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O ataque das periguetes em São Paulo

Lindas, solteiras e ousadas, as Suelens da cidade adoram exibir o corpo sarado, ganhar drinques dos pretendentes e fazer das baladas seu principal habitat

Por João Batista Jr.
Atualizado em 1 jun 2017, 18h11 - Publicado em 28 jul 2012, 00h50
Capa 2280 - Periguetes - Gabriela Simonassi
Capa 2280 - Periguetes - Gabriela Simonassi (Antonio Milena/)
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Ela faz o que lhe dá na cabeça e não está nem aí para o que pensam a seu respeito. Seu figurino segue a filosofia “vestida para matar”, com saias coladas e curtas para panicat nenhuma botar defeito. Com essas características, a vulcânica Suelen tinha tudo para ser a megera de “Avenida Brasil”, a atual novela das 9 da Rede Globo. O sucesso da personagem interpretada pela atriz Isis Valverde, porém, teve um efeito contrário. Em vez de ganhar pedradas moralistas do público pelo “modus operandi” para atrair rapazes, ela passou a ser admirada por muitas mulheres, principalmente pela parcela de garotas que, assim como ela, fazem de tudo para ser vistas e admiradas. São jovens bonitas e sensuais que amam receber olhares por seus atributos naturais e artificiais (a ordem do momento é colocar próteses de silicone com 250 mililitros). Essa turma gosta de representar perigo, seja para a concorrência feminina, seja para os incautos corações e bolsos masculinos, comportamento que deu origem ao termo que as define: periguete.
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Embora o folhetim do momento seja ambientado no Rio de Janeiro, o grupo encontra por aqui condições ideais de proliferação: boates badaladas dos mais diversos gêneros musicais que lhes oferecem acesso livre a camarotes onde uma noitada sai por até 10.000 reais, um circuito de lojas sob medida para se montar e a melhor infraestrutura para cuidar da aparência, com salões de beleza e academias de ginástica de primeira linha, numa proporção maior que a encontrada em qualquer outra capital brasileira. “Depois de surgirem em território carioca no fim da década de 90, com os grupos de pagode que lançavam concursos de musas e as marias-chuteiras concentradas na porta dos clubes de futebol, elas se ramificaram e tomaram conta da cena de São Paulo”, teoriza o ator Alexandre Frota, espécie de Ph.D. informal no assunto, com larga quilometragem acumulada sobre o tema, dentro e fora da vida artística (cunhou também o neologismo “perigueteiro” para classificar os admiradores mais ardorosos da onda).
Para os intelectuais do mundo acadêmico, como a historiadora Mary Del Priore, autora do livro “Histórias Íntimas — Sexualidade e Erotismo na História do Brasil”, a periguete é um tipo que anda no fio da navalha entre admiração e aversão, daí o rebuliço que costuma provocar. “As curvas exprimem a ambivalência e os delírios que contaminam o imaginário das mulheres”, define. “Elas querem ser, ao mesmo tempo, a mulher da casa e a mulher da rua.”
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Teorias à parte, nada substitui a experiência de observá-las em ação em seu habitat preferido para quem pretende tirar as próprias conclusões. Não é difícil. Elas se fazem presentes em praticamente todas as baladas da capital. O “periguetômetro” costuma apitar mais alto em locais como a boate Ballroom, nos Jardins, acusando a presença maciça de Suelens. “Gosto de me vestir bem, de um jeito sexy, e os promoters nos adoram por saber que mulher bonita atrai público”, explica a estudante Flávia Cogo, de 25 anos, frequentadora do local, onde exibe o corpão em vestidos justíssimos, lança olhares fatais aos quatro cantos e é cortejada por um séquito de rapazes, a maioria vestida com camisas de algodão com os botões abertos até a metade do peito. “Se isso é ser periguete, sou uma delas, sem dramas”, sentencia Flávia. Durante o dia, ela batalha numa escola para se formar comissária de bordo. À noite, transforma-se numa “maria-camarote”, como são conhecidas as meninas que jamais se espremem na pista, em meio aos comuns.
Outra integrante assumida da classe é sua amiga e companheira de balada Gabriela Mohr, 18. A garota faz cursinho para prestar psicologia e sonha um dia entrar para o elenco do “Big Brother Brasil”. Apesar da pouca idade, é quase uma veterana no circuito boêmio. “Aos 13, pegava emprestado o RG ou a carteira de motorista de uma conhecida mais velha para entrar nos lugares”, conta. As duas raramente abrem a carteira. Entram de graça nos endereços, e não faltam fãs dispostos a lhes pagar um drinque. “Os caras me oferecem vodca, champanhe e cerveja, mas prefiro uísque puro”, diz Gabriela, que completou a maioridade há cinco meses. “Acho as outras bebidas muito fracas.”
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Nesses ambientes, um costume que voltou à moda é cheirar lança-perfume Universitário, mesmo à vista de todos. Drogas sintéticas, como ecstasy, são consumidas de forma bem mais discreta. “Detesto esse tipo de coisa, pois cuido bem do meu corpo e ele está em primeiro lugar”, afirma Gabriela. Por onde passa jogando para trás as mechas douradas dos cabelos, homens torcem o pescoço para conferir seu corpo esculpido com intermináveis sessões de exercícios para as pernas e os glúteos. “Toda periguete gosta de ser olhada e de receber cantadas”, entende. “Aliás, que mulher não gosta disso?”
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Ter menos de 30 anos, possuir tempo de sobra para malhar o corpo e sonhar em transformar a audiência das baladas num sucesso de TV, ainda que no papel de subcelebridade, faz parte do pacote básico das meninas. Elas utilizam também um dialeto próprio, com gírias como “no fechado” (no camarote) e “peguete” (romance casual). “Namorado? Eu saio para a balada quatro vezes por semana. Você imagina ter alguém no meu pé? Nem morta”, conta Jaqueline Ruiz, 25, gerente de uma academia de ginástica na Zona Sul. “Curto minha solteirice, gosto de sair para dançar como se não houvesse amanhã.” Saia-justa só mesmo com a família. Seu maior problema é o ciúme do irmão adolescente, que se queixa do fato de os colegas de classe babarem (e curtirem) por causa das fotos que ela posta no Facebook. Em várias das imagens aparece usando biquíni em poses provocantes.

Antonio Milena

A estudante de moda Gabriela Simonassi: fã das novas opções disponíveis no Shopping JK

Apesar da agitada agenda nas madrugadas, no horário comercial muitas delas frequentam o colégio e outras dão expediente num emprego quebra-galho (vendedora de shopping é um clássico), enquanto tentam alçar voos mais altos. Um sonho recorrente é emplacar trabalhos de modelo numa agência. Nas horas vagas, investem pesado na produção para brilhar na noite. A grife de Nathalia Freitas, batizada com o nome da profissional e com um ponto de venda no Tatuapé, na Zona Leste, virou nos últimos tempos uma opção disputada. “Sou o Alexandre Herchcovitch das gostosonas”, conta a estilista, que só vende roupas nos tamanhos PP, P e M. Mesmo com pouco tempo de funcionamento, o Shopping JK virou um oásis para a turma. “Lá tem coisas com a nossa cara, como saias curtas, vestidos com estampa de bichos e corpetes”, diz a estudante Gabriela Simonassi, 21. “A Dolce & Gabbana e a Animale são o máximo para quem gosta de causar.”
O grande momento do dia, naturalmente, é a noitada. Algumas possuem passe livre em quase todas as baladas chiques da metrópole, da sertaneja Wood’s à refinada Mynt Lounge, ambas no Itaim. Numa jornada típica, as estudantes Flávia Cogo e Gabriela Mohr podem emendar a saída de uma balada com um passeio na alta madrugada no Camaro de um peguete que acabaram de conhecer e encarar de saideira uma after-hours até as 8h30 da manhã num outro clube. Doze horas depois não é difícil vê-las a postos novamente, prontas para recomeçar tudo. Entre as regras de ouro da turma, estão os seguintes mandamentos: periguete jamais perde o fôlego e não sente frio.
Mas atenção: o ar sexy e o comportamento liberal não devem ser confundidos com os de profissionais da noite (chamadas na gíria das baladas de “fichas rosas”, termo que teria sido cunhado nas agências de modelos para identificar pseudomanequins que comparecem a eventos e estão disponíveis para fazer um expediente extra com os clientes). O ficar da balada pode até evoluir para o sexo casual — só que isso ocorre apenas quando elas se interessam pelo parceiro. “Um cara já me ofereceu 10.000 reais para dormir com ele, mas rejeitei na hora a proposta”, afirma Jaqueline. A enfermeira Tamara Oliveira Sanches, 21, segue a mesma linha com relação a esse assunto. “Não é porque uso roupas chamativas e curto beijar nas boates que tenho problema de caráter”, defende. Ela, aliás, se diz uma pessoa de bom coração. Pratica caridade na calada da noite. “Já fiquei com cada cara feio depois de tomar umas doses a mais…”, conta. “Aposto que no outro dia eles acordam felizes, enquanto eu não lembro de muita coisa.”
Sexo em troca de dinheiro, portanto, nem pensar. Isso não significa, porém, que elas acreditam no socialismo ou idealizam o amor. Para ter alguma chance, um pretendente precisa ser capaz de bancar uma série de mordomias. Maria-camarote de carteirinha, a propagandista Natália Bispo, 27, tem uma tática para escolher seu alvo nesses espaços privês: o dono não pode ser muito bonito (“fica muita concorrência em cima”), é preciso dançar perto dele (“para marcar território”) e fazer um certo charme (“até tenho um amigo me chamando para outro camarote, mas se você quiser me convidar…”). A estratégia funciona, garante ela, enumerando como prova uma lista de peguetes famosos. “Os cantores Gusttavo Lima e Latino, o ex-BBB Cristiano Carvenale e o ator Duda Nagle”, contabiliza. Qual deles teria sido o mais marcante? “O Latino tem uma pegada maravilhosa”, suspira a garota. “Além disso, usa um sapatênis incrível e um cinto da Louis Vuitton dourado.”
Os locais prediletos O índice de presença das integrantes da tribo nas principais baladas paulistanas

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Divulgação

Capa 2280 - Periguetes - Wood's
Capa 2280 – Periguetes – Wood ()

Wood’s: um dos lugares mais frequentados por elas

Tem uma ou outra para marcar território: Disco e Royal
Elas se fazem presentes nos locais: B4, Eleven, Mynt Lounge, Villa Mix e JosephinePresença maciça de periguetes: Ballroom, Cafe de La Musique, Caribbean Disco Club e Wood’s
Tomou uma champa com o peguete?Algumas expressões usadas pelas meninas
Best: designa a melhor amiga. Exemplo: “A Carol é minha best”Bonde: grupo de amigas que vão juntas à balada Cafa mara: de cafajeste maravilhoso. Homem estilo machão que arrebata coraçõesCarro sem telha: carro conversívelChampa: champanheKen: em alusão ao namorado da Barbie, significa homem do tipo mauricinhoPeguete: cara com quem a garota troca uns beijos sem compromissoNo fechado: o camarote da balada Top: algo excelente. Exemplo: “Fui numa balada top e beijei três”
Os dez mandamentos da turma
• Não sairás para a balada menos do que duas vezes por semana
• Jamais, em hipótese alguma, pagarás a entrada de uma casa noturna
• Serás uma autêntica maria-camarote, ou seja, lançarás olhares e charme para ser convidada para o espaço vip
• Farás de tudo para ficar com algum famoso. (Ex-BBBs como Kléber Bambam e Eliéser e os cantores Gusttavo Lima e Latino são os mais desejados)
• Terás resistência ao frio, por isso sairás de casa sempre em trajes sumários, mesmo no inverno
• Não terás vergonha de postar fotos de biquíni ou segurando bebida alcoólica no Facebook
• Terás urticária com sapatilhas e sandálias baixas, sendo-lhe permitido usar apenas salto alto
• Terás disposição para encarar a academia todos os dias
• O cabelo crescerá sempre saudável até a cintura, ou não lhe faltará dinheiro para investir em megahair
• Escutarás cantadas e elogios por onde passar

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2/5
Os vestidos colados da marca da paulistana Nathalia Freitas fazem sucesso ( / Onde as periguetes se vestem)
3/5
A paulistana já deu um fora no Kleber Bambam em uma balada ( / Jaqueline Ruiz e o nocaute em um ex-BBB)
4/5
As duas amigas caem na balada pelo menos três vezes por semana ( / Gabriela Mohr e Flávia Cogo: o bonde das loiras)
5/5
Das jovens que sonham com jogadores de futebol às meninas que não saem da academia, todos os tipos que integram a categoria ( / Periguetes, mas com estilos diferentes)

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