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Grupo abre complexo gastronômico de R$ 14 milhões na Zona Leste

Chamado de Vila Anália, espaço de 4 000 metros quadrados tem profissionais estrelados, restaurante, bar, empório e confeitaria

Por Saulo Yassuda Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 27 Maio 2024, 22h04 - Publicado em 29 abr 2022, 06h00
Quatro homens brancos e magros, sócios do Vila Anália, posam em frente ao estabelecimento. Dois estão sentado, à frente, e outros dois estão em pré, atrás. O ambiente é iluminado por luz amarela atrás.
Danilo e Guilherme (de pé) e Vitor e Marcus: sócios e membros da família Temperani (Wanezza Soares/Veja SP)
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Um destino. Não só para moradores da Zona Leste ou da cidade, mas também a turistas de todos os cantos do mundo. É assim que os donos do Vila Anália enxergam esse empreendimento gastronômico, com a abertura prevista para a quinta (5). Trata-se de um complexo arrasa-quarteirão de 4 000 metros quadrados instalado na esquina das ruas Eleonora Cintra e Cândido Lacerda, num pedaço em que o Tatuapé e o Jardim Anália Franco se confundem.

É composto de três restaurantes, um bar, uma confeitaria, um empório, um rooftop e dois pisos de estacionamento, somando 120 vagas. Praticamente um multiplex da gastronomia. A capacidade é de acomodar 980 clientes de uma vez e as projeções são de que passem por lá 3 500 pessoas por dia. É aquele tipo de negócio culinário que quem circula pela área ainda não está habituado a assistir — mesmo aquela sendo a região da cidade que abriga o maior edifício residencial da capital, o Platina 220, com 172 metros de altura. O investimento estimado ultrapassou os 14 milhões de reais, e ainda pode subir. “Nem quero pensar nesse valor, quero abrir logo”, desabafa o porta-voz do grupo, Guilherme Temperani.

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O projeto, gestado antes da pandemia, começou a ser construído em fins de 2020. Ocupa o que foram quatro imóveis, que vieram abaixo para que o local fosse levantado do zero — ou do -2, já que foram construídos dois pavimentos subterrâneos. O projeto de arquitetura ficou a cargo do badalado escritório de Otavio de Sanctis, que concentra boa parte dos trabalhos em bairros como o Itaim Bibi e Pinheiros. “O maior desafio foi fazer as linguagens de diferentes universos em um espaço único sem parecer brega, sem parecer praça de alimentação”, afirma o arquiteto.

Foto de parte do ambiente do Vila Anália. Em um amplo salão, há um balcão coberto por uma estrutura de madeira, com lustres em forma de círculos planos em cima. O ambiente é aconchegante, pois a luz amarela ilumina as partes escuras. Na estrutura de madeira, há um painel com dizeres em neon azul
Restaurante Temperani Cucina: um dos estabelecimentos do complexo (Wanezza Soares/Veja SP)

Visitar o Vila Anália é quase como ir a um shopping feito só para comer e beber. O conceito tem um quê de Eataly da Zona Leste, dada a variedade de estabelecimentos sob um mesmo teto, mas sem o mercado como ponto central. Há, sim, um empório de pratos para viagem e bebidas, mas sem tanto destaque. O foco mesmo são os salões de refeições, onde o tíquete médio vai variar de 140 a 230 reais. O conceito lembra mais negócios como o Bairro do Avillez, um complexo de quatro operações tocado pelo chef celebridade José Avillez, em Lisboa. Aqui em São Paulo, há poucos endereços do gênero. O Levels, no Itaim Bibi, é um deles, mas em menor escala.

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Quem chega ao número 33 da Rua Cândido Lacerda depara com o “lobby”, onde fica o bar. É uma espécie de praça central, de onde se pode ir para todos os outros espaços. Lá fica cravado o bar Tapas 93 (não só no nome, tem o menu também parecido com o famoso Tapas24, de Barcelona). Por dois extensos balcões de 30 metros de comprimento cada um, serão servidos petiscos espanhóis com receitas de Ligia Karazawa e Eduardo Portilho e coquetéis de Márcio Silva, bartender campeão de VEJA SÃO PAULO COMER & BEBER em 2017 e em 2019. Esse espaço poderá funcionar como espera para os restaurantes que o circundam.

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O italiano Temperani Cucina — o nome faz referência ao avô do sócio Leopoldo Temperani Filho, um dos fundadores da hamburgueria Dizzy e do restaurante O Caipira, ambos na Zona Norte — terá cozinha tocada pelo chef Antonio Maiolica, natural de Salerno, na Itália, e egresso do extinto Alto Cucina, no Itaim Bibi. Ele botou no menu pratos como rigatoni cacio e pepe e bisteca à fiorentina, servidos em um ambiente informal, com um painel comprido em que a receita de um carbonara “espagueteia” pelo alto do salão em neon azul. Uma pedra gigante, um seixo de rio grande trazido do Sul ao custo de 16 000 reais, está cravado num dos cantos do local, com metade virada para a rua. Serve como amuleto da sorte para os sócios e para a futura freguesia.

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Outro ocupante do prédio é o Merci Brasserie, dono de um tipo de culinária quase inexistente no bairro: a francesa. Com paredes folheadas a ouro, terá uma pequena varanda, enfeitada com oliveiras. O cardápio, montado pelo chef Thiago Cerqueira Lima, experiente nesse estilo de cozinha e figurinha carimbada em consultorias em bairros como Itaim Bibi, incluirá escargot e foie gras à ZL.

O japonês Susume será escuro e servirá sushis à la carte, sob os cuidados de Fabio Sinbo, que já passou por casas como o Kinoshita. “Vamos ter iguarias como wagyu e vieiras”, orgulha-se o sócio Danilo Temperani. “Descontando uma temakeria, é o único japonês à la carte do bairro”, jura Guilherme. O ambiente impressiona pela quantidade de bambus que forram fachada e teto. São 10 000 peças, que demoraram três meses para ser aplicadas. Além do acesso pelo bar, os três restaurantes vão possuir entrada independente, com fila controlada via aplicativo.

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O empreendimento abriga ainda um mix de confeiteria e gelateria logo na portaria principal, a Vila Anália Pâtisserie, sob a supervisão do confeiteiro Pedro Frade. No mezanino, ficam o empório, a charutaria e a loja de taças da austríaca Riedel. Acabou? Não. Na cobertura aberta, será montado o bar-restaurante MII Rooftop, de inspiração grega. Com pratos de frutos do mar e coquetéis, deve ser o último a abrir, em agosto.

Complexo Vila Anália visto de fora, em uma esquina de uma rua. Parte da estrutura é de madeira e a mesma luz amarela aconchegante ilumina a calçada
Parte do complexo visto de fora: espaços passam por finalização até a abertura, que deve rolar na quinta (5) (Wanezza Soares/Veja SP)

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Não foi fácil montar a seleção de profissionais — são, ao todo, mais de 200 colaboradores, entre os quais figura ainda o sommelier Ricardo Santinho. “Fizemos testes com mais de trinta chefs”, calcula Guilherme Temperani, que chegou a provar até quatro menus degustação de um só candidato junto dos sócios. “Para bartender, foram sete tentativas.”

Na montagem da equipe, o grupo contratou a consultoria da Favo Hospitalidade, que auxiliou ainda no plano de negócios e na escolha de equipamentos. “Temos um modelo hoteleiro de operação”, resume Thiago Ramos, sócio-diretor da Favo. O espaço terá uma cozinha central, capitaneada pela chef-executiva Ligia Karazawa, que teve uma experiência no Eataly. De lá, sairão as bases que cada operação finalizará. “Os sócios levaram em conta a técnica e o momento profissional de cada chef e a vontade deles em mudar a cena do bairro”, diz Ramos.

Interior do restaurante francês Merci, no Vila Anália. Com paredes de madeira lustres aredondados e minimalistas, o local tem mesas redondas e cadeiras de madeira
Restaurante francês Merci: acabamento dos últimos detalhes (Diego Freire/Veja SP)

Criado na Vila Maria, o empresário Guilherme Temperani, 35, lidera o grupo de sócios, com idades entre 31 e 36 anos. São todos primos dele: os irmãos Danilo e Vitor mais Marcus Cianelli Temperani. Ex-promoter de baladas, o porta-voz, que não chegou a terminar o ensino médio, já teve diferentes profissões — até jornal de bairro manteve. Começou a investir na gastronomia na onda das paletas mexicanas — aqueles picolés que derreteram e sumiram, sabe?

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Abriu com o trio a Los Primos, na região, vendida pouco mais de dois anos depois. Com o dinheiro, investiram em 2015 em um antigo sonho: montar, também no Tatuapé, o Macaxeira, um decalque do restaurante Mocotó, na Vila Medeiros. A casa fez tanta fama que hoje tem seis franquias. O segundo passo foi montar, em 2019, o grandioso URU Mar y Parrilla, endereço de grelhados na vizinhança com boa matéria-prima, mas de resultados irregulares. Estão longe de ter a ambição do Vila Anália, mas vivem cheios.

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Grupo de chefs do Vila Anália. Todos são brancos e magros. São nove homens e uma mulher. Alguns estão sentados na escadaria, outros em pé. Alguns usam roupas sociais, outros aventais por cima do traje
(Eduardo Frazão/Veja SP)

TIME DE GARFO E COPO

1. Márcio Silva (bares) 

2. Ligia Karazawa (chef-executiva do grupo)

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3.  Fabio Sinbo (chef do Susume)

4. Eduardo Portilho (chef do Tapas 93)

5. Thiago Cerqueira Lima (chef-executivo do Merci Brasserie) 

6. Ricardo Santinho (sommelier do grupo)

7. Pedro Liberalesso (chef de produção da pâtisserie)

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8. Brenno Floriano (gelatos)

9. Pedro Frade (chef-confeiteiro executivo)

10. Antonio Maiolica (chef-executivo do Temperani Cucina)

O novo projeto previa apenas um italiano e um japonês no começo e acabou crescendo — os percalços por que passou boa parte do setor por causa da crise sanitária não abateram os empresários. “Parte do pessoal que estava em home office continua trabalhando em casa, o que gerou um movimento muito bom no bairro, principalmente no almoço”, acredita Guilherme. “A gente sempre teve a vontade de quebrar essa rota de gastronomia só na Zona Sul.”

O consultor Thiago Ramos faz coro: “O público do Anália Franco tem um potencial que eu via nos Jardins há dez anos: menos comedido. Vão abertos a consumir, pedir um champanhe e fazer um investimento, com entrada, prato e sobremesa”. Com a intenção de tornar o complexo um ponto turístico, Guilherme confia também na força local. “É diferente de chegar a um lugar onde já construíram tudo, já fizeram tudo e onde aquele tipo de negócio já existe. Quando você participa da mudança, você vira parte daquilo”, acredita.

As sete operações

Temperani Cucina

Segundo maior restaurante do complexo, é um italiano com menu assinado por Antonio Maiolica e um pastifício à vista.

Merci Brasserie

De paredes com folhas de ouro, o francês tem como chef-executivo Thiago Cerqueira Lima.

Susume

Pelo salão escurinho decorado por bambus, circularão os sushis de Fabio Sinbo. Também há balcão para degustações.

Tapas 93

O cardápio feito pelos chefs Ligia Karazawa e Eduardo Portilho é composto de tradicionais petiscos espanhóis. Márcio Silva responde pelos drinques.

Vila Anália Pâtisserie

Balcões exibem gelatos à moda italiana por Brenno Floriano e sobremesas por Pedro Frade.

Empório Vila Anália

Massas e molhos de fabricação própria serão vendidos no espaço, que também tem vinhos selecionados pelo sommelier Ricardo Santinho.

MII Rooftop

O bar-restaurante grego ocupará a cobertura. Será o maior espaço do lugar, com drinques e frutos do mar.

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Publicado em VEJA São Paulo de 4 de maio de 2022, edição nº 2787

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