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Vestido vegetal? Marcas e serviços sustentáveis crescem em São Paulo

De cabanas ecológicas a cosméticos em barra, mercado com propostas que não agridem o meio ambiente conquista o público paulistano

Por Humberto Abdo e Pedro Carvalho
Atualizado em 10 nov 2021, 14h51 - Publicado em 5 nov 2021, 06h00

A mensagem da COP26, encontro global que começou na semana passada e vai até o dia 12 em Glasgow, na Escócia, teve um tom de ultimato. “Se a conferência der errado, a coisa toda vai dar errado”, alertou o primeiro ministro britânico Boris Johnson. Para os cientistas, só uma mudança significativa nos próximos dez anos pode evitar que o aquecimento global cause catástrofes extremas. A reunião se passa a 9 600 quilômetros de São Paulo, mas seu apelo ambientalista encontra ecos em diversos novos bares, restaurantes, serviços e produtos da capital — e pesquisas mostram que a onda sustentável cresceu na pandemia.

A saúde e a ciência, afinal, estiveram no centro do debate. “Melhorar a dieta, se exercitar e interagir com a natureza foram temas presentes nesse período e vão perdurar daqui para a frente”, acredita Carlos Fan, diretor da Accenture, consultoria que reuniu dados recentes sobre o consumo. “A parcela de compradores que faz escolhas sustentáveis subiu de 45% para 66% no ano passado e manteve a tendência de alta. Uma das principais conclusões da pesquisa é que estamos mais inclinados a comprar produtos saudáveis, sustentáveis e de comércios de bairro”, ele diz.

A mudança é sentida nos grandes sites de compras. Uma pesquisa do Mercado Livre mostrou um crescimento de 112% no número de pessoas que adquirem itens de “impacto positivo” (que geram benefícios socioambientais) no primeiro ano da pandemia no Brasil. São Paulo lidera os pedidos na categoria “produtos sustentáveis” do e-commerce. O delivery de comida, outra tendência inequívoca, também revela uma busca pela sustentabilidade.

“Nossa produção mais que dobrou nos três primeiros meses da pandemia: de 700 000 para 1 milhão e meio de embalagens”, diz Luiz Silveira, dono da Scuadra, fabricante das caixinhas de papel (mais ecologicamente corretas) de restaurantes como o Rubaiyat e o Mocotó. “Cheguei a ter uma fila de setenta negócios que eu não dava conta de atender. Os restaurantes que usam plástico ou isopor estão preocupados com a imagem”, ele diz. Na inovação dos pequenos negócios (leia alguns exemplos a seguir), São Paulo se aproxima das latitudes de Glasgow.

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REFÚGIO NO MATO

A imagem mostra Ricardo Afiune sentado em um banco de madeira em uma sala repleta de móveis de madeira. Ao fundo, uma varanda que dá vista em um lugar cheio de árvores e verde.
Ricardo Afiune: Cabanas na Cantareira. (Rogerio Pallatta/Veja SP)
A imagem mostra a entrada de uma cabana, feita de madeira. Tem uma pequena escada, de madeira, na entrada.
Afiune: cabanas de até 40 metros quadrados na mata. (Rogerio Pallatta/Veja SP)

Na Serra da Cantareira, casinhas de até 40 metros quadrados nascem nas mãos de Ricardo Afiune, engenheiro especializado em design. Feitas com madeira de reflorestamento e instaladas em meio às árvores, as cabanas não agridem a vegetação local. “Já vendemos três e temos várias em negociação para o próximo ano”, conta Ricardo, que comanda o Estúdio Okko.

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Uma delas serve como hospedagem no Airbnb e outra virou opção de home office para um casal em quarentena. Ficam prontas em trinta dias e custam 5 500 reais por metro quadrado, além dos kits para acesso a energia e esgoto (de 1 500 a 10 000 reais). “Todo mundo se apaixona, é uma inserção direta na natureza.”

ATÉ LIMPA-TÊNIS ECOLÓGICO

A imagem mostra duas fotos. Maior, duas garrafas brancas com o líquido do limpa tênias. Em uma miniatura, uma foto 3x4 de Ana Beatriz Diniz no canto direito da imagem.
Ana Beatriz Diniz, da greener: onda de limpeza da pandemia. (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Em uma fábrica na Zona Leste, Ana Beatriz Diniz comanda uma produção de amaciantes, detergentes e aromatizantes para a casa, todos biodegradáveis e solúveis em água. Inspirada pela empresa sustentável dos pais, ela criou a Greener, que ganhou força com a onda de limpeza incentivada pela pandemia.

“Não foi simples engrenar nesta época, mas trouxemos uma sensação de segurança às pessoas”, acredita. Além de usar embalagens recicláveis, a formulação considera o impacto no meio ambiente. “Eles não criam espuma no oceano e rendem mais”, ela diz. Outra novidade é o limpador de tênis para colecionadores. “É um público que gasta dinheiro para cuidar das peças e nem sempre acha versões ecológicas.”

SEM FRUTA NO LIXO

Gabriel Santana, 32, bartender do ano pelo prêmio COMER & BEBER de VEJA SP, aprendeu a utilizar as sobras dos ingredientes na Suíça, onde trabalhou por oito anos. Após conquistar prêmios com um coquetel que usa todas as partes da goiaba, estendeu a ideia a outras criações do cardápio do Santana Bar, em Pinheiros.

“Uso tudo ao máximo: da borra do café para fazer licor até a parte coada da ameixa no preparo de um gim. Nada da fruta vai para o lixo”, diz. Santana planeja uma iniciativa que vai recolher material orgânico de bares da Vila Madalena para hortas comunitárias.

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A imagem mostra Gabriel Santna, segurando um drink com a mão esquerda, enquanto olha para a câmera sorrindo.
Gabriel Santana: bartender do ano do COMER & BEBER. (Ligia Skowronski/Veja SP)

GENTILEZA URBANA

Há vinte anos, o advogado Danilo Bifone colabora com o meio ambiente à moda antiga: plantando árvores nas calçadas. Com o grupo Muda Mooca, já distribuiu 30 000 plantas. Agora, quer criar jardins de chuva no bairro. “São espaços que absorvem a água”, diz. o mecanismo, inventado no Zimbábue, existe em pontos da capital como a Praça da Bandeira e as avenidas 23 de maio e do estado.

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O DESODORANTE 100% COMPOSTÁVEL

A imagem mostra Marcella, de braços cruzados, em frente a um lugar cheio de plantas verdes.
Marcella Zambardino, da Positiv.a: fabricação mais complexa. (Mônica Fumagalli/Divulgação)

A Positiv.a aposta na economia circular — aquela que reaproveita os produtos. Para aplicar a filosofia aos materiais de limpeza e autocuidado, lida com uma fabricação complexa. “Dependemos de insumos de cooperativas de coleta seletiva nas linhas de produção”, diz a sócia Marcella Zambardino. “Às vezes, é impossível manter o padrão e a cor dos produtos varia.” Entre os mais vendidos estão o tira-manchas feito só com dois ingredientes e o desodorante 100% compostável de embalagem de papel.

XIXI LIMPINHO

A imagem mostra Lara e Fabio, ambos sentados no chão, ao lado de dois cachorros. Na frente deles, os tapetes e outros itens que criaram para os pets.
Fábio Carvalho e Lara Lorga, da Weasy: vídeo com 3 milhões de visualizações. (Evandro Domingos/Veja SP)

Cansados de limpar o xixi das cachorras no apartamento, Fábio Carvalho e Lara Lorga construíram uma engenhoca: um tablado que capta o líquido para ser despejado diretamente no ralo — sem o uso de jornais ou tapetes higiênicos. Com investimento de 5 000 reais, o casal lançou a Weasy, uma bandeja feita com plástico reciclado e uma mangueira.

“Quando filmamos as cachorras usando, o vídeo viralizou e foi visto mais de 3 milhões de vezes”, ela conta. Custa entre 339 e 899 reais. Eles também criaram um bebedouro que se enche sozinho, saquinhos biodegradáveis e até uma descarga que pode ser acionada a distância por um aplicativo. “Hoje, não dá para inventar algo que não respeite as práticas de sustentabilidade”, ela acredita.

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NEM GASOLINA NEM ÁLCOOL

A imagem mostra uma scooter, vermelha, estacionada na vitrine de uma loja.
Nem gasolina nem álcool: bikes e scooters elétricas. (Divulgação/Divulgação)

O sucesso dos veículos elétricos de duas rodas na China inspirou os irmãos Bruno e Rodrigo Affonso a fundarem a Lev, que importa as bikes e scooters com a marca NIU no Brasil. “Lá as motos são feitas para as classes C e D. Eu as usava, pela praticidade, quando morei no país”, diz Bruno.

São Paulo acaba de ganhar uma loja conceito da marca, de 230 metros quadrados, na Avenida Europa. Aqui, as magrelas custam em média 7 000 reais e as motocicletas variam de 18 000 a 29 000. “As motos têm sensores que indicam pelo WhatsApp se existe algum problema”, ele afirma.

SÓ PARA SUSTENTÁVEIS

“Conheci outras realidades nas viagens que fazia com meus pais para Mianmar, China ou Índia; depois, morei na Tanzânia”, conta Mariana Venturini, fundadora do marketplace From Future, um site que só vende marcas sustentáveis. As experiências fora do Brasil a aproximaram de causas sociais e serviram de incentivo para criar o site de vendas, que surgiu em outubro com doze marcas entre roupas, calçados e acessórios. Para controlar o consumismo, o carrinho virtual sempre pergunta: você precisa mesmo comprar tudo isso?

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VESTIDO GELADINHO

Com loja conceito prevista para abrir em dezembro na Oscar Freire, a marca LIVE! encontrou um tecido ainda inédito no Brasil. Chamado de Sorona, ele é feito com glicose vegetal, fonte renovável que não usa combustível fóssil. Serviu de matéria-prima de uma coleção da marca.

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A imagem mostra Joice, de vestido branco, sentado em banco de madeira.
Joice Sens, da LIVE!: tecido de glicose vegetal. (Renan Cristofoleti/Divulgação)

“O desafio foi manter um bom toque e caimento. As peças ficaram geladinhas e não amassam”, descreve Joice Sens, uma das sócias. Ela afirma que a fibra, feita de amido de milho, resulta em menos gases de efeito estufa e consome menos energia. “O mercado têxtil está sendo colocado à prova, pois é um dos setores mais poluentes”, afirma a empresária.

ENTREGA LIMPA

A imagem mostra Elise em cima de uma bicicleta, apoiada com um pé. Ela sorri para a câmera em um ambiente cheio de plantas.
Elise Verheye, da Pecoh: produtos levados de bicicleta. (Divulgação/Divulgação)

Incomodada com a sujeira em um passeio na praia, Elise Verheye tomou uma decisão radical: viver sem gerar lixo em casa. “Foi um desafio: os produtos sustentáveis que eu comprava tinham embalagens descartáveis, alguns vinham de carro”, ela diz. Elise selecionou marcas ecológicas e fundou a Pecoh, serviço de entrega consciente feito de bike na capital paulista. A loja tem itens de cuidados pessoais e apetrechos para a casa, como xampus sólidos e flanelas orgânicas.

BANHEIRO SEM PLÁSTICO

A imagem mostra o sabão da marca BOB. Em miniatura, no canto da imagem, a foto do casal de sócios.
“Dá trabalho ser sustentável no Brasil”, diz sócia Andreia Quercia. (Divulgação/Divulgação)

“Mais de 80% de um xampu é água. Por isso ele precisa de embalagens plásticas e demanda grandes transportes de carga”, diz Andreia Quercia. Para mudar essa equação, ela e o sócio Victor Falzoni criaram a Bars Over Bottles, de cosméticos em barra. “Basta usar a água encanada de casa, é mais eficiente e econômico”, ela explica. Sem tantos fabricantes adaptados à proposta, a dupla desenvolveu os próprios produtos, como máscaras capilares, xampus e limpadores faciais. “Ainda dá trabalho ser sustentável no Brasil”, afirma a empresária.

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Publicado em VEJA São Paulo de 10 de novembro de 2021, edição nº 2763

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