Cozinha do Lorençato convida Neide Rigo
A nutricionista, autora do blog Come-se, simplifica o ato de cozinhar, ensina a fazer pães de fermentação natural e aproxima as pessoas das pancs
Como vem acontecendo desde a instituição da quarentena para conter a pandemia do novo coronavírus, o Cozinha do Lorençato, um podcast de gastronomia, é gravado remotamente por Skype. O episódio #46 tem um cenário especial: um sítio em Piracaia, interior de São Paulo. É lá que estava minha convidada, a nutricionista Neide Rigo. Nesse ambiente bucólico, o nosso bate-papo sofreu algumas interrupções por causa do sinal do 4G (sim, apesar de algumas falhas, deu tudo certo). Tivemos direito até a uma trilha sonora inusitada, composta por um grilo. Ah, a natureza!
Personagem rara no universo digital por sua seriedade, Neide se tornou uma celebridade entre fãs de gastronomia, conquistados primeiro no blog Come-se, criado em 2006. Há seis anos, passou a fazer sucesso também no Instagram, rede social na qual ingressou em setembro 2014 e na qual tem 12.000 publicações e 114.000 seguidores. O que a fez tão popular?
Na cozinha circunstancial, a cozinha do momento, lida-se com os ingredientes. Não se usa um livro de receitas nem muitas técnicas. Só o básico como refogar alho e cebola
Neide Rigo, nutricionista e autora do blog Come-se
Não existe uma, mas muitas respostas. Arrisco as fornadas de pães de fermentação natural que se somam a cursos ministrados na casa dela (temporariamente suspensos por causa da quarentena), a horta comunitária que desenvolveu com a ajuda de vizinhos na City Lapa, bairro onde mora, a pesquisa intensa de pancs (plantas alimentícias não convencionais), e, sobretudo as receitas de pratos do seu cotidiano, preparadas com simplicidade e esmero, usando recursos que todo mundo tem à mão. É o que ela define como cozinha circunstancial. “Nessa cozinha do momento, lida-se com os ingredientes. Não se usa um livro de receitas nem muitas técnicas. Só o básico como refogar alho e cebola”, explica.
A culinária preconizada por Neide tem um componente libertador, em especial para que nunca encarou o fogão. O erro é permitido, assim como as alterações no meio do caminho. “As pessoas têm muito medo de cozinhar. Precisam arriscar mais no dia a dia. Não é necessário um tutorial para fazer tudo”, defende.
As pessoas têm muito medo de cozinhar. Precisam arriscar mais no dia a dia. Não é necessário um tutorial para fazer tudo
Neide Rigo, nutricionista e autora do blog Come-se
Entre as muitas bandeiras que levanta a nutricionista formada pela Faculdade de Saúde Pública da USP, duas são essenciais, ainda mais nesse momento de isolamento social: uma contra o desperdício de alimentos e a outra a favor da reciclagem. Sem ser radical, Neide também reafirma a importância dos ingredientes naturais. “Não gosto de ditar regras. Prefiro alimentos frescos. Mas não condeno quem usa os processados como o tomate de lata, a ervilha, sardinha”, afirma.
Com ultraprocessados nas cestas básicas, a indústria alimentícia chega de maneira perversa às comunidades que têm a natureza por perto, como as aldeias indígenas e as do sertão
Neide Rigo, nutricionista e autora do blog Come-se
Não vê com bons olhos, porém, os produtos prontos, cheios de aditivos e conservantes, cada vez mais difundidos. “Com ultraprocessados nas cestas básicas, a indústria alimentícia chega de maneira perversa às comunidades que têm a natureza por perto, como as aldeias indígenas e as do sertão”, tem notado nas viagens feitas a vários pontos do país.
Para ouvir essas e outras histórias que mais parecem papo de comadre e compadre que se conhecem há muito – o que é absolutamente verdade, já que estou conectado à Neide há cerca de trinta anos –, dá o play no YouTube, no Spotify, no Deezer ou aqui: