Memória: Ático Alves de Souza (1926-2022), o maître mais antigo da cidade
Durante a carreira, o mestre de serviço que morreu aos 95 anos já serviu presidentes e reis
Por Saulo Yassuda
Mestre de serviço por 55 anos, o baiano Ático Alves de Souza morreu na segunda (17). Ele tinha 95 anos e era o maître mais antigo da cidade.
Após uma queda, Ático fraturou o fêmur e passou por uma cirurgia na última sexta (14). Infelizmente, ao voltar para casa, teve uma parada respiratória.
Durante quase 30 anos, trabalhou no Grupo Fasano, a maior parte do tempo no Parigi. Estava afastado do serviço desde 2019. Costumava servir no almoço, vestido em seu smoking, o bollito misto, o famoso cozido italiano.
Em 2017, o profissional foi homenageado por VEJA SÃO PAULO COMER & BEBER com o título de Personalidade Gastronômica daquele ano.
Durante a carreira, Ático já serviu reis, como Juan Carlos, da Espanha, e o presidente Getúlio Vargas.
O maître nasceu em Monte Santo, no sertão baiano. Mudou-se para São Paulo em 1949, cidade onde trabalhou como auxiliar de pedreiro e faxineiro, antes de começar a carreira em restaurantes.
Foi mensageiro na antiga Confeitaria e Restaurante Fasano, no centro, e se mudou para o velho Ca’d’Oro, onde virou garçom. Em 1966, tornou-se maître da casa, quando o restaurante se transformou em hotel na Rua Basílio da Gama. Teve longa trajetória ali, antes de se transferir para o Grupo Fasano. No Parigi, trabalhou quase 30 anos.
Confira, abaixo, o texto publicado no guia COMER & BEBER de 2017 sobre Ático Alves de Souza escrito por Arnaldo Lorençato:
Três vezes por semana, ele caminha entre os carros último tipo que costumam congestionar a Rua Amauri e a entrada do Parigi, onde dá expediente no almoço de quartas, sextas e domingos. Isso depois de passar cerca de uma hora e meia em coletivos no trajeto que liga sua casa, em Guarulhos, ao Itaim. Ático Alves de Souza, de 90 anos, é maître desde 1966. “Não conheço ninguém mais antigo do que eu em atividade na mesma função por aqui”, orgulha-se. Vindo de Monte Santo, cidade no alto sertão baiano localizada a 365 quilômetros de Salvador, chegou a São Paulo em 1949. Trabalhou como auxiliar de pedreiro e faxineiro de boate antes de entrar no mundo da gastronomia. Por indicação de um conhecido, arrumou emprego na Confeitaria e Restaurante Fasano da Rua Barão de Itapetininga como mensageiro, que equivale a office-boy. Ao migrar três anos depois para o Ca”d”Oro, na mesma via, tornou-se garçom. O título de maître veio quando o restaurante se transformou em hotel na Rua Basílio da Gama, também no centro. Entre seus clientes, estão dois reis. “Servi Juan Carlos, da Espanha, e Carlos XVI Gustavo, da Suécia, junto com a rainha Silvia”, recorda. Outro de seus orgulhos é ter levado um prato para Getúlio Vargas, ainda como cumim do Ca”d”Oro, no início dos anos 50. Apesar de mais de cinco décadas de labuta, não planejou quando vai aposentar o impecável smoking. “Penso, sim, em descansar”, jura. “Mas acabo sempre adiando essa decisão.”