Boulos e Covas trocam perguntas duras e bem específicas sobre a cidade

A pedido da Vejinha, candidatos tocam em temas como aumento de impostos, criminalização de movimentos sociais, polêmicas com o vice e Anhangabaú

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 Maio 2024, 17h04 - Publicado em 27 nov 2020, 06h00
Boulos e Covas, antes das eleições (Alexandre Battibugli/Leo Martins/Veja SP)
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Boulinhos paz, amor e “verde”

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(Alexandre Battibugli/Veja SP)

Nascido e criado entre Pinheiros e a Pompeia, na Zona Oeste, Guilherme Boulos trocou a casa dos pais e a abastança da classe média alta, em 2002, para viver em um acampamento do MTST em Osasco. Dormiu em ocupações por dois anos e se tornou o principal líder do movimento. Há sete anos mora no Campo Limpo com a esposa e as duas filhas em um sobrado de 100 metros quadrados no nome do pai.

Na segunda empreitada eleitoral da vida (em 2018 obteve 617 000 votos para a Presidência), Boulos diz que o meio ambiente é um dos pilares de sua candidatura. Porém, precisa explicar por que, no passado recente, seu MTST invadiu terrenos em área de proteção ambiental, como no Jardim Ângela, às margens da Represa Guarapiranga. Chamado de Ocupação Nova Palestina, o espaço, que deveria virar um parque, tem 1 milhão de metros quadrados (maior que os parques Villa-Lobos e Aclimação juntos) e abriga desde 2014 cerca de 2 000 famílias, que vivem de forma precária.

A ideia era construir moradias para mais de 20 000 pessoas, mas o dinheiro do governo federal, via Minha Casa Minha Vida, nunca veio. Já o chamado Copa do Povo, um terreno de 155 000 metros quadrados (maior que o Parque Burle Marx), em Itaquera, foi invadido a um mês da Copa. Em 2015, acabou comprado pelo governo federal por 53 milhões de reais (valor atualizado), mas o dinheiro para a obra nunca saiu. Em outros casos, o desfecho foi ainda pior, como em 2012, no bairro Pinheirinho, em São José dos Campos. Após uma violenta ação de reintegração de posse, Boulos se tornou réu por vandalismo.

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Para compensar sua inexperiência em gestão, o líder do MTST escalou a deputada e ex-prefeita Luiza Erundina como vice. Como prefeita (1989-1992), saiu com apenas 20% de aprovação, ganhando só de Celso Pitta. Entre pontos que geraram críticas, a mudança da prefeitura para o Palácio das Indústrias (que em nada mudou o abandono do vizinho Parque Dom Pedro) e milionárias obras entregues incompletas, como o Sambódromo do Anhembi e o Anhangabaú.

Se eleito, Boulos vai enfrentar os mesmos problemas que ela na Câmara. Assegura até ressuscitar algumas propostas que naufragaram por falta de apoio dos vereadores, incluindo muitos do PT, seu então partido, como o IPTU progressivo e a tarifa zero no transporte. Para isso, promete diálogo, o que se traduz na mudança de seu estereótipo de radical (até adotou a barba aparada), como fez o então candidato Lula em 2002. Aliás, Boulos era o preferido do petista na capital. Ambos se tornaram próximos quando o ex-presidente foi preso, há dois anos. Nos últimos dias, o candidato do PSOL precisou explicar diversas vezes a ideia de que contratar mais servidores concursados faria o déficit previdenciário municipal retroceder.

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montagem boulos 2
(Alexandre Battibugli/Veja SP)

Nova imagem, mas sem deixar marca

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(Leo Martins/Veja SP)

Herdeiro da prefeitura após a renúncia de João Doria, em 2018, Bruno Covas bem que tentou, mas não conseguiu deixar uma marca na cidade que tivesse seu nome e sobrenome. Pretendeu transformar em parque o Elevado Presidente João Goulart, o Minhocão, mas a empreitada esbarrou em questionamentos da Justiça e de vereadores. As obras foram iniciadas neste ano, com a elevação dos gradis, mas a conclusão (ou não) ficará para o próximo prefeito. Também objetivou angariar louros com a reforma do Vale do Anhangabaú, mas por ora, com as obras em andamento, ficaram as críticas pela aridez e por não ser exatamente prioritária. Quando a construção ficar pronta, diz que o local renderá 1 bilhão de reais, em quatro anos, graças a eventos.

No campo da habitação, embora tenha prometido construir 21 000 moradias, entregou 14 000. Diz que mais 14 000 foram construídas para a iniciativa privada graças a isenções de taxas e tributos (veja mais na pág. 29). Covas também terceiriza, desta vez aos vereadores, a responsabilidade pelo não andamento de cinco planos de intervenção urbana, como Vila Leopoldina e Água Branca.

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Enquanto trabalha para se reeleger, o prefeito passa boa parte da campanha precisando responder pelos atos de seu vice, Ricardo Nunes (MDB), que chegou a ser acusado pela esposa, em 2011, de violência doméstica. Na última terça (24), à Rádio CBN, o prefeito disse que a imprensa persegue o atual vereador, investigado pelo Ministério Público por suposto favorecimento a uma ONG ligada a creches conveniadas. O próprio prefeito afirmou, no Roda Viva, que preferia uma mulher para vice. Marta Suplicy, que apoia pessoalmente o tucano, chegou a ser cotada, mas o prefeito avaliou que isso lhe traria mais ônus que bônus.

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Na reta final do mandato, conseguiu mudar uma fama que gerou desconfortos a ele e a seu ex-chefe e hoje governador de São Paulo: a de baladeiro. Tão logo emagreceu 20 quilos, viajou de férias para a Croácia, com três amigos, apenas sete meses depois da posse, em 2017. Entre praias, piscinas e muita agitação no verão europeu, raspou a cabeça e deixou a barba crescer. Em março de 2019, estava em Lisboa quando um temporal deixou a cidade debaixo d’água. Neste ano, em meio à pandemia e ao tratamento contra um câncer agressivo, o neto de Mario Covas se mudou para a sede da prefeitura, onde ficou por dois meses. É esse Bruno que aparece no programa eleitoral.

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(Leo Martins/Veja SP)

>5 PERGUNTAS DE COVAS PARA BOULOS

Guilherme Boulos
(CNN Brasil/Kelly Queiroz/Divulgação)

Seu programa prevê aumento de impostos, tanto de ISS quanto de IPTU. No caso do ISS, um efeito possível, dada a disputa fiscal existente entre municípios, é que prestadores de serviço transfiram sua sede da capital para outras cidades. Como lidaria com essa possível perda de receita? No caso do IPTU, o que o senhor considera “mansões”, que seriam mais tributadas conforme escrito em seu programa de governo?

A pergunta parte de uma premissa equivocada. Nosso programa prevê apenas o aumento do ISS dos bancos — e não de prestadores de serviço, ou seja, não há nenhum motivo para que eles saiam da cidade. Pelo contrário: nosso programa econômico implementará mecanismos para aumentar a demanda, como a Renda Solidária, o que ajudará na retomada econômica no pós-pandemia, beneficiando inclusive o setor de serviços. Mansões, para nós, são megamansões como a do governador João Doria. Esse reajuste de alíquota segue o princípio de progressividade do IPTU já previsto na legislação municipal e terá um efeito pedagógico, de justiça social.

O programa de governo propõe “garantir o cumprimento da função social da propriedade nos imóveis ociosos”. Quantos imóveis nessas condições o seu governo pretende desapropriar?

Segundo dados da gestão Covas, existem 2 824 imóveis com indícios de ociosidade na cidade. Esse número, porém, tem grandes chances de estar subdimensionado pela própria falta de vontade política do PSDB em enfrentar a especulação imobiliária, já que Covas tem sua campanha financiada pelo setor. Nós faremos um mapeamento detalhado a partir de 1º de janeiro de 2021 para verificar a quantidade real de imóveis ociosos em toda a cidade.

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Movimentos reivindicatórios às vezes fazem uso de atos violentos para se fazer ouvir. Como o senhor atuaria, sendo prefeito, em caso de acontecer, por exemplo, a invasão de um prédio que estivesse pronto para ser habitado e prejudicasse as famílias que estavam aguardando na fila por aquelas moradias?

A criminalização dos movimentos sociais promovida pelo PSDB não resolve o problema da desigualdade social. Esses atos poderiam ser evitados com diálogo, já que são fruto do desespero de setores sociais que não são escutados e recorrem a esse tipo de manifestação como último recurso para ser ouvidos. Nossa prefeitura governará junto com o povo, num processo de diálogo permanente com conselhos populares nas subprefeituras e no orçamento participativo, ouvindo as reivindicações de todos os movimentos sociais e buscando atender às demandas que expressam diferentes carências da cidade.

Fizemos a reforma administrativa, enxugamos a máquina, cortamos 6 800 cargos, privatizamos e fizemos concessões de vários equipamentos para economizar recursos da sociedade. O senhor pretende criar alguma estatal ou autarquia nova? Extinguiria alguma existente?

Nós pretendemos fazer concursos e valorizar a gestão direta e o serviço público, começando pela contratação de 500 novos médicos para atuar na periferia já no ano que vem. A gestão Covas vai terminar 2020 com 19 bilhões de reais em caixa, parados, no meio de uma pandemia. Esses recursos têm de ser utilizados em benefício da população, e o governo existe para governar, não para se omitir e terceirizar responsabilidades. Como explicar, por exemplo, que depois de gastar quase 100 milhões de reais na reforma do Vale do Anhangabaú, a prefeitura tenha concedido o espaço por apenas 6 milhões de reais à iniciativa privada?

Cerca de metade dos paulistanos tem pets. O cuidado com animais de estimação é uma demanda legítima que a sociedade colocou ao poder público e, por isso, foi absorvida pelos mais diversos governos. Abrimos o terceiro hospital veterinário da cidade, gerido por uma organização social, e na próxima gestão faremos mais um. Por que seu programa não propõe nada para atendimento veterinário na cidade?

Temos compromisso com a ampliação da rede pública de atendimento veterinário. Também vamos investir em programas de conscientização sobre bem-estar animal, com promoção de campanhas de castração de animais domésticos e de rua, além de vacinação, incentivando as adoções conscientes. Além disso, vamos criar um programa de animais domésticos que vivem em situação de rua. Toda essa política será construída com participação popular e em diálogo com entidades de proteção dos animais.

Como explicar, por exemplo, que depois de gastar quase 100 milhões de reais na reforma do Vale do Anhangabaú, a prefeitura tenha concedido o espaço por apenas 6 milhões de reais à iniciativa privada?

Boulos

Vejinha pergunta:

Boulos, o PT e o MTST participarão da sua gestão? Se sim, de que forma? Integrantes do partido e do movimento teriam quais espaços no seu mandato?

Nenhum prefeito governa sozinho. Nossa gestão será uma gestão plural, com a participação de todos os partidos que tenham compromisso com o nosso programa. Já o MTST é um movimento social e, como tal, seguirá autônomo e independente, como sempre foi, na luta pelo cumprimento da lei e da garantia do direito à moradia previsto pela Constituição. O que não aceitaremos é o toma lá dá cá para governar, com o aparelhamento das subprefeituras, que na gestão do PSDB viraram cabide de emprego, com subprefeitos que nem conhecem os bairros onde atuam.

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O que o seu governo faria do atual plano de desestatização? Pretende rever a concessão do Pacaembu e da Zona Azul? E os outras? Se sim, de que forma?

Nossa gestão irá valorizar a gestão direta. Ao mesmo tempo, vamos respeitar os contratos já firmados. O que não faremos, porém, é vista grossa a irregularidades que lesem a população e os cofres públicos.

5 PERGUNTAS DE BOULOS PARA COVAS

Bruno Covas
(CNN Brasil/Kelly Queiroz/Divulgação)

A população acha suspeito que o governo do estado, que o apoia, tenha parado de divulgar os dados relacionados às mortes por Covid no meio da campanha eleitoral. O que o senhor acha disso?

A Secretaria Municipal de Saúde divulga boletins diários com dados da pandemia. Inclusive, São Paulo é uma das poucas cidades que divulga não apenas o número de óbitos por data de notificação como também por data de ocorrência. Já foram publicados mais de 240 boletins. Causa surpresa que a candidatura do PSOL conteste os dados do Comitê de Crise e da Vigilância Sanitária da cidade, engrossando as fileiras do negacionismo.

Gostaria de fazer novamente uma pergunta que ainda não me respondeu: o senhor bota a mão no fogo pelo seu vice?

Ricardo Nunes já fez mais pela cidade do que muitos daqueles que o criticam neste momento eleitoral. São oito anos de atuação correta como vereador, quando, inclusive, liderou, junto com outros parlamentares, uma CPI que enfrentou grandes bancos e recuperou 1,2 bilhão de reais para a cidade, investidos na melhoria da vida dos paulistanos. Ele não responde a nenhum processo judicial, nem há denúncia alguma apresentada contra ele. Assim como outros vereadores de vários partidos e orientações ideológicas, dedica parte de sua atuação a ampliar a oferta de creches na cidade, o que é legítimo e desejável. E é bom lembrar: todos os contratos citados nas notícias que tentam fazer ilações a meu vice foram firmados pela administração anterior. Agora, faço um desafio ao candidato adversário: oriente a bancada de seu partido, o PSOL, a investigar a fundo e a sério os contratos que acusam de irregularidades. Se acharem alguma coisa, eu descredencio a creche na hora. Se não acharem nada, assumam o compromisso de ir à tribuna e dizer que os contratos são regulares, legais e corretos.

Qual a urgência de gastar quase 100 milhões de reais na reforma do Vale do Anhangabaú enquanto quase 25 000 pessoas dormem todos os dias na rua em São Paulo, muitas delas no próprio Anhangabaú?

Essa pergunta ilustra a diferença entre quem só olha o curto prazo e quem busca um horizonte mais amplo. A obra vinha desde a gestão passada e obra inacabada é o que de pior existe para o orçamento público. A verba destinada no orçamento era para a reforma do Anhangabaú e não para outros fins. A obra gerará empregos e oportunidades inclusive para muitas dessas pessoas que hoje, infelizmente, estão nas ruas e, com os eventos promovidos na região, poderão ter uma vida nova, com dignidade e trabalho. Será a nova Avenida Paulista da cidade.

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Por que o senhor insiste em dizer que pegou a cidade quebrada, com um rombo em caixa, sendo que todas as agências de checagem já o desmentiram?

Agência de checagem não é autoridade fiscal nem orçamentária. De qualquer maneira, não é de estranhar que quem não tem nenhuma experiência administrativa, quem nunca ocupou um cargo público, não tenha conhecimento da gestão orçamentária do município. O orçamento herdado da gestão do PT estava totalmente desequilibrado, maquiado. Tinha 5 bilhões de reais em receitas superestimadas e 2,5 bilhões em despesas subestimadas. Previa, por exemplo, 2,7 bilhões de transferência de capital da União, quando somente 642 milhões chegaram aos cofres municipais. É o velho jeito do PT de lidar com o orçamento público, o que, pelo visto, o candidato do PSOL endossa. No plano federal, a irresponsabilidade fiscal da Dilma resultou na maior recessão da história, cujos efeitos o país sofre até hoje.

Por que o senhor diz ter feito um recorde de 25 000 unidades habitacionais, sendo que as agências de checagem já desmentiram essa informação e mostraram que apenas 14 300 foram entregues?

De novo, a velha mania de achar que só vale o que o poder público executa. Para resolver o sério e amplo problema de moradia na cidade, temos de lançar mão de todo e qualquer instrumento, em especial a parceria com o setor privado, que consegue executar obras rápido. A prefeitura não apenas entregou mais de 14 000 casas e apartamentos como incentivou, com a isenção de taxas e do pagamento da outorga onerosa, a construção de outras 28 700 habitações de interesse social pela iniciativa privada. Dessas, mais de 14 000 já foram entregues. É o mesmo que tivéssemos aportado diretamente o dinheiro, só que mais rápido e efetivo. A diferença é que as famílias contempladas pela nossa política de isenções já estão morando nas unidades e não ainda esperando na fila, como parece preferir o adversário.

É o velho jeito do PT de lidar com o orçamento público, o que, pelo visto, o candidato do PSOL endossa. No plano federal, a irresponsabilidade fiscal da Dilma resultou na maior recessão da história, cujos efeitos o país sofre até hoje

Covas

VEJINHA PERGUNTA:

Covas, o senhor vai cumprir o próximo mandato na íntegra? Se compromete a não sair candidato em 2022 a governador ou a presidente?

Primeiro é preciso ter do eleitor a confiança do seu voto. Se eu for reeleito no próximo dia 29, só voltarei a disputar eleição em 2026.

O Programa de Metas prevê a requalificação da Avenida Santo Amaro, o que não houve. O mesmo ocorreu na Estrada do M’Boi Mirim, em parceria com o governo do estado. O senhor tem planos de qualificações de outras avenidas? Se sim, quais?

Algumas das obras previstas não andaram na velocidade de que gostaríamos porque tivemos de refazer contratos defeituosos herdados da gestão do PT. Defeituosos e, em alguns casos, irregulares, que estão sob investigação dos órgãos competentes. A estrada do M’Boi Mirim já teve convênio assinado entre prefeitura e Der para ser executada junto com o governo do estado. Ainda na área de mobilidade na Zona Sul, além da nova ponte graúna-gaivotas, vamos inovar implantando o Aquático, transporte por barcas do Cantinho do Céu até a Pedreira, integrado ao Bilhete Único. Na Zona Leste, vamos concluir o Corredor Leste Itaquera e tirar o BrT da Avenida Aricanduva do papel. O Complexo Pitiruba-Lapa, aguardado há décadas, será concluído.

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Publicado em VEJA São Paulo de 02 de dezembro de 2020, edição nº 2715

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