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Como escolas estão se preparando para volta às aulas em meio à ômicron

Com data prevista para dia 2 de fevereiro em São Paulo, as atividades presenciais terão adaptações nos colégios, mas sem exigência de vacina

Por Clayton Freitas e Fernanda Bassette
Atualizado em 27 Maio 2024, 22h31 - Publicado em 28 jan 2022, 06h00
Crianças se reúnem em uma roda no quintal da escola. Todas usam máscaras. Dois adultos também estão na roda.
Roda sobre a vacina, no Itatiaia: opção por sistema de bolhas. (Wanezza Soares/Veja SP)
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Em meio a um recorde de casos de Covid-19 na cidade, as aulas estão de volta a São Paulo (no dia 2) de modo 100% presencial e sem vacinação obrigatória. As escolas particulares, no momento, têm autonomia para fazer as regras. Nas públicas, o comprovante também não será exigido — mas estado e prefeitura divergem sobre mandar os casos para o Conselho Tutelar. A campanha vacinal para o público entre 5 a 11 anos, iniciada em 17 de janeiro, atingiu apenas 12,8% das crianças do estado até o dia 26, o que leva escolas, especialistas e famílias (veja os textos em destaque) a temer surtos da doença neste verão.

Em geral, as coisas seguem como no fim do ano nos colégios, com alguns ajustes. O Dante Alighieri, por exemplo, optou por escalonar as turmas. “As decisões são tomadas por um comitê de retorno”, diz a diretora Valdenice Cerqueira. Os mais velhos (fundamental 2 e médio) voltam primeiro, no dia 31. Nos dias 2 e 3, vem o restante. No Santa Cruz, as mochilas terão um item obrigatório: máscaras N95 ou PFF2 de três camadas, exigidas para alunos e professores. “É um cuidado adicional em um momento de alta transmissibilidade do vírus”, diz o diretor Fabio Aidar. As divisórias de acrílico do refeitório serão mantidas.

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O distanciamento de 1 metro entre as carteiras não é mais uma exigência da lei, mas escolas como a Vereda, na Mooca, permanecem no formato. Na Castanheiras, em Santana de Parnaíba, que atende o público de Alphaville, o refeitório e as áreas de convivência terão demarcação para os alunos não se aglomerarem.

Os testes não serão obrigatórios — estão, inclusive, em falta no mercado. Devem ser exigidos só de alunos que precisam comprovar que se curaram. Com a alta procura em laboratórios e farmácias, alguns colégios montaram estruturas próprias para a testagem. A Camino School, na Barra Funda, comprou exames em quantidade 25% superior ao número de alunos. “Fizemos a previsão baseados no aumento de casos nos EUA e na Europa”, diz o vice-diretor Caio Garcez.

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Outro exemplo de protocolo adotado nas particulares é o esquema de bolhas. No Colégio Itatiaia, na Bela Vista, os alunos têm a liberdade de interagir dentro de turmas, com mais proximidade. Se há um caso positivo, toda a turma é testada. Se forem dois, todos são isolados. “A vacinação foi discutida no curso de férias. Os alunos participaram de rodas de conversa e são estimulados a pesquisar o assunto”, diz o diretor Carlos Lavieri. Mas ele não descarta o risco de ajustes. “Existe até a possibilidade de fechar tudo de novo? Existe. Eu só não gostaria que fechassem primeiro as escolas. Já vivemos isso e não deu certo”, acredita.

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Em alguns colégios serão mantidas parcerias com hospitais feitas na pandemia. O Bandeirantes tem uma estrutura montada pelo Sírio-Libanês, que inclui câmeras térmicas para a aferição automática de temperatura. O Pueri Domus, por sua vez, conta com a supervisão do Albert Einstein nas questões de saúde. Os estudantes só podem fazer os lanches nas salas de aula. Além disso, todos os professores tomaram a dose de reforço da vacina. “Estamos confiantes em que os cuidados e a vacinação das crianças vão trazer segurança a nossa comunidade”, diz a diretora-geral, Christina Sabadell.

A Avenues, onde a anuidade é de 152 900 reais, todos os alunos, professores e colaboradores foram testados na primeira semana de aula. A escola adotou uma escala de horários para o almoço, para evitar aglomerações. Na unidade, 80% dos adolescentes de 12 a 17 anos já estão completamente vacinadas. Os outros devem se submeter a testes semanais e obedecer a uma política de não interação com os colegas.

As particulares devem monitorar quais alunos foram vacinados. Nenhuma delas, até agora, anunciou atitudes a respeito de pais que não imunizarem os filhos. O tema não é consenso nem mesmo na rede pública. Enquanto o governo diz que levará os casos ao Conselho Tutelar, a prefeitura afirma que a medida não será tomada. “Vamos buscar a responsabilização junto ao Conselho Tutelar. Os pais vão responder pelo fato de não vacinarem os filhos”, afirma Rossieli Soares, secretário estadual de Educação. Por outro lado, ele garante que nenhum aluno será impedido de voltar à escola se não estiver vacinado. “A ômicron vai se espalhar com ou sem as aulas presenciais”, diz o secretário. Nas duas primeiras semanas, será feita uma conscientização nas escolas da rede estadual.

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O secretário municipal de Educação, Fernando Padula, tem uma visão mais tolerante. Para ele, nenhum pai deve ser denunciado se não levar os filhos para se vacinar. Haverá, porém, um trabalho de conscientização sobre a importância da imunização nas escolas. “A vacina contra a Covid-19 ainda não faz parte do calendário anual de vacinas obrigatórias, e ainda estamos em processo de vacinação. Por ora, o nosso papel é o de conscientizar”, ele diz.

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Para o advogado Ariel de Castro Alves, especialista em direitos humanos pela PUC-SP e integrante do Instituto Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, a vacinação de crianças — diferentemente da campanha para os adultos — é obrigatória, mesmo aquelas não incluídas no Programa Nacional de Imunizações, desde que autorizadas pela Anvisa.

Outro ponto divergente entre estado e prefeitura é sobre a presença obrigatória dos estudantes. Enquanto João Doria (PSDB) estabeleceu, em outubro passado, a obrigatoriedade de presença (exceto em caso de recomendação médica), na rede municipal ela não é 100% obrigatória, segundo Padula. A justificativa do secretário municipal é a lei 17 437, de 12 de agosto de 2020. Um dos artigos prevê que as famílias podem ou não optar por levar os filhos de forma presencial à escola enquanto durar a pandemia do coronavírus.

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Marco Aurélio Sáfadi, presidente do departamento de infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e professor da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, defende a volta às aulas. “A escola não é o principal foco de transmissão da doença. As crianças não são os principais vetores, mesmo neste momento — têm sido os adultos jovens. Seguramente não é a escola a vilã. Privar as crianças do acesso ao ambiente escolar traz um prejuízo dramático à saúde mental delas”, diz o especialista.

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“Voltar às aulas é um direito das crianças. A interrupção do ensino presencial trouxe consequências devastadoras”, concorda Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações. Ela também é favorável à volta às aulas, nos mesmos protocolos do fim do ano passado. Lembra, no entanto, que é preciso cuidado. “As crianças têm risco menor de doença grave, mas têm, sim, um risco. Foram mais de 34 000 hospitalizações por Covid-19 entre crianças e adolescentes no país desde o início da pandemia. Dos 5 aos 11 anos, tivemos mais de 6 000 casos de síndrome respiratória aguda grave, que leva à hospitalização. E mais de 300 mortes nessa faixa etária”, ela informa. “É fundamental que as crianças sejam vacinadas.”

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O clima de apoio às aulas presenciais une pais, especialistas e escolas. Todos, porém, compartilham igualmente um ar de desconfiança. “Estamos apreensivos. Torcemos para que seja possível voltar normalmente”, diz Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do sindicato das escolas particulares, o Sieeesp. “Na pandemia, tudo o que se fala hoje amanhã pode não valer”, ele aponta. A expectativa do governo estadual é ter todos os alunos imunizados até o fim de março. Vai depender da proporção entre doses de CoronaVac e Pfizer — a última tem o ciclo mais longo. Até lá, todo o cuidado é bom para a cidade passar na prova.

Filha vacinada, mãe tranquila

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Laura Veronezi Ferreira, de 14 anos, não gostou de estudar remotamente na pandemia. Assim que as aulas foram retomadas presencialmente, no ano passado, ela voltou a frequentar a escola — para alívio da mãe, a técnica de enfermagem Nanci Veronezi, 46, que afirma estar tranquila sobre as aulas presenciais em 2022. “Laura tomou as duas doses da vacina, nós (os pais) também. Estou segura”, afirma Nanci. “O tempo em que ela precisou estudar em casa foi terrível. Eu saía para trabalhar, ela se distraía com qualquer coisa. Maratonou as séries da Netflix e leu um único livro”, diz a mãe. Laura reconhece que achou difícil o ensino remoto. “Meu medo agora é não entender as matérias, porque no on-line era complexo tirar as dúvidas”, diz a jovem, que começará o ensino médio. “Acho que vai ser puxado.”

Laura é uma adolescente de 14 anos. negra, de olhos escuros e cabelo cacheado. Ela está sentada no sofá com um caderno rosa no colo.
Laura: “Meu medo é não entender as matérias”. (Wanezza Soares/Veja SP)

“Sentimos o peso da pandemia”

Bento Bulhões Saptchenko, de 7 anos, não vê a hora de rever os amigos. Tomou a primeira dose da vacina nesta semana e vai retomar o convívio escolar em fevereiro, seguindo alguns cuidados: uma boa máscara (a mãe compra a PFF2 infantil) e um contato restrito com as outras crianças. “Bento ama ir à escola. Está ansioso”, diz a mãe, a engenheira Carolina Bulhões. “Estamos um pouco receosos por causa da alta transmissibilidade da ômicron, mas com ele vacinado e mantendo os cuidados, nos sentimos seguros no retorno escolar.” Em 2020, o avô de Bento teve Covid e precisou ser entubado em estado crítico. Felizmente, se recuperou, mas, segundo Carolina, a família “sentiu o peso da pandemia”, por isso não baixa a guarda. “O Bento tem consciência do que está acontecendo e do que a família passou. Espero que a vacinação das crianças evolua rapidamente. A gente vê no rosto dele a alegria de estar com outras crianças”, conclui a mãe.

Foto de Bento. Ele usa um óculos de aro escuro e uma camiseta azul. É branco, de olhos e cabelos claros.
Bento: vai rever os amigos, mas sem descuido. (Arquivo Pessoal/Reprodução)

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“Confio nos cuidados da escola”

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Gabriel Padilha Bussab, de 6 anos, estuda em um colégio bilíngue na Zona Sul. Vai começar o primeiro ano do ensino fundamental. Seus pais, cautelosos, evitam aglomerações. “Não vamos a shoppings e ele não vai ao supermercado, por exemplo”, diz a publicitária Cristiane Bussab, 47, mãe do menino. Estão tranquilos com o retorno ao convívio escolar. “Lugar de criança é na escola. Em 2020, ele voltou a frequentar o colégio assim que as aulas foram retomadas em rodízio. No ano passado, foi o ano todo”, diz. A segurança, afirma Cristiane, está na crença de que a escola segue rígidos protocolos de saúde. “Eles são muito cuidadosos, cheios de regras, não foram flexíveis em nenhum caso. Têm consultoria do Hospital Albert Einstein e nós participamos de seminários virtuais para tirar dúvidas. Nesse retorno, me sinto absolutamente segura”, ela afirma.

Gabriel aparece sentado em uma mesa branca. Ele escreve em um caderno. O ambiente ao redor é decorado com brinquedos.
Gabriel: colégio com consultoria do Hospital Albert Einstein. (Wanezza Soares/Veja SP)

Máscara até para comer

Matheus Eduardo Costa, de 12 anos, voltou para a escola na segunda-feira (24) sob temores da mãe, a relações-públicas Natascha Vieira Eduardo, 49. O jovem mora com os avós e uma tia-avó — ninguém teve Covid-19 na casa. Natascha reconhece que o filho está animado com o ensino presencial, mas se sente insegura, especialmente porque a escola não vai exigir comprovante de vacinação. Ciente de que a presença provavelmente será obrigatória, ela orienta o filho a seguir as regras de segurança, inclusive no recreio, baixando a máscara só o necessário. “Vou mandar até a bisnaguinha cortada ao meio, para que ele coma sem precisar tirar a máscara toda hora”, diz a mãe, que ri, mas afirma falar sério.

Matheus aparece estudando em sua escrivaninha. Ele usa óculos e olha para a câmera.
Matheus: mãe preocupada porque a escola não exigirá vacinação. (Arquivo Pessoal/Reprodução)

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Primeira vez

Em 2020, a pequena Fernanda Bittencourt (à época com 2 anos, hoje com 4) só teve tempo de frequentar por um mês e meio a escola. Com a pandemia, passou a ficar em casa. Os pais até tentaram as aulas virtuais, sem sucesso. “Ela só tinha 2 aninhos, precisava mais de interação que de conteúdo”, acredita a mãe, Gabrielle Monice, 35, que manteve a pequena longe da escola durante quase todo o ano passado. Grávida de seis meses, ela teme o retorno escolar em fevereiro. “Estamos receosos. A Fernanda se adaptou bem à máscara, mas sabemos que dentro das escolas existem pensamentos diferentes. Não temos como saber se as famílias estão tomando os cuidados”, diz. “Ela está na idade em que o ensino é obrigatório, mas é uma situação difícil”, afirma a mãe.

Uma bebê aparece em pé segurando uma mochila de rodinha temática da Patrulha Canina. Ela usa uma camiseta branca e está na sala de casa.
Fernanda: boa adaptação à máscara. (Arquivo Pessoal/Reprodução)

“A pandemia ainda não acabou”

Após quase dois anos totalmente em ensino remoto, a pequena Laura Sancovich A. Isaac, de 7 anos, voltará à escola no dia 31. Em 2021, estudou a distância em razão de um problema de saúde da mãe, Andrea, que teme o aumento de casos de Covid-19 e gripe. “A Laura tomou a vacina no dia 22, o primeiro em que foi disponibilizada para a idade dela. Estamos com receio pelo aumento de casos, mas acreditamos na necessidade de retorno para as atividades e a sociabilização”, diz Andrea. A escola, na Aclimação, ainda não definiu os protocolos sanitários, com o provável retorno presencial de 100% dos alunos. “Nossa maior preocupação é a conscientização das pessoas em relação à gravidade da crise sanitária como um todo. Nós manteremos o uso de máscara, os protocolos de higienização e distanciamento social. A pandemia não acabou”, ressalta a mãe.

Laura está em frente a uma lousa. Em giz, está escrito
Laura: cuidados redobrados pela saúde da mãe. (Wanezza Soares/Veja SP)

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Publicado em VEJA São Paulo de 2 de fevereiro de 2022, edição nº 2774

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