O mundo da carne por Dario Cecchini
O especialista em cortes bovinos, que comanda uma minichurrascada na rede Pobre Juan, responde seis perguntas em primeira mão
Uma das boas redes de churrascarias da capital paulista, com foco em cortes ao estilo do Prata, a Pobre Juan completa dezoito anos. Para celebrar a data, traz a São Paulo o especialista em carnes italiano Dario Cecchini, proprietário da Officina della Bistecca, na cidadezinha de Panzano in Chianti, na região da Toscana. Essa é a segunda vez que o grupo traz Cecchini ao Brasil — a primeira delas foi em 2014, quando a casa de grelhados completou a primeira década.
Estão programados na cidade dois encontros em formatos diferentes. O primeiro é um jantar à la carte marcado para esta quinta (18), que se encontra esgotado. Ainda há disponibilidade de convites (R$ 520,00, preço com as carnes, vinhos italianos, água e refrigerante) para uma espécie de minichurrascada marcada para o sábado (20), entre 13h e 20h, na unidade da Vila Olímpia, chamada de Il giro di Dario. Haverá dez estações, entre elas a intitulada officina della bisteca, na qual poderá ser saboreada a famosa bisteca à fiorentina (peça com contrafilé, filé-mignon e alcatra), e a sollociccia, dedicada à famosa porchetta.
Da pequena Panzano in Chianti, Cecchini respondeu em primeira mão seis perguntas que enviei a ele por e-mail e que incluem avisão sobre o avanço vegetariano e vegano no mundo. Confira:
Como o senhor seleciona e faz o controle junto ao produtor das carnes que serve em seu restaurante e em seu açougue?
Trabalhamos há quase quarenta anos, com duas famílias na Catalunha. A família de Joseph, que cria novilhos ao ar livre no Parque Nacional dos Pireneus, é a única, que eu saiba, que foi autorizada pelo rei da Espanha por 150 anos, de pai para filho, a manter criação em um parque nacional a 1 800 metros de altitude, onde a grama é muito limpa, assim como a água. Para as vacas é um paraíso terrestre. A outra família, é a família Vinals. E, desse ponto pouco distante, as meias carcaças chegam diretamente do matadouro ao açougue Cecchini.
Como avalia as carnes do Brasil, país que é um dos maiores produtores do planeta?
Não tenho muita experiência com carnes do Brasil apesar de visitar o país há muitos anos, mas vejo que há uma melhoria contínua e constante a cada ano. Cada vez mais procuramos a qualidade e sobretudo o bem-estar animal que, para mim, é o mais importante. Os animais devem ter uma boa vida, espaço livre, boa alimentação, uma morte respeitosa e tudo deve ser bem aproveitado, do nariz ao rabo. Esse é o trabalho do açougueiro.
É possível a coexistência da produção de carne em escala e com qualidade?
Claro que é possível. Basta ter grandes espaços. O Brasil tem. O foco não deve estar no grande lucro, mas na felicidade animal e no lucro honesto.
As carnes tiveram um aumento significativo de preço no mundo. Definitivamente, viraram artigo de luxo? No segmento premium, justifica-se pagar entre 300 e 500 reais por um corte de carne?
Acho correto que certos cortes tenham um preço alto por serem os mais pedidos. E também estão em quantidade proporcionalmente menor no animal. Mas eu sempre insisto que quando um animal é bem criado, tudo vai bem do nariz ao rabo. Devemos aprender que a qualidade não está apenas no filé e no bife, mas também na cabeça, na tripa e nas pernas, e que é respeitoso e responsável usar tudo bem.
Como vê a mudança de hábitos alimentares como o veganismo?
O veganismo para mim é uma reação a uma industrialização dos alimentos cárneos, em que muitos veem uma piora na vida dos animais, e, francamente, eu também. Usando tudo bem, não há desperdício e menos animais são mortos.
O que costuma servir para vegetarianos em seu restaurante?
Vegetarianos e até alguns veganos que vêm têm um cardápio com a mesma importância do cardápio carnívoro. Sirvo o que nossas famílias, e a minha também, quando éramos pequenos, comiam para economizar, o que nossos fazendeiros comiam quando não havia dinheiro para a carne: pappa al pomodoro (sopa de pão com molho de tomate), legumes e muitas outras coisas boas. E vejo que é muito apreciado. Eu sempre digo que a escolha é To Beef ou não to Beef, eis a questão.
Il giro di Dario
Pobre Juan. Rua Comendador Miguel Calfat, 525, Vila Nova Conceição, telefone 2397-0099. Sáb (20), das 13h às 20h. R$ 520,00. Ingressos pela plataforma Sympla.
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