Teste do hashi: os melhores rodízios de comida japonesa
Avaliamos dez festivais de cozinha oriental em São Paulo; o Kibô Sushi, no Itaim Bibi, foi o melhor
Tremendo sucesso desde o aparecimento nos anos 90, o rodízio de sushi é creditado como uma invenção tipicamente paulistana. Devem ter sido fonte de inspiração para esse modelo de serviço de culinária os restaurantes de estilo tabehodai do Japão, de proposta parecida.
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Nesses lugares, muito comuns em metrópoles como Tóquio, paga-se um preço fixo para comer à vontade. Originalmente, o serviço por aqui era uma oportunidade e tanto para apreciar sem limites para a gula uma culinária cara — para se ter ideia, uma degustação no Kan, o melhor restaurante da categoria pela edição especial “Comer & Beber”, custa salgados 200 reais. Com pratos quentes, o valor vai para 230 reais.
Nos últimos dois meses, visitei dez restaurantes selecionados entre aqueles publicados no Roteiro da Semana para compor o ranking abaixo, no qual se sagrou campeão o equilibrado Kibô Sushi, no Itaim, seguido de pertinho pelo Mori Sushi Ohta, de notável inventividade.
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Aberto em 2011, o vencedor pertence a Milton Eiji Toyoshima, que trabalhou em casas como o ótimo Shin-Zushi, no Paraíso. É um dos mais caros do mercado (76 reais), mas o capricho da cozinha vale o investimento. De lá, saem invenções como o ótimo temaki de atum apimentado. O vice-líder Mori Sushi Ohta, derivado do quase lanterninha Mori de Perdizes, com o qual rompeu sete anos atrás, está sempre cheio de uma moçada barulhenta e tem o comando do sócio Fernando Ohta. O rodízio acaba de ganhar a primeira filial, inaugurada no Itaim em 26 de abril.
As avaliações, realizadas sempre no jantar ou no almoço de fim de semana, quando se acrescenta um número maior de sugestões, foram feitas de maneira anônima, com as contas pagas pela revista. Levei em consideração itens como o frescor dos pescados, a qualidade e o tempero do arroz, a apresentação e a variedade dos demais pratos, o ambiente e o serviço. Pode-se repetir quase tudo sem restrição, com exceção das fatias de peixe cru.
As opções são muito semelhantes em quase todos os endereços, assim como a tediosa oferta de pescados. Se antes era possível encontrar uma variedade maior de peixe, a seleção resume-se hoje quase sempre a um peixe branco (prego ou tilápia na maioria das vezes), ao atum e ao salmão, o líder disparado da preferência.
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Não faltam itens quentes, como teppan-yaki (grelhado de carne, peixe ou frango), guioza (pasteizinhos de carne de porco ou vegetais), yakissoba (macarrão frito com legumes) e tempurá, quase sempre de legumes. O missoshiru, caldo de peixe com pasta de soja, aparece só se solicitado. Essas sugestões são despejadas na mesa quase todas juntas. Também não demora a aparecer o temaki, cone de alga recheado de arroz e peixe em cubos.
Outra pedida que tem dado pinta nessas casas, o ceviche passa bem longe da receita original peruana. Sashimis e sushis chegam logo depois, seja na forma de um combinado, seja servidos por garçons ou garçonetes. Muitos bolinhos têm um sabor intragável de cream cheese. Os hot rolls não raro carregam gosto de fritura. Felizmente, as melhores casas não costumam repetir esses erros comuns. Agora, é escolher uma delas e pôr o hashi em ação.
O RANKING DOS RODÍZIOS JAPONESES
(clique no nome de cada estabelecimento para mais informações)
1º. Kibô Sushi (76 reais): mais de quarenta itens compõem o equilibrado menu, que permanece o tempo todo sobre a mesa. Embora não leve o tempero peruano clássico, o tiradito de tilápia é uma delícia. Outro acerto, o tataki de salmão vem no molho de shoyu e laranja. O temaki de atum apimentado é dos melhores da cidade.
2º. Mori Sushi Ohta — Jardins (79 reais): quer se dar bem? Pule o excesso de maluquices com cream cheese. O ussuzukuri, uma espécie de carpaccio de salmão, é dos melhores, assim como o tartare de atum. Se der sorte, encontrará entre os peixes na forma de sushi a dourada e a tainha. E também avance no duo de lula e prego grelhados.
3º. Kozaka (50 ou 55 reais): todos os pratos quentes têm um tempero de jeitão caseiro. O yakissoba vence todos os outros do ranking, bem como o ótimo tempurá, cuja apresentação nem chega a empolgar. Dos sushis, prefira os enrolados de ovas e o hot roll de salmão. Os demais, em formato de bolinho, são pesadões.
4º. Aoyama — Itaim (68,90 reais): do Itaim, a casa se espalhou por outros quatro endereços, dedicados a servir só rodízio desde janeiro. Por eles passam milhares de clientes por mês. Há múltiplas variações de bolinho de arroz com salmão, algumas bem sem graça pelo excesso de cream cheese. Vá de teppan-yaki de picanha e de tonkatsu, a milanesa de porco.
5º. SassáSushi (67,90 reais): não estranhe se notar temperos pouco asiáticos na cozinha do chef Alexandre Saber, o Sassá. A chapa mista de lula e camarão pequeno, por exemplo, tem um sabor meio provençal. Depois de provar os caprichados bolinho de peixe e o rolinho primavera de legumes, escale o sashimi de atum.
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6º. Yabany (71,90 reais): após a recepção calorosa, ocupe uma mesa no salão moderninho. Na série de acertos, aparecem o sashimi de salmão com raspas de limão-siciliano e o enrolado de acelga. Só pule o tempurá de legumes e o guioza. Os provados na visita estavam tão gelados que pareciam ter sido fritos na véspera.
7º. Manihi Sushi — Perdizes (74,90 ou 89 reais): quatro anos atrás, quando foi montado originalmente como Taj, era um dos melhores rodízios da cidade. Ainda que continue oferecendo itens caros, como tempurá de camarão benfeito, não empolga o insosso sushi do mesmo crustáceo. O bolinho dyo de salmão é sufocado pelo excesso de molho tarê.
8º. Dhaigo — Itaim (68 reais): o vice-campeão na pioneira eleição de melhor rodízio de VEJA SÃO PAULO em 2006 perdeu o fôlego. Continua com atendentes, agora meioimpacientes, que levam os sushis à mesa. Funciona bem o de atum batido picante. Grelhados na medida, os espetos de berinjela e abobrinha agradam. Fuja do yakissoba de massa molenga.
9º. Mori — Perdizes (50,50 ou 65 reais): hoje rompidos, nem parece que essa casa deu origem ao vice-campeão deste ranking. Caso ocupe uma das salas do piso superior, terá de laçar os garçons, que desaparecem e com eles, a comida. Resultado: a anchova grelhada chegou fria e o guioza veio borrachudo. Bem, dá para encarar o temaki de atum.
10º. Sea House (57,90 reais): nasceu como peixaria, tornou-se restaurante à la carte e, finalmente, aderiu ao rodízio. Embora seja barato, sai caro, uma vez que os erros se repetem no tempurá muito gorduroso, no sushi de arroz quase sem tempero, no temaki de alga-chiclete… Salvou a noite o sashimi de olho-de-boi.