Selos valorizam agricultores paulistanos e casas que usam insumos produzidos por eles
Um dos destaques do projeto Ligue os Pontos é o restaurante Arturito, de Paola Carosella, que usa vegetais da Cooperapas, cooperativa de Parelheiros
Ainda que apenas uma pequena quantidade de paulistanos tenha descoberto, a capital do concreto conta com uma parcela verde que não se resume a parques ou a praças. Trata-se de uma considerável área agrícola em extremos das zonas Sul, Leste e Norte, que se amplia em manchas menores, hortas que aparecem aqui e acolá. Tratei desse tema em “Metrópole rural”, uma reportagem de capa da Vejinha sobre a inclusão das hortaliças desses espaços na merenda das escolas municipais, escrita em parceria com Saulo Yassuda no início de março de 2018 (leia aqui a matéria). A volta ao tema se dá porque o governo municipal promove mais uma iniciativa no segmento ao lançar dois selos especiais para destacar endereços gastronômicos que adquirem insumos de produção na área urbana paulistana.
Um deles, o selo Aqui Tem Produção de Sampa valoriza cinquenta lugares, entre restaurantes, empórios, mercados e feiras orgânicas. Vem com um QR code que permite acessar informações sobre os agricultores e detalhes do endereço comprador. Enfatiza-se a cidade mais agrícola com a placa Nós Fazemos a Sampa+Rural, distribuída para um universo maior, inclusive as 899 feiras livres da capital. “A ideia é dar visibilidade a estabelecimentos que estão usando a produção da própria cidade”, diz Lia Palm, analista de políticas públicas e gestão governamental da prefeitura.
Um dos maiores destaques no segmento de restaurantes é o Arturito (Rua Artur de Azevedo, 542, Pinheiros, tel. 3063-4951.), de Paola Carosella. Fã dos vegetais oferecidos pela Cooperapas, cooperativa de Parelheiros que tem entre seus representantes o geógrafo Arpad Spalding, a chef ampliou significativamente a aquisição dos insumos na pandemia.
“Em 2019, compramos 33 000 reais e, em 2020, foram 120 000 reais. Para que houvesse essa ampliação, criamos o prato dos agricultores, um sucesso do delivery”, explica a cozinheira argentina, que também usa alguns produtos na rede La Guapa Empanadas.
Distante quase 40 quilômetros do endereço de Pinheiros, o Restaurante da Marlene (Estrada Ecoturística de Parelheiros, 6455, Parelheiros, tel. 5921-7443.), que chegou a ter duas unidades em Parelheiros, também compra de vários agricultores agroecológicos avizinhados.
“Depois de um ano fechados e trabalhando só com delivery, reabrimos nesta semana sem festa para evitar aglomerações, num único ponto maior e com mais circulação. Voltamos a servir nossa comida brasileira afetiva: baião de dois, feijoada, frango com quiabo e costelinha de porco com cambuci, prato que criei com essa fruta nativa que tem muito aqui na região”, conta a dona Marlene Pereira Silva, que retomou o negócio com os filhos, entre eles Kelly Francisco, novamente na forma de delivery.
Não é só o Arturito e o Marlene que estão entre os compradores de hortaliças de camponeses locais. A lista inclui cinco lugares no centro expandido: a trattoria Antonietta Cucina (Rua Mato Grosso, 412, Higienópolis, tel. 3214-0079.), a casa de cozinha autoral Corrutela (Rua Medeiros de Albuquerque, 256, Vila Madalena, tel. 3032-2443. ), os variados Mangiare Gastronomia (Avenida Imperatriz Leopoldina, 681, Vila Leopoldina, tel. 3034-5074. ) e Le Manjue Organique (Rua Domingos Fernandes, 608, Vila Nova Conceição, tel. 3034-0631. ) e o japonês Sushimar Vegano (Alameda Campinas, 1287, Jardim Paulista, tel. 3889-0497. ).
Também faz parte desse grupo o brasileiro Mocotó (Avenida Nossa Senhora do Loreto, 1100, Vila Medeiros, tel. 2951-3056. ), na região que o chef e sócio Rodrigo Oliveira gosta de chamar de quebrada. “Compramos hortifrúti de alguns agricultores da cidade. Precisamos lidar com a variabilidade dos produtos para manter o abastecimento. Nem sempre estão disponíveis”, diz o chef.
Além desses restaurantes, os vegetais se encontram em pontos de venda como o Instituto Chão, na Vila Madalena, e o Sabor da Vitória, em São Mateus. Nesse último endereço, as vendas são feitas por Terezinha dos Santos Matos e pelo marido, José Nildon de Matos, ela ex-doméstica e ele ex-gari, que se tornaram celebridades rurais na região ao ocupar um terreno de 6 000 metros quadrados sob um linhão de transmissão de eletricidade, onde cultivam itens como maracujá, couve, milho, taioba e azedinha. Como Terezinha, há outros 67 agricultores credenciados e com os contatos disponíveis em quase todas as regiões da cidade.
Para se informar sobre os participantes dessa iniciativa que visa a uma cidade mais agrícola e ecológica, há a plataforma digital Sampa+Rural. Nela, estão listadas também nada menos que 899 feiras de rua e trinta feiras orgânicas. Quando os riscos sanitários estiverem mais brandos, será possível explorar melhor os dois polos de ecoturismo e a vivência rural que também estão no site.
O mais curioso do projeto denominado Ligue os Pontos, no qual está inserida essa iniciativa, é contar com um financiamento da Bloomberg Philanthropies, conseguido ainda na gestão de Fernando Haddad (PT), que venceu o Prêmio Mayors Challenge (desafio dos prefeitos).
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