Com rachas e dissidências, eleição no MP paulista é antecipada
Saída de Mário Sarrubbo para ocupar cargo na gestão Lula abriu espaço para cinco candidatos
A decisão do novo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, de nomear o procurador-geral de Justiça paulista, Mário Sarrubbo, para o cargo de secretário nacional de Segurança Pública, levou os postulantes a chefe do Ministério Público (MP) a antecipar suas campanhas. Marcada para 13 de abril, a eleição, em situações normais, começaria a esquentar depois do Carnaval, mas com o anúncio da ida de Sarrubbo para Brasília, ainda sem data para ocorrer, as disputas foram adiantadas em algumas semanas. Por ora são cinco os procuradores de Justiça candidatos à sucessão do comando do MP: José Carlos Cosenzo e Paulo Sérgio Oliveira e Costa (ligados ao atual procurador-geral), Tereza Exner (se apresenta como independente, mas possui a simpatia de Sarrubbo), além dos opositores (e exaliados) Antonio Carlos da Ponte e José Carlos Bonilha.
A inusual escolha de dois nomes para compor o grupo aliado de Sarrubbo é vista nos corredores do prédio da Rua Riachuelo, 115, na Sé, de duas maneiras: como forma de aumentar as chances de os dois candidatos comporem a lista tríplice que será enviada ao governador Tarcísio de Freitas, mas também devido a uma possível falta de união entre os membros da situação. “O Sarrubbo tomou a decisão de apoiar nós dois porque trata-se de uma eleição com lista tríplice e ele entendeu que não deveria fechar apoio em um único nome, apesar de muitos terem essa expectativa”, afirma Paulo Sérgio Oliveira e Costa, ex-diretor da Escola Superior do Ministério Público.
A despeito de ser visto como um dos favoritos, não apenas pelo apoio de Sarrubbo, mas pelos anos de contato com os jovens promotores, Costa evita falar em predileções. “Tenho muito apreço pelas turmas, mas como ex-diretor eu não posso cobrar dos promotores qualquer contrapartida. São pessoas com maturidade.” Procurado, José Carlos Cosenzo não concedeu entrevista.
No lado da oposição, o nome de Antonio Carlos da Ponte desponta como favorito por dois motivos: ele foi o mais votado na eleição de 2020 (obteve 1 020 votos, contra 657 de Sarrubbo), mas o então governador João Doria optou pelo menos votado. O segundo motivo é que Ponte mostra-se como o candidato mais identificado com o bolsonarismo e possui contato direto com Tarcísio de Freitas. “A Constituição atribui ao governador a escolha do procurador-geral e vejo que ele tem adotado posturas republicanas desde a posse”, desconversa Ponte, que não está sozinho na oposição.
Membro do Conselho Superior do MP, o procurador José Carlos Bonilha se distanciou de seus quatro pares opositores (incluindo Ponte) após algumas votações no órgão que desagradaram seus colegas. Em campanha desde a última semana, Bonilha confirma as rusgas com o grupo, mas diz que há espaço para as duas candidaturas. “No exercício do mandato (no Conselho Superior) surgiram divergências intransponíveis. Respeito a opinião dele (Ponte), mas tenho proposta clara. Eu não fui preterido no passado, como aconteceu com ele, jamais fui candidato a procurador-geral”, diz Bonilha, que também critica o fato de o colega ter deixado o cargo para assumir um posto no primeiro escalão do governo estadual, em 2012.
Correndo por fora, a procuradora Tereza Exner, que atuou como corregedora-geral do MP, se apresenta como independente. Dizendo-se amiga de Sarrubbo, afirma não atuar em nenhuma coligação. Exner começou a fazer campanha somente de forma virtual, enquanto seus concorrentes já começaram a percorrer o estado. “Não consigo me deslocar agora, mas mais para a frente eu pretendo sair de férias para poder viajar”, afirma.
Enquanto se preparam para as urnas, os cinco postulantes iniciaram as conversas para a segunda parte do processo, a escolha pelo governador. Para isso, secretários como Gilberto Kassab (Governo) e Guilherme Derrite (Segurança) são algumas das pontes mais procuradas no Palácio dos Bandeirantes, assim como deputados estaduais. Para ocupar o cargo mais importante do Ministério Público, o próximo procurador-geral precisará ser bom de voto e de bastidores.
Publicado em VEJA São Paulo de 2 de fevereiro de 2024, edição nº 2878