E qual será a sensação quando a porta do avião se abrir e não houver mais como voltar atrás?

Sensação de mudança drástica. Quando descobri o câncer, a Folha de S. Paulo disse que eu teria apenas 5% de chance de cura.

Desde que a doença foi descoberta, há pouco mais de um ano, o senhor chorou em algum momento, seja de tristeza, de apreensão ou de alegria, como ao vencer a eleição?

Muitas vezes (silêncio).

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Publicado em VEJA São Paulo de 09 de dezembro de 2020, edição nº 2716

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