Retrospectiva 2016: o que bombou na capital ao longo do ano
Como os paulistanos passaram os doze meses divididos — da batalha do impeachment ao pedido do milk-shake na lanchonete
2016: O ano da rivalidade
Os efeitos da intensa movimentação na política neste ano ultrapassaram os limites de Brasília e reverberaram no país. Em nenhum local esses ecos foram mais fortes do que na Avenida Paulista, palco das principais mobilizações públicas. Desde as primeiras semanas de 2016, a via recebeu manifestações comandadas por críticos ou por simpatizantes da presidente Dilma Rousseff.
A maior delas, em 13 de março, reuniu 1,4 milhão de pessoas que pediam o afastamento da petista. Com a confirmação de sua saída, em 31 de agosto, aumentaram por ali protestos contra seu substituto, Michel Temer. O maior arrebanhou 100 000 pessoas, em 4 de setembro.
E a previsão é que a Paulista continue cheia em 2017. “Vamos criar um ranking da ‘ficha-limpa’ e pressionar potenciais candidatos à eleição de 2018”, diz Rogério Chequer, representante do movimento Vem Pra Rua, que comandou ações pró-impeachment.
Por meio de nota, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) afirmou que irá às ruas contra a PEC 55 (que legisla sobre o teto de gastos na gestão pública) e a reforma da Previdência, duas bandeiras do governo Temer.
Goleada de shows
Estádios de futebol são locais acostumados com rivalidade. Em 2016, duas das maiores arenas da capital, no entanto, disputaram mais os acordes que os gols. Inaugurado em 2014, o Allianz Parque sediou não só a conquista do Brasileirão pelo Palmeiras, mas também nove shows. Entre as atrações que passaram por ali estão Aerosmith, Iron Maiden e Guns N’ Roses. Ao longo do ano, o lugar recebeu 418 000 pessoas em espetáculos musicais, 145% mais que em 2015.
O sucesso da casa alviverde tirou espaço do Morumbi, do São Paulo, até então o principal endereço dos megashows. Neste, foram realizadas apenas duas grandes apresentações — dos Rolling Stones, em fevereiro, e do Black Sabbath, em dezembro. Juntas, elas reuniram 134 000 pessoas. Para 2017, o Allianz anunciou o astro Justin Bieber, em abril. O Morumbi não confirmou eventos até o momento.
Revanche na praça
Em 2015, a popularização do Uber foi uma pedra no sapato dos motoristas de táxi. Neste ano, a categoria revidou e abaixou os preços para reconquistar os passageiros. Em agosto, a taxa de 50% cobrada na mudança de município foi extinta e alguns aplicativos passaram a oferecer até 40% de desconto na corrida. Depois de comandar vários protestos durante o ano, o sindicato adota postura mais amena para 2017. “Vamos marcar uma reunião com o novo prefeito para organizar o setor”, diz o presidente Natalício Bezerra.
Selfies da discórdia
Em manifestações, eventos públicos ou no dia a dia, pipocaram casos de simpatizantes que pediam para tirar uma foto com policiais em serviço pelas ruas da capital. A proliferação das “selfies com o guarda” provocou alvoroço e zombaria nas redes sociais por parte dos críticos da corporação.
Tela quente
O elenco do filme Aquarius ergueu placas com críticas ao impeachment em maio, durante o Festival de Cannes. O longa teve um público de 87 488 pessoas na capital (segundo a consultoria Filme B) e estava cotado para ser o candidato brasileiro ao Oscar. O indicado, no entanto, foi Pequeno Segredo — a produção de David Schürmann reuniu por aqui uma plateia de quase 30 000 pessoas e acabou não sendo selecionada pela Academia. O caso rendeu acusações de que a comissão agiu influenciada por questões políticas, e não artísticas. No início de dezembro, ambas as obras estavam em cartaz na cidade.
O caldo engrossou
Em 2015, o programa MasterChef, da Band, foi o preferido entre os reality shows culinários da televisão brasileira. Um ano depois, o Bake Off Brasil, do SBT, conseguiu uma bela virada. A atração com confeiteiros comandada por Ticiana Villas Boas teve média de 8,5 pontos de audiência ao longo do ano.
Já a terceira temporada da disputa entre cozinheiros amadores pilotada por Ana Paula Padrão se manteve com cerca de 6 pontos. Novidade do ano, o MasterChef Profissionais foi um pouco melhor, mas não o suficiente: teve média de 7 pontos, com pico de 10. O desempate está marcado para 2017.
Ódio na web
A paulistana Kéfera Buchmann é uma das mais bem-sucedidas youtubers do país, com mais de 9,9 milhões de inscritos em seu canal. A quantidade de fãs, entretanto, não blindou a jovem contra a perseguição dos chamados haters nas redes sociais. Em novembro, a moça virou piada na internet depois de um jantar beneficente promovido por Sabrina Sato. Na ocasião, ela teria usado um figurino simples demais, com saia jeans e blusa branca, enquanto as demais convidadas ostentavam belos vestidos de festa.
Batalha nas ruas
Um desconhecido para boa parte do eleitorado paulistano até poucos meses atrás, o empresário e apresentador de TV João Doria Jr. (PSDB) construiu sua campanha para prefeito apoiado em críticas contundentes à gestão do atual dono do cargo, Fernando Haddad (PT). Com o slogan “Acelera SP”, prometeu como “medida número 1” a retomada das velocidades máximas de 70 e 90 quilômetros por hora nas marginais — reduzidas para 50, 60 e 70 quilômetros por hora em julho de 2015 pelo adversário. Também manifestou a intenção de reavaliar o programa de implantação de ciclovias, uma das principais bandeiras do petista, que pintou 400 quilômetros de faixas vermelhas pela cidade. No fim da campanha de 45 dias, Doria prevaleceu.
Enquanto Haddad teve problemas com sua taxa de rejeição (de 45%, em julho, a maior entre os candidatos, segundo o Datafolha), o tucano disparou dos 5% de preferência nas pesquisas para uma vitória com 53% dos votos, em outubro. Pela primeira vez, um prefeito foi eleito em São Paulo no primeiro turno.
Debandada das feiras
A abertura do São Paulo Expo (o antigo Centro de Exposições Imigrantes), em abril, depois de uma reforma de 420 milhões de reais, caiu como uma bomba no Pavilhão de Exposições do Anhembi. O novo espaço passou a abrigar as principais feiras da capital, como o Salão do Automóvel e a Brasil Game Show, antes realizadas no endereço da prefeitura.
Em 2017, o baile continuará: eventos como o Salão Duas Rodas e o Boat Show já estão de mudança. Defasado e carente de uma grande reforma, o Anhembi deve ser privatizado pela gestão de João Doria.
Match ou crush?
Até o ano passado, o Tinder reinava entre os aplicativos de paquera utilizado pelos paulistanos. Em 2016, o Happn roubou uma fatia desse mercado ao oferecer a possibilidade de o usuário marcar encontros com desconhecidos que cruzaram seu caminho. A ferramenta atingiu a marca de 1,1 milhão de fãs na capital, mas continua atrás do concorrente mais antigo, usado aqui por mais de 3 milhões de pessoas, segundo estimativas.
Briga heróica
Velhos rivais nas HQs, DC e Marvel travaram novo embate nos cinemas. As duas marcas lançaram filmes de desavenças entre super-heróis, Batman x Superman: a Origem da Justiça, em março, e Capitão América: Guerra Civil, em abril. Ambos provocaram filas nas estreias, mas a Marvel se saiu ligeiramente melhor nas bilheterias da capital: 1,1 milhão de pessoas foram ver o Homem de Ferro, contra 1 milhão de fãs do homem-morcego.
REAÇÕES
Os episódios legais, os engraçados e os chocantes
Curti
Onda de musicais. Pelo menos vinte produções do tipo estrearam aqui neste ano.
Novos restaurantes gringos. Oendy’s e outros chegaram no segundo semestre.
Mercado de Pinheiros. O ponto foi reformado e ganhou novos restaurantes.
Amei
Planetário do Ibirapuera. Foi reinaugurado em janeiro com programação boa e gratuita.
O Menino e o Mundo. A animação do diretor Alê Abreu foi indicada ao Oscar.
Silvio Santos. Ganhou uma exposição no MIS e está cada vez mais desbocado.
Haha
Eduardo Suplicy. Chegou a ser carregado por policiais durante um protesto.
Janaína Paschoal. A advogada viralizou após um “enérgico” discurso pró-impeachment.
William Waack. Protagonizou um climão com a colega Cris Dias durante a Olimpíada.
Uau
Ana Hickmann. A apresentadora foi atacada por um fã armado em Belo Horizonte.
Juíza refém. Câmeras de segurança filmaram a agressão em um fórum no Butantã.
Maníacos da seringa. Houve 26 denúncias no ano; um dos suspeitos foi preso em setembro.
Triste
Cauby Peixoto. O cantor não resistiu a uma pneumonia e se calou aos 85 anos.
Domingos Montagner. O ator da novela Velho Chico morreu afogado, aos 54 anos.
Dom Paulo Evaristo Arns. O símbolo da luta contra a ditadura partiu aos 95 anos.
Grrr
Biel. Precisou dar uma pausa na carreira após declarações machistas e assédio a jornalista.
Bar Quitandinha. Foi acusado de defender clientes que assediavam uma garota.
Mariah Carey. A cantora causou ódio depois de cancelar um show com ingressos esgotados.
A nova moda da noite
O reinado das baladas de luxo chegou ao fim e points famosos como Provocateur, no Itaim, e Disco, na Vila Nova Conceição, fecharam as portas em 2016. Foi o fim de uma era regada a champanhe (com foguinho), muita música eletrônica e camarotes milionários. Nessa temporada, a noite paulistana foi dominada por festas itinerantes realizadas em pontos inusitados, como a Hípica Paulista ou o Estádio do Canindé.
Em 2017, já estão confirmadas dezenas de atrações do tipo. Entre elas, a Churrascada, com uma forte pegada gastronômica; a Farofada, em que se toca música brasileira; e a The Godfather, inspirada no clássico longa-metragem O Poderoso Chefão.
Bruxa boa, bruxa má
Sensação na Broadway, visto por mais de 48 milhões de pessoas antes de chegar ao Brasil, o musical Wicked estreou na capital em março com status de superprodução. O espetáculo com 34 atores (que cantam e dançam) teve mais de 340 000 espectadores, em cerca de 300 apresentações.
O enredo conta a trajetória da dupla de bruxas Glinda (Fabi Bang) e Elphaba (Myra Ruiz). Enquanto a primeira é bela e graciosa, a segunda nasceu com a pele verde (e é bem esquisita). As diferenças não só apimentaram a trama como dividiram os fãs. Os mais fervorosos viram a peça dezenas de vezes.
MELHORES E PIORES
Os programas bacanas e as roubadas
CRIANÇAS
Melhor: O Palhaço e a Bailarina
Pior: A Bela e a Fera (Billy Bond)
TEATRO
Melhor: Amadores
Pior: O Musical Mamonas
CINEMA NACIONAL
Melhor: Campo Grande
Pior: O Último Virgem
CINEMA ESTRANGEIRO
Melhor: O Filho de Saul
Pior: Warcraft
SHOWS
Melhor: Rolling Stones
Pior: Maroon 5
EXPOSIÇÕES
Melhor: Os Muitos e o Um
Pior: Frida Khalo — Suas Fotos
RESTAURANTES
Melhor: Tanit
Pior: Sarumon
BARES
Melhor: Bar do Jiquitaia
Pior: Blá Bar & Grill
COMIDINHAS
Melhor: Napoli Centrale
Pior: O’Malley’s Burgers Beers & Blues
Sertanejos em pé de guerra
Em 2016, o cantor Zezé Di Camargo não teve papas na língua para alfinetar a ex-esposa, Zilu, e até a própria filha Wanessa em sua conta no Instagram. Entre os capítulos mais picantes da história está a revelação, em novembro, de um episódio antigo em que a cantora teria agredido a atual namorada do pai, Graciele Lacerda, com um puxão no cabelo. Poucas semanas mais tarde, Zezé deu uma bronca pública na primogênita depois de ela ter postado uma foto com o jornalista Leo Dias, tido como “inimigo”.
Após as encrencas, pai e filha não estariam mais se falando. Nem os sucessos antigos da carreira foram poupados do barraco. Em seu perfil, o compositor desmentiu que tenha escrito o hit É o Amor para a ex-esposa. “Nem sei de onde tiraram isso.”
Causa animal
Muito além das imagens fofas para conquistar curtidas, neste ano as redes sociais foram infestadas por uma batalha quase ideológica entre os amantes de pets. No centro da discussão, o crescimento do movimento a favor da adoção de vira-latas abandonados, em detrimento da compra dos caros espécimes com raça e pedigree. Entidades como a Ampara Animal realizaram campanhas com artistas como Bruno Gagliasso e Sabrina Sato para promover essa atitude.
Revoada tucana
Depois de 25 anos de militância, o vereador Andrea Matarazzo pôs um fim na relação com o PSDB. A separação foi causada pelo resultado da prévia que apontou João Doria, apoiado pelo governador Geraldo Alckmin, como o candidato tucano à prefeitura, em março. O rompimento foi só mais um sintoma do “racha” explícito entre os caciques da legenda. Para não ficar de fora da eleição, Matarazzo filiou-se ao PSD e a disputou como vice na chapa encabeçada pela ex-petista Marta Suplicy. A dupla terminou em quarto lugar nas urnas. Apesar da derrota em dobro, o político mantém a esperança de chegar à prefeitura. “Mas não serei mais vice”, afirma.
Segundos de tensão
Desde 2 de agosto, quem curte postar vídeos de até quinze segundos enfrenta um dilema: Snapchat ou Instagram? Isso porque a rede social de fotos passou a oferecer o serviço Stories, que basicamente copiou as funções do outro aplicativo. A decisão da marca provocou críticas no mundo digital, mas usuários com muitos seguidores, como Thaynara OG e Gabriela Pugliesi, não migraram totalmente para a novidade.
Mudança na programação
Foi difícil acreditar no amor em 2016. Casais queridos do público, como os globais Fátima Bernardes e William Bonner, ou os atores americanos Brad Pitt e Angelina Jolie, anunciaram o fim de sua longeva união. Por aqui, o término mais comentado foi o dos apresentadores de TV Cesar Tralli e Ticiane Pinheiro.
A dupla pegou muitos de surpresa ao anunciar, em outubro, que o relacionamento de dois anos e meio chegara ao fim. O jornalista ainda ensaiou uma declaração em novembro, ao postar a foto de uma bela paisagem com a legenda: “Meus pensamentos me levam a uma única flor: Ticiane Pinheiro”. Ela admite que continua vendo o ex. “Ele veio aqui em casa, mas ficou só a amizade mesmo.”
Doce vingança
Depois de onze anos de exclusividade, o Bob’s desistiu de ser a única lanchonete com direitos sobre o milk-shake de Ovomaltine. Em setembro, o McDonald’s adquiriu a sobremesa e vendeu 1,5 milhão de unidades nos dez primeiros dias de lançamento no país. Só no Shopping Metrô Itaquera, 1 000 foram comercializadas em um dia. A novidade causou climão e a rede brasileira chamou o rival de “milkfake” em uma campanha.
BALANÇO
O que bombou e o que micou neste ano
SOBE
Palmeiras. Levou o título do Brasileirão com uma campanha irretocável
Santa Cecília. O bairro aumentou a fama de moderninho e badalado
Thiago Braz. O paulista levou o ouro no salto com vara na Rio-2016
Alexandra Loras. A exconsulesa foi ícone na luta contra o preconceito
DESCE
Bel Pesce. Acusada de “melhorar o currículo”, teve de pedir desculpas
John Neschling. O regente é investigado por corrupção no Municipal
Unimed Paulistana. O plano de saúde deixou 740 000 usuários na mão
Pokemón Go. O game causou alvoroço, mas logo perdeu a graça
Celso Russomano. Morreu na praia em mais uma eleição municipal