Filas que valem a pena em São Paulo
Como amenizar a espera nos maiores sucessos da capital, como a exposição do <em>Castelo Rá-Tim-Bum</em>, no MIS, onde as pessoas chegam a aguardar até quatro horas antes de entrar
Quem já não ouviu a história de que paulistano não resiste a entrar em uma fila, muitas vezes sem saber sequer a finalidade dela? A piada é boa, mas a realidade não é bem assim. Na hora do lazer, as pessoas que vivem na metrópole só costumam encarar uma loooonga espera quando o programa vale muito a pena. Ocorre que a temporada está especialmente pródiga em eventos imperdíveis e com potencial para atrair multidões. No domingo (20), por exemplo, uma apresentação no Shopping Eldorado com “Buddy” Valastro, o confeiteiro-celebridade do programa Cake Boss, do canal Discovery Home & Health, provocou tumulto no local, tamanha a quantidade de gente que queria ver de perto o apresentador (a administração do centro de compras calculou em 1 000 pessoas o público no estabelecimento). A movimentação também congestionou a Marginal Pinheiros, que registrou uma lentidão de 12 quilômetros por volta das 18 horas daquele dia.
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Outras provas de resistência consideráveis têm sido exigidas de quem tenta conferir algumas das mais disputadas exposições em cartaz por aqui, a exemplo de Obsessão Infinita, da japonesa Yayoi Kusama, no Instituto Tomie Ohtake, em Pinheiros, com entrada grátis. Desde a sua abertura, em maio, passaram pelo local cerca de 500 000 pessoas para apreciar as imagens belíssimas e, ao mesmo tempo, incômodas, criadas com bolinhas pela artista de 85 anos, retratando temas como a morte e o sexo. Nos horários de pico, cerca de 2 500 pessoas penam por até quatro horas na porta. Vencida essa etapa, há ainda as filas das salas internas, que podem levar mais de uma hora e meia. O sufoco deve aumentar neste fim de semana, o último da mostra. Entre o sábado e o domingo (dias 26 e 27) são aguardados por lá quase 40 000 frequentadores. “É ótimo despertar esse interesse em um público desse tamanho, principalmente quando percebemos que muitos não costumam ir a ambientes do tipo”, afirma Vitoria Arruda, diretora de produção do Instituto Tomie Ohtake.
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Com tanta demanda em torno de uma atração, não existe mágica para driblar a espera, mas há meios de amenizar o sufoco (confira os detalhes nos quadros ao longo da reportagem). No caso da exposição de Yayoi Kusama, a sugestão é chegar ao local antes das 10 da manhã, uma hora antes da abertura do instituto. O tempo para entrar no local cai pelo menos pela metade e é possível evitar as filas internas. Há também outras boas alternativas para não perder a paciência na hora de enfrentar a procura por outros blockbusters culturais do momento. Um deles, a exposição sobre o Castelo Rá-Tim-Bum no Museu da Imagem e do Som (MIS), atrai cerca de 2 000 pessoas nos horários de pico, quando é preciso aguardar até quatro horas para entrar no espaço. Nas terças-feiras é mais complicado, pois a entrada é gratuita (nos demais dias, o bilhete custa 10 reais). Como a procura tem sido bem acima do esperado, tamanha a quantidade de gente ansiosa para entrar no cenário interativo que reproduz minuciosamente as peças originais do reino da fantasia onde viviam Nino e seus amigos, a administração do lugar ampliou recentemente o horário de visitação e passou a vender ingressos por período. Dessa forma, a melhor estratégia é reservar uma parte do dia para ir ao local. “Se o ingresso for comprado às 11 horas para a entrada às 3 da tarde, dá para passear nesse intervalo, em vez de ficar parado na fila”, exemplifica André Sturm, diretor do MIS. Foi o que fizeram as amigas Tamirez Maziero, de 21 anos, e Gabriela Faria, de 19, que chegaram às 9 horas do último domingo (20) e conseguiram ingresso para as 18 horas. O dia correu em função da exposição, mas deu para encaixar um almoço no bairro e uma caminhada pelo Parque do Ibirapuera.
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No caso de outro hit da temporada, a mostra de OSGEMEOS na Barra Funda, já se esperava mesmo um enorme interesse antes da abertura. Além de os protagonistas serem os mais festejados grafiteiros do país, a entrada é gratuita. As duas coisas explicam o tempo de espera de até duas horas e meia na portado Galpão Fortes Vilaça, que abriga a atração. Nesse caso, o recomendável é evitar a todo custo os fins de semana. Aos sábados, o público é tão grande que, apesar de a galeria baixar as portas apenas às 18 horas, a fila se encerra às 15 horas. Assim, todos que encararam a espera conseguem entrar no lugar, sem voltar frustrados para casa. Fora do fim de semana, a procura é bem menor pela manhã. Além disso, as filas só são encerradas após as 16 horas entre terça e sexta.
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Algumas baladas e certos endereços do circuito gastronômico são capazes de submeter os frequentadores ao mesmo teste de paciência das grandes exposições. Sem nenhuma disposição para a espera, as irmãs Tainá e Thaís Mendes, que costumam sair acompanhadas da amiga Daiane Nogueira, lançam mão da clássica estratégia de usar os belos olhos para furar a fila. Assíduas frequentadoras da balada Blitz Haus, na Consolação, point de jovens fãs de rock, elas chegam ao local quando mais de 200 pessoas já se aglomeram por ali. Em vez de irem para o fim da fila, ficam próximo da porta. “Alguém sempre puxa papo e acaba nos convidando para entrar junto”, conta Thaís, que, assim, economiza pelo menos uma hora na noite. Outra estratégia recomendável é chegar cedo, bem cedo. Até as 21 horas, ninguém enfrenta sufoco. Outra vantagem: o endereço oferece boa infraestrutura para quem precisa matar o tempo enquanto a pista não enche. Tem restaurante, mesa de pebolim e fliperama à disposição dos frequentadores.
Para apaziguar a fome de quem chega ao bar Veloso, na Vila Mariana, o 2º andar foi adaptado e a cozinha, ampliada. Agora ela comporta a produção de até 4 000 coxinhas por dia, o dobro do que era feito antes da reforma. As seis mesinhas colocadas na rua dão conta de atender quase todos os fregueses em espera, e rodadas de chope são oferecidas constantemente. A solução funciona tão bem que muitos clientes não se importam de ficar em pé e passam a noite toda ali. O estudante Alisson Motta, de 21 anos, por exemplo, é um grande fã da área. Nos fins de semana, bate ponto no local e aproveita para abordar grupos só de garotas. “É melhor que balada”, garante.
No Mocotó, na Zona Norte, as filas à porta já ficaram tão famosas quanto os pratos caprichados da culinária brasileira vendidos a bons preços. Uma das frequentadoras, Renata Negri, de 27 anos, soube tirar proveito da espera. Quando decidiu o lugar para o primeiro encontro com o gerente Bruno Antônio, 29, que havia conhecido no fim de semana anterior em uma festa, não teve dúvida: propôs o restaurante. “Queria um lugar onde a gente pudesse conversar bastante, sem pressa.” Acertou. Foram três horas de bate-papo, entre goles de chope e porções de torresmo, até que eles pudessem se sentar. Para acomodar os clientes com mais conforto, está em construção uma praça de espera, que terá bancos e árvores, com previsão de entrega para o começo do ano que vem. O investimento se mostrou necessário depois que outra estratégia com a mesma finalidade fracassou. Em maio do ano passado, foi aberto o Esquina Mocotó, que fica ao lado. Imaginava-se que o estabelecimento aliviaria um pouco a procura pela matriz. O que era uma fila agora são duas. Aos sábados e domingos, o endereço mais recente tem espera de pelo menos uma hora. A diferença é que o Esquina Mocotó aceita reserva para almoço e jantar.