Pulsante, Rua Barão de Tatuí ganha espaços de gastronomia, arte e design
Conheça a via entre Santa Cecília e Vila Buarque, onde ao menos treze novos negócios foram abertos de 2022 para cá
“É o primeiro empreendimento da nossa vida”, conta, entusiasmada, Tamires Almeida, 36. Ela e a sócia, Larissa Alcantara, 40, duas arquitetas, escolheram uma casinha simpática na Rua Barão de Tatuí para instalar a Livraria Sentimento do Mundo.
Com foco na literatura de ficção de pequenas editoras, o empreendimento, inaugurado em outubro de 2023, é parte da leva de ao menos treze lojas, restaurantes e bares que desembarcaram nos últimos dois anos na via, que se consolida como um polo pulsante entre Santa Cecília e Vila Buarque.
Parte dos novos negócios é tocada por moradores do entorno, que observaram com olhos atentos a transformação da área, concentrada, por enquanto, nos três quarteirões entre a Alameda Barros e a Rua Jaguaribe. É o caso de Caio Fontes, 44, sócio da Café Store, empresa especializada em cafés especiais que opera há doze anos como e-commerce, mas até há pouco tempo não tinha loja física.
“Aqui existe um público interessado no nosso produto”, justifica o empresário, que transferiu o negócio do Itaim Bibi para o imóvel no número 387 da Barão em julho do ano passado. Na parte da frente fica o espaço que recebe a clientela em busca de grãos selecionados, além de máquinas e utensílios para o preparo da bebida, e, atrás, o escritório onde trabalham vinte funcionários.
Do outro lado da calçada, o aroma vem das fornadas de pães de fermentação natural que perfumam a entrada da padaria PAN. “Queria abrir meu negócio em um lugar que eu pudesse ir trabalhar a pé”, conta Pamela Puertas, 33, outra arquiteta que resolveu empreender no pedaço.
Ela é vizinha do Borgo Mooca, badalado restaurante nascido no bairro que o batiza, mas que desde o final de 2022 funciona nas redondezas. “Chegar até a Santa Cecília era um desejo antigo. Recebo mais de 1 000 pessoas toda semana, dobrei o faturamento e tenho mais de trinta funcionários”, comemora Matheus Zanchini, 49, chef e proprietário da casa.
Ele, que também comanda um bar estilo speakeasy no subsolo do restaurante, adianta que até o fim do ano inaugura uma trattoria logo ao lado.
Antes da pandemia, a Barão já até contava com comércios descolados, como o Kraut Bar, ZUD Café, a confeitaria Fioca, a Galeria Pilar e a Banca Tatuí, que ajudaram a impulsionar a mudança de cenário.
“Nossa esquina era conhecida por ser ponto de venda de drogas, uma realidade que já mudou”, lembra João Varella, 39, dono da banca fincada desde 2014 no encontro com a Rua Imaculada Conceição.
No sábado (16), o ponto celebra o Indiebookday (ou Dia do Livro Independente) com sessão de autógrafos de Meu Livro Vermelho, obra que marca a estreia do cantor e compositor Otto na literatura. Ele também fará um show gratuito ali a partir das 14h. “Adoro frequentar aquela rua. Tem de tudo, de botecos a lojas de móveis antigos”, conta o artista.
O movimento vem se consolidando nos últimos tempos. “A mudança foi gradativa, com a chegada de negócios mais modernos, mas a retomada tem também um forte viés gastronômico”, acredita Alessandro Bergamin, 49, sócio da Paradiso Casa & Comida.
Aberto em outubro, o misto de loja de decoração e restaurante de pegada asiática se juntou a outros endereços recentes, como o bar especializado em petiscos defumados, Carburadores, a choperia Caxiri e o café, loja de cerâmica e saboaria Gleba, que passa por reformas e promete reabrir no dia 1º de abril.
Para quem curte DJs, bebericar e comprar discos, a dica é passar pela Fiel Discos, que ficava no Largo da Batata antes de se mudar, e a Vos 011, que, além dos vinis, vende artigos de moda. Soma-se a eles a filial paulistana da galeria A Quadra, que tem matriz no Rio de Janeiro, instalada no número 521. “Estamos felizes com o ponto e queremos permanecer ali por um bom tempo”, afirma a sócia Marcela Setton, 31.
Dois casarões que passaram por retrofit também dão novo colorido à rua, mas ajudam a manter o charme do passado. Num deles fica a BaFu (Barra Funda Autoral), projeto que reúne marcas de arte, moda e design. “Fiquei apaixonado pelo espaço”, conta Claudio Magalhães, 55.
“Queríamos explorar outra região da cidade e vários dos nossos clientes eram da Santa Cecília”, conta Fabian Daltoé, 37, da rede de cafeterias Mug.sp, também em um imóvel histórico. Em novembro, durante o serviço, a loja teve seu salão invadido por ladrões, que fizeram um arrastão entre os clientes.
O episódio, que rapidamente ganhou repercussão, impulsionou a criação de um grupo de WhatsApp pelos donos de estabelecimentos da rua. Nas conversas, uma pauta recorrente tem sido, claro, a adoção de medidas de segurança que resguardem comerciantes e fregueses, imprescindíveis para que o movimento de revitalização não sofra retrocessos. Nessas horas, a união é sempre o melhor caminho.
Publicado em VEJA São Paulo de 15 de março de 2024, edição nº 2884