Fotógrafo Paulo Vitale retrata chefs de maneiras dificilmente vistas antes
Foram clicados 51 profissionais de cozinha, como Paola Carosella e Bela Gil
O fotógrafo Paulo Vitale costuma dizer: “Sou um péssimo cozinheiro”. Seu verdadeiro talento gastronômico parece ser outro: ler e decifrar as personalidades daqueles que, diferentemente dele, detêm a habilidade de manejar facas e fogão. Em Chefs, o retratista paulistano exibe cinquenta imagens de 51 profissionais da cozinha que atuam no país, boa parte deles à frente de restaurantes da capital.
Publicada pela Editora Brasileira, a brochura de 206 páginas é complementada com 51 receitas e tem apresentação do editor sênior da Vejinha, Arnaldo Lorençato. “Paulo busca inspiração na gastronomia e na personalidade de cada chef e mergulha em suas próprias referências nas artes plásticas para que a foto funcione como um retrato da alma do retratado”, diz Lorençato.
A obra chega às livrarias e lojas virtuais ao preço sugerido de 99,90 reais na quarta (10), no mesmo dia em que ocorre o lançamento para convidados na recém-aberta Casa Capim Santo, no Instituto Tomie Ohtake. Quase todas as fotos do livro foram feitas no estúdio de Vitale, no bairro do Sumaré, e têm uma linguagem única. “A ideia inicial era ter uma estética com uma luz lateral amarelada, do Rembrandt, e uma dramaticidade mais ligada às pinturas de Caravaggio”, explica o fotógrafo.
Os retratados aparecem em situações em que dificilmente foram vistos antes, e a maioria carrega algum ingrediente ou objeto. À la Joana d’Arc, Paola Carosella, do Arturito e da rede La Guapa, segura uma tampa de panela, seu escudo, e uma faca, sua espada.
Revelação pela mais recente edição VEJA SÃO PAULO COMER & BEBER, Bela Gil, do Camélia Òdòdó, inspira o aroma de seu buquê de ervas. “Tem alguns elementos que sintetizam a pessoa”, acredita Vitale, que enaltece o trabalho dos retratados. “Os chefs são gente cascuda, que trabalha sob pressão, e o cliente é um déspota, que está lá, sentado no seu trono, e tem de ser agraciado”, teoriza.
Para produzir as imagens, alguns dos cozinheiros precisaram ser fortes. Paulo Yoller, da hamburgueria Meats, ficou pendurado como um pedaço de boi em um frigorífico, num raro clique fora do estúdio. Felipe Schaedler, do amazônico Banzeiro, foi retratado com um pirarucu na mão e levou um banho de água na cara. “Ele não tinha roupa seca e foi embora molhado”, revela o autor.
Oscar Bosch, dos espanhóis Nit e Tanit, foi apoiado de lado, com um polvo na cabeça, para ganhar o efeito de “molusco ao vento”. “Fiquei com cheiro de polvo uma semana”, se diverte o chef. “Mas foi uma das imagens que mais impactaram no livro”. Não à toa, virou a capa.
Conforme ia fotografando, Vitale postava imagens no Instagram, o que, não raro, rendia solicitações de cozinheiros para participar do projeto. Ele já planeja uma segunda edição, e conta com dezoito fotos prontas de outros nomes, que não couberam no atual lançamento.
A produção de Chefs aconteceu entre 2016 e 2020 e ganhou força no primeiro ano da quarentena, quando o retratista e os retratados tiveram mais tempo. “A pandemia me trouxe uma luz. Não vou deixar meus trabalhos comerciais postergarem tanto meus trabalhos autorais”, promete o autor, que lançou Drags (Editora Brasileira, 120 págs., 99,90 reais) em maio, com fotos de drag queens.
Há, ainda, um compilado de fotografias de cartunistas e mais um de personagens envolvidos em festas populares do interior paulista por vir, entre outros. A conferir.
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Publicado em VEJA São Paulo de 10 de agosto de 2022, edição nº 2801
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