Marcel: o ponto final na história de um dos restaurantes franceses mais tradicionais de SP
Proprietários anunciaram nesta tarde a interrupção nas atividades do bistrô que acaba de completar 65 anos
Esse pode ser considerado um ano terrível, talvez um dos piores da história recente da gastronomia. Nesta semana, publiquei um longo artigo na versão impressa de VEJA SÃO PAULO com um balanço de restaurantes, bares e endereços de comidinhas encerrados por causa da pandemia (clique aqui para ler). Infelizmente, o número de fechamentos não para de crescer. Vem ampliar essa lista, e escrevo essa nota com imensa tristeza, um dos mais importantes restaurantes franceses de São Paulo. Num comunicado publicado em redes sociais no início da tarde desta terça (7), o chef Raphael Durand Despirite anunciou o encerramento do Marcel.
Fundado por Marcel Aurières em 9 de maio de 1955 originalmente na Rua Epitácio Pessoa, no centro, o bistrô, que acaba de completar 65 anos, está nas mãos da família do francês Jean Durand (1912-1994) desde 1969 e fixado no térreo de um hotel nos Jardins desde 1994 (clique aqui para ler). Foi Jean quem celebrizou a casa pelos suflês, até hoje ótimos e uma atração do cardápio.
Não temos um grupo por trás do restaurante, é só a família mesmo. Não conseguimos operar como operávamos antes
Raphael Durand Despirite
Em 2004, depois estudar na escola parisiense Ritz Escoffier, Raphael Durand Despirite, neto do cozinheiro, assumiu o controle dos fogões da casa. Tinha apenas 20 anos na época. Ao longo desse período, ele manteve os clássicos introduzidos pelo avô, bem como incluiu as próprias receitas, demonstrando talento autoral.
Conversei com Raphael, que está abalado com a decisão. “É horrível ter que tomar essa decisão. A esperança é que tivesse um roteiro de começo, meio e fim. Mas não tem outra solução. O Marcel se tornou inviável no formato que está”, lamentou o chef com a voz embargada. “A gente está no térreo de um hotel que não tem mais movimento. Não sou o cara dos números. Meu pai (Demerval Despirite) sempre foi o homem dos números dentro do restaurante. Minha família perdeu toda a fonte de renda. A gente tentou segurar, mas não teve o que fazer. Acho que existe um monte de gente nessa situação. Não temos um grupo por trás do restaurante, é só a família mesmo. Não conseguimos operar como operávamos antes.”
A opção foi a de interromper as atividades. Mas vamos voltar na hora que houver mais segurança, talvez em outro formato
Raphael Durand Despirite
Como muitos outros bons endereços, o restaurante não teve fôlego para permanecer fechado por mais de três meses. “Não temos segurança do que vai acontecer daqui para frente. Vou seguir com o Fechado para Jantar (evento que ocorre sempre em lugares inusitados, o último deles no Farol Santander). Estamos vendo o que fazer no Dia dos Pais. Também penso no Marcel Pop-up”, planeja. Em meio a tamanha adversidade, Raphael não pensa em desistir. “A opção foi a de interromper as atividades. Mas vamos voltar na hora que houver mais segurança, talvez em outro formato”, acredita.
O Marcel era ao mesmo tempo tradição e inovação. Raphael continuava a reproduzir os pratos do avô num cardápio com datas, marcando ou a criação ou a introdução daquela receita. Além do clássico suflé de queijo gruyère, vão deixar saudades, ao menos por enquanto, o steak tartare bem picante e o polvo confitado com purê de batata, essa uma autoria de Raphael. Que a despedida do Marcel se resuma em um até breve.
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