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Notas Etílicas - Por Saulo Yassuda

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O jornalista Saulo Yassuda cobre cultura e gastronomia. Faz críticas de bares na Vejinha há dez anos. Dá pitacos sobre vinhos, destilados e outros assuntos
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Riviera retorna e promete mirante para a Paulista; Filial também reabre

Sob o comando do grupo Fábrica de Bares, os tradicionais endereços devem funcionar até altas horas

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Atualizado em 14 jan 2022, 10h14 - Publicado em 14 jan 2022, 06h00
Duas imagens. À esquerda, um bar branco e marrom, com luzes em formato de globo. À direita, várias mesas lotadas de clientes em um bar.
O bar da Paulista e o da Vila Madalena: fechados desde o início da pandemia. (Projetos/Fernando Moraes/Divulgação)
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Se ainda recebêssemos tantas cartas como duas, três décadas atrás, as caixas postais da Vejinha provavelmente ficariam atoladas com uma questão dos leitores: “O Riviera volta?”.  Outra mensagem recorrente sobre o mundo dos bares a sair dos envelopes seria: “O Filial fechou mesmo?”. Se não chegam mais via correio, esses recados choveram pelas nossas redes sociais nos últimos meses. Finalmente, vamos conseguir responder essas perguntas boêmias. Para adiantar: sim, o Riviera retornará e, não, o Filial não encerrou definitivamente.

Embora não tivessem ligação no passado, os dois estabelecimentos queridos na cidade hoje são administrados pelo mesmo grupo, o Fábrica de Bares. E, numa dupla retomada, esses endereços que não recebem o público desde o início da pandemia, há quase dois anos, prometem voltar a funcionar na alta madrugada, algo raro na metrópole.

O Filial fez época na Vila Madalena. Era sinônimo de fim de noite — foi premiado quatro vezes nesta categoria, quando ela existia na edição especial COMER & BEBER — e virou destino de músicos, jornalistas e do pessoal que trabalhava até tarde em restaurantes e passava para tomar a saideira. Aberto em 2000 pelos irmãos Altman, rendeu frutos.

Ganhou os pares Genésio (2002), Genial (2006) e Mundial (2013), bons lugares que, infelizmente, foram fechando aos poucos. O Filial foi o resistente derradeiro, mas sucumbiu aos impactos financeiros da crise do coronavírus e desceu as portas em 2020. Acabou arrematado pela Fábrica de Bares, empresa responsável por dar vida nova a endereços como Bar Léo e Jacaré Grill.

A companhia já flertava com o bar há quatro anos, mas o negócio só vingou na pandemia. “Tentamos assumir também o Genésio, mas não chegamos a um acordo no contrato do aluguel”, afirma Cairê Aoas, sócio do grupo.

A previsão de reabertura ao público é 26 de janeiro, ainda em soft opening. O ambiente de boteco chique, com piso quadriculado, passa por leves ajustes, e uma cozinha foi construída no andar de cima (a produção, no passado, era feita no Genésio, em frente).

Rômulo Morente senta em mesa de madeira pintada na cor vermelha em frente ao Moela
Rômulo Morente, do Moela: consultoria no cardápio do Filial (Clayton Vieira/Veja SP)
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Para montar o cardápio, foi chamado o Moela, melhor boteco da cidade por VEJA SÃO PAULO COMER & BEBER em 2020. Clássicos do Filial, como a coxinha (que — um segredo — não era feita pela casa), tentarão agradar a estômagos nostálgicos. Mas a maioria das receitas é nova, são criações de Rômulo Morente, que se inspirou no antigo menu.

Espere petiscos como pato a passarinho, bolovo de bacalhau e buraco quente de cordeiro. “Podemos usar alguns ingredientes que no Moela não usamos, por nossos preços de boteco, e teremos uma apresentação mais cuidada”, adianta o cozinheiro, que cresceu na Vila Madalena. “Eu era vizinho, ia sempre ao Filial. Foi ali que contei a um dos meus sócios sobre o projeto do Moela, comendo feijoada”, relembra.

A tiradora de chope do Bar Filial Luana Bouve na chopeira do Bar Brahma, em São Paulo.
Luana Bouvié: a nova tiradora de chope do Filial (Leo Martins/Veja SP)

A bebida de lei será chope, como nos tempos áureos. Nessa nova encarnação, tirado por uma mulher, algo raro na cidade em bares tradicionais. A profissional das torneiras é a carioca Luana Bouvié, de 25 anos, que tem treinado o ofício no Léo e no Bar Brahma, casas do grupo. “É importante trazer um protagonismo feminino de alguma forma. Nunca vimos uma mulher na chopeira”, afirma Cairê.

Dos garçons das antigas, por ora, nenhum vai retornar. “Estão todos espalhados em restaurantes, já estabelecidos.” O horário, aleluia, permanecerá na categoria fim de noite. “Até as 2h, durante a semana, e até as 4h, às sextas e sábados”, crava.

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Ambiente do bar Riviera, no Edifício Anchieta, entre a Rua da Consolação e as Avenidas Paulista e Angélica.
Riviera: o bar com balcão sinuoso antes da pandemia (Mario Rodrigues/Veja SP)

Esse espírito notívago também deve estar presente na nova versão do Riviera, que ficará aberto ininterruptamente, com cardápio de desjejum e um menu da madrugada. “Se tem um endereço que pode funcionar 24 horas, é ali, e vamos apostar nossas fichas para tentar manter aberto assim”, diz Cairê.

Cravado em um ponto privilegiado, na esquina da Rua da Consolação com a Avenida Paulista, o lugar surgiu em 1949, no térreo do Edifício Anchieta — e como tem história. Quem lê sobre a trajetória fica sabendo da criação de Rê Bordosa por Angeli em suas mesas, as bebedeiras de famosos como Chico Buarque, as discussões políticas…

Projeto da nova decoração do Riviera Bar
Nova decoração com neons e mobiliário inédito: na esquina da Paulista com a Consolação (Divulgação/Divulgação)

Depois de um triste fim com falta de pagamento de aluguel, em 2006, o bar voltou com pompa em 2013, nas mãos do empresário Facundo Guerra e do chef Alex Atala. Desde lá, teve mudanças societárias e altos e baixos na qualidade — passou ainda pelas mãos de José Victor Oliva antes de, em 2019, ir para o controle da Fábrica de Bares.

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O salão deve reabrir repaginado em 15 de fevereiro. Continuam lá o balcão sinuoso, a escadaria e os azulejos de vidro, mas com uma nova decoração com neons e mobiliário inédito, inspirada no modernismo e na Semana de Arte Moderna de 1922. Esse retrofit custou por volta de 500 000 reais. A grande novidade, porém, ainda parece incerta.

Homem posa entre duas portas pintadas em branco e com detalhe em vidro
Cairê Aoas: sócio do grupo Fábrica de Bares em frente ao Filial. (Leo Martins/Veja SP)

É a construção de um terraço elevado na área externa, uma espécie de mirante para a Paulista. A ideia é instalá-lo sobre a cúpula em uma das entradas da passagem que interliga os dois lados da Consolação, mas o projeto depende de autorização da prefeitura. A ver.

A seleção de comes terá revisitas de pratos da culinária paulista e a carta de drinques será montada pelo veterano Derivan Ferreira de Souza, que vai preparar clássicos e releituras no centro do balcão vermelho, com capacidade para vinte convivas.

Derivan Ferreira de Souza posa na frente de garrafas enquanto segura uma taça de drinque
Derivan Ferreira de Souza: volta a atender o público no Riviera (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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O bartender, que desde o início da pandemia não cuidava de um balcão, conta que sentia falta de ter um contato mais próximo com o público. “Adoro fazer o povo salivar enquanto preparo o drinque e conto uma história”, diz. “Teremos 360 graus de banquetas, haja conversa!” Depois de tanto tempo, a freguesia vai ter muito o que contar.

FILIAL

Ano de abertura: 2000
Onde: Rua Fidalga, 254, Vila Madalena
Vocação: bar para tomar chope, caipirinha e petiscar, sobretudo no fim de noite

RIVIERA

Ano de abertura: 1949
Onde: Avenida Paulista, 2584
Vocação: virou ponto turístico, para bebericar coquetéis e comer sanduíches e pratos

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