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A modernidade nostálgica dos santa ceciliers

Como vivem, consomem e discursam os habitantes de um dos bairros mais charmosos da cidade

Por Mariana Rosário (colaborou Mariani Campos)
Atualizado em 31 jan 2020, 12h00 - Publicado em 30 jan 2020, 15h55

Basta uma rápida caminhada pelos cerca de 180 metros da Rua Jesuíno Pascoal, na tênue linha entre Santa Cecília e Vila Buarque, para entender o fenômeno que acomete o pedaço mais novidadeiro nos arredores do centro. Por ali, um bar de vinhos chamado Elevado divide a calçada com um fervido point de inspiração baiana, o Tabuleiro do Acarajé, onde o salgado pode ser degustado em cadeiras de praia espalhadas pelo passeio. Mais à frente, a Cervejaria Central (com pedidas artesanais, claro) vende chopes próprios — incluindo uma opção com tangerina, pitanga e tamarindo. Ainda há um café e um estúdio de tatuagem com jeitão de casa noturna onde são servidos drinques e tira-gostos, tudo aberto no último ano. Completam a mistura estabelecimentos mais longevos, como um brechó, dois botecos de esquina, um antigo salão de cabeleireiro e prédios residenciais.

Trata-se de um cenário que se repete, principalmente, no miolo entre a Avenida Pacaembu e a Rua Doutor Cesário Mota Júnior, na orla do malfadado Elevado João Goulart. No perímetro moram cerca de 66 000 pessoas, de acordo com levantamento feito, a pedido da Vejinha, pela empresa de big data Cognatis. Cerca de um terço dessa população tem entre 25 e 44 anos (31,1%), mas compartilha o espaço com moradores com mais de 65 anos (18,2% do total). Esse público acompanhou nos últimos anos a ruidosa chegada de bares alternativos inspirados em ambientes de Nova York, Londres ou Berlim. Nesses pontos, há quem embale o tilintar de garrafas ao som de playlists tocadas em caixas de som analógicas, importadas, com DJs que empregam vinis selecionados a dedo, como no Caracol Bar, onde o dry martini custa 40 reais.

A turma que bate cartão nesses pontos e mora por lá foi apelidada de “santa ceciliers” após a capa da Vejinha que cunhou os “faria limers”, os habitués da Avenida Brigadeiro Faria Lima. Na época, circulou um meme com jovens de barba longa, camisas estampadas, óculos de armação redonda que mostrava que não só os coletinhos dos faria limers são um uniforme. A imagem, é claro, não agradou a todos os moradores, que reúnem no ora simpático, ora bélico grupo do Facebook “Cecílias e Buarques”, com mais de 11 000 adeptos, assuntos que vão da doação de objetos à gentrificação do bairro (normalmente, as pessoas que colaboraram com o encarecimento do bairro são as que mais amam falar de “gentrificação”), onde 250 gramas de um café especial custam 64 reais no Isso É Café.

Igor Dias e o gato Batman: apartamento bem santa cecilier (Rogerio Pallatta/Veja SP)

Segundo os próprios moradores, existe realmente um modus operandi no pedaço. Por ali, os apartamentos têm chão de taco com samambaias e plantinhas trepadeiras, o que movimenta as floriculturas cada vez mais elaboradas da vizinhança. É comum a turma desembarcar na região munida de referências do Instagram e do Pinterest para arrematar espécies de jiboia e filodendro (há um séquito de pequenos influenciadores digitais no entorno). “Eles falam muito nessa coisa de urban jungle, diz Isabel Cristina Batista, uma das proprietárias da loja de paisagismo Garden Center, na Rua Jaguaribe. Termos em inglês são quase tão comuns entre os ceciliers quanto entre os faria limers, quem diria. O estabelecimento viu o consumo de samambaias aumentar nos últimos três anos. “Vendemos pelo menos uma por dia. Antes tinha semanas inteiras em que não vendíamos uma única.” As samambaias custam entre 7,50 e 55 reais, a depender do estilo e da cuia.

Rita Cadillac e Pietro: passeios diários pelo bairro (Rogerio Pallatta/Veja SP)

“É um modismo que aproxima as pessoas de suas casas”, opina o empresário Igor Dias, de 32 anos, que mora na Rua Rego Freitas. Ele divide o apartamento de 70 metros quadrados com os gatos Batman e Azeitona. O visual do lugar inclui um quadro em homenagem ao escritor Franz Kafka, comprado de segunda mão, e um rack feito a partir de um armário de academia que custou 300 reais, montado com a ajuda do zelador do prédio. “Aqui é todo mundo meio maker, sabe fazer pinturas, por exemplo.”

Dias garante já ter visto movimentação parecida em outra parte do mundo. “Logo que me mudei pra cá, viajei para Nova York e fiquei em Williamsburg, no Brooklyn. As roupas, o estilo eram muito parecidos com os daqui. Tanto que tem muito estrangeiro no Takkø Café, ao lado da Praça Rotary, e no Teatro Aliança Francesa, na Rua General Jardim. Eles se sentem em casa.” Mesmo com os problemas. “Há ratos e brinquedos quebrados”, diz o arquiteto Lorenz Meili, integrante de um grupo que zela pela Praça Rotary, que tem a área verde cuidada com 3 670 reais mensais arrecadados por meio de doações.

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Para além dos lares devidamente postados no Instagram, existem outras particularidades sobre os ceciliers. Caso das camisas de botão estampadas, papetes modernas, cabelos com as laterais baixas, bigode ou barba cheia. Não raro, as moças assumem o aspecto natural de seus cabelos ou ostentam cortes curtíssimos (o chamado pixie cut). A franjinha que acaba no meio da testa, longe das sobrancelhas, é outro hit. Óculos de grau ganham armações retrô arredondadas. Tatuagens adornam as mais variadas partes do corpo. “Tem menino de saia, de vestido, de terno, um pessoal alternativo”, diz a atriz Rita Cadillac, com estilo próprio, que mora há quase uma década na região, por onde passeia diariamente com o poodle Pietro Cadillac (isso mesmo).

Ty Cruz: plantas em casa, bike e gasto engajado (Alexandre Battibugli/Divulgação)

“Se você prestar atenção, verá que essa hipsterização nos torna um pouco iguais no quesito aparência. Todo mundo tem planta, os homens são meio barbudos, seguem o padrão que é ser fora do padrão”, analisa a compositora de efeitos especiais Ty Cruz, de 28 anos, que reside em uma quitinete na Cesário Mota Júnior. O apartamento, de 24 metros quadrados, é decorado com 28 vasos de planta e uma bandeira do orgulho LGBTQI+. Ela costuma fazer tudo nos arredores, exceto comprar acessórios para sua bike. Para isso, vai a uma bicicletaria de Pinheiros comandada por mulheres. “Sou lésbica, e minha intenção é fortalecer meu rolê sapatão.”

Isaac Silva: peças exclusivas de até 5 000 reais (Rogério Pallatta/Veja SP)

É forte a presença do público LGBTQI+ no entorno. Exemplo disso é o bar Das, capitaneado por mulheres, na Rua Fortunato. “Pensamos em criar um lugar onde mulheres lésbicas e trans se sentissem confortáveis”, diz Nina Veloso. O espaço compartilha outra bandeira, a do feminismo, com Celi Zonta, dona de um salão de cabeleireiro dedicado aos fios naturais. “Não faço chapinha nem escova nem alisamentos”, decreta. Por lá, os procedimentos mais caros saem por 200 reais, incluindo corte e tratamentos veganos (outra tendência para a região). Ainda sobre as mulheres, um coworking chamado Brava, ali perto, é exclusivo para elas.

A cabeleireira Celi Zonta: sem química nem chapinha (Rogerio Pallatta/Veja SP)

“É um bairro incrível, mas ainda majoritariamente branco. Os novos donos de bares e de rolês que eu conheço são todos brancos”, analisa a apresentadora Magá Moura, de 32 anos. Ela mora em um imóvel de 60 metros quadrados, que comprou há dois anos, por cerca de 400 000 reais, na Avenida São João. O endereço tem paleta de cores vibrantes, arco-íris e uma cozinha rosa. Também há elementos que lembram a militância política da moça (uma placa “Rua Marielle Franco” e um ímã de geladeira “Lula Livre”). Magá vê como um avanço para o entorno a instalação do ateliê do estilista Isaac Silva na Rua Jaguaribe, no ano passado. Por lá, vendem-se peças exclusivas com referências afro-brasileiras e indígenas. Os preços variam de 89,90 a 5 000 reais.

Apesar de se sentir respeitado em Santa Cecília, Silva diz que o cenário muda ao ingressar em Higienópolis, que fica ali do ladinho. “Quando vou ao shopping comprar um chocolate, percebo seguranças me observando, mas terão de me aceitar”, diz ele, que já vestiu nomes como Elza Soares e Taís Araujo. O estilista conta que instalou sua loja na região para desbravar o bairro a pé. Um dos points do entorno que ele visitou recentemente foi o Heute Bar, que toca música eletrônica e é comandado pela modelo Ellen Milgrau e seu namorado, o DJ Leonardo Stroka. O local é inspirado em um bar de Berlim e exibe sofás garimpados em bazares de igreja, com geladeiras rabiscadas e paredes propositalmente mal-acabadas.

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No início da operação, o Heute servia brunch, mas os vizinhos não aderiram à prática. “O pessoal queria beber, o que sai mesmo é álcool.” O brunch também trouxe adeptos inesperados. “Colava muito uma galera com babá, com blusinha do Doria amarrada”, lembra Ellen, em referência ao estilo do governador — suéter com um nó em frente ao peito. Apesar do deboche de seu visual, João Doria levou a melhor entre os eleitores registrados no bairro na eleição para a prefeitura em 2016. Nas 34 seções eleitorais, teve 9 933 votos, contra 3 646 de Fernando Haddad. A militância contra Jair Bolsonaro muito presente na região (inclusive em bares nos quais os donos declaram o posicionamento sem cerimônia) não garantiu sua derrota nas urnas de lá no pleito presidencial. Foram 10 564 votos para ele, contra 7 390 para Haddad.

A apresentadora Magá Moura: placa de “Rua Marielle Franco” na decoração do apartamento instagramável (Rogério Pallatta/Veja SP)

O bairro também não vibra de forma monocórdia nos costumes. Outra faceta é representada pela ampla comunidade judaica que mora por ali e visita endereços de comida kosher, caso da Lanchonete Pinati, que atrai de famílias ortodoxas a modernos do bairro, e da pizzaria Via Babush.

A modelo e empresária Ellen Milgrau: mora e tem negócios em Santa Cecília (Fabrizia Granatieri/Veja SP)

Nem o preço dos imóveis obedece a um padrão. Na Conselheiro Brotero, por exemplo, há tríplex de 1 200 metros quadrados, avaliado em 15 milhões de reais, com até dez vagas e cinco quartos. Na mesma via, lanchonetes básicas, barzinhos e predinhos mistos com perfumarias e outros serviços instalados nas calçadas. Vale dizer que seguem firmes e fortes as lanchonetes de esquina que servem tanto para almoçar um prato feito (PF) quanto para tomar um “litrão” pela noite. A mais célebre delas é a rede Johny’s, com quatro unidades na Rua Canuto do Val (e outras três com nomes variados em vias próximas).

Outros botecos também atraem adeptos por receber grupos de samba (no Largo de Santa Cecília) e de chorinho (na Rua Fortunato). Ainda que contar com residências de alto padrão e populares seja realidade há décadas, alguns se assustam com o desembarque dos novos habitantes. Temem a chamada gentrificação — a ex- trema valorização provocada por recém-chegados que expulsa os moradores originais. “É um bairro que tenta sobreviver a essas adversidades, mas eu tendo a ser um pouco pessimista sobre isso”, diz o diretor de criação Felipe Modna, 32, que vive há nove meses na região (“Minha casa está bem Santa Cecília. Só falta o disco do Belchior, pra falar a verdade”, diz).

Para aplacar o impacto da própria chegada, passou a comprar produtos dos mercadinhos, não das grandes redes. “Estou tentando consumir menos roupas em larga escala, mas é um processo, uma mudança difícil.” A preocupação política e comportamental, porém, não é unanimidade. “Frescurite não me dá lucro, quero quem come e bebe até as 6 da manhã”, decreta a veterana Lilian Gonçalves. Também há quem diga que parou de visitar o bairro porque as pessoas são muito “metidas a intelectual”.

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Felipe Modna: consumo consciente para aplacar gentrificação (Rogério Pallatta/Veja SP)

“Minha leitura é que ocorre mais uma atualização do bairro do que uma transformação completa. Não se deu uma expulsão em massa de populações vulneráveis”, afirma o antropólogo Maurício Alcântara, que defendeu tese sobre o impacto da chegada da turma hipster à Vila Buarque. Moradores do entorno reclamam do aumento do preço do aluguel de imóveis residenciais, ainda que, segundo pesquisa do site Zap Imóveis, a média dos valores de metro quadrado tenha se mantido no mesmo patamar desde 2015. Mas relatos pontuais sobre preços mais altos são comuns.

O administrador André Toniol, por exemplo, bateu em retirada da região há cerca de um ano por não conseguir mais bancar o aluguel do apartamento que ocupava na Rua Dona Veridiana. A quantia cobrada passou de 2 300 reais para 3 000 reais no último reajuste. Também cresce o coro de lojistas que dizem acompanhar a valorização rápida de imóveis comerciais. Pontos de 300 metros quadrados nas proximidades da Alameda Barros que foram vendidos em 2013 por 1,5 milhão de reais valem hoje 4,5 milhões.

André Toniol: mudança motivada pelo aumento do aluguel (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Já o entorno do Minhocão amarga uma posição de degradação. “É uma Faixa de Gaza”, diz Jeferson Cerqueira, da Fragata Private Brokers, com carteira de prédios na vizinha Higienópolis, em referência à ausência de edifícios de luxo do outro lado. O arquiteto Alberto Barbour, do escritório Urdi, avalia que a via suspensa atrasou a movimentação que é vista na Santa Cecília nos dias de hoje. “Esse processo poderia ter acontecido décadas atrás, mas teve seus benefícios. A forma como a expansão se deu propiciou ao bairro uma mistura mais interessante”, opina.

Para além das questões que envolvem o mercado imobiliário, o elevado é um misto de lazer e pânico para os transeuntes. Em 2018, a modelo Paola di Mônica corria por lá e foi espancada por seis assaltantes. Desde então, passou a praticar a atividade apenas com um grupo fixo de amigos. “É uma turma que quer tirar esse lado ‘coxa’ do fitness. Curtimos escutar rock e somos mais underground”, conta ela, que, ainda assim, gosta do gigante de concreto. Durante a semana (quando fecha entre as 20 e as 7 horas), ele é mais frequentado por ciclistas de alta performance. “Quando alguém vem para assaltar, a pessoa já passou”, diz Caetano Barreira, da Bicicletaria Velodrome. Lá, há bikes esportivas de até 30 000 reais. Os modelos urbanos, mais a cara dos ceciliers, ficam entre 2 500 e 5 000 reais.

Minhocão: exercícios ao ar livre (Cadu Vigilia/Veja SP)

Essa diversidade de cenários só é possível porque Santa Cecília se beneficia de ter se verticalizado pré-1957, antes das leis que dificultaram o adensamento das áreas centrais e aceleraram o espraiamento (e o uso do automóvel). O bairro obedece à legislação da época, com prédios geminados sem recuos em relação à calçada, o que favorece vitrines, mesinhas e janelões que conversam com a rua. A alta densidade e a mistura de usos (comercial, residencial, de entretenimento, às vezes na mesma quadra) são atrativos justamente para a população mais jovem da São Paulo de hoje, não tão fissurada em ter carro como outras gerações e que valoriza ir a pé ao boteco da esquina e de bicicleta ao trabalho. O que é bem difícil no Morumbi ou na Cidade Jardim, no Alto de Pinheiros ou em partes de Perdizes, é o normal em Santa Cecília. Essa qualidade urbana mata de inveja o mais empedernido e millennial faria limer.

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Fervo literário

Em Santa Cecília desde 2014 e símbolo da renovação moderninha do pedaço, a Banca Tatuí (Rua Barão de Tatuí, 275) expandiu suas estantes para o imóvel no número 302 da mesma rua. A operação é inspirada em modelo praticado na Argentina, onde a entrada se dá com hora marcada. Há publicações de editoras independentes de todo o Brasil, e o local é sede de um clube de leitura e de um curso de editoração de cinco meses que ensina as etapas da criação de um livro. A próxima turma começa em março.

Banca Tatuí: a banca da editora independente Lote 42 (Cecilia Schiavo/Divulgação)

Mimo retrô

Chama atenção na loja de cadernos feitos a mão Chocolate Notebooks (Rua General Jardim, 472) uma bandeja onde repousam dezenas de lápis das décadas de 60 e 70, herdados de coleciona- dores. Normalmente estampados com propagandas de empresas, os produtos custam 19 reais cada um e despertam interesse por seu grafite resistente ou como item de memorabilia.

Chocolate Notebooks: lápis das décadas de 60 e 70 (Rogério Pallatta/Veja SP)

Pega fogo, cabaré

As noites mais calientes da região podem ser encontradas no Cabaret da Cecília (Rua Fortunato, 35). Por lá, dançarinas burlescas, drag queens e músicos comandam pelo menos três apresentações diárias em um salão diminuto — são, em média, 120 pessoas por vez. Completam o “cardápio” semanal strip-teases masculinos e femininos “com glamour e classe”, garante o autointitulado cafetão-curador Tiago Santos. “É que eu sou cafetão de artistas”, explica aos risos.

Os visitantes do espaço decorado como um cabaré da belle époque francesa são recepcionados por uma drag que também mostra seus dotes no palco. Na noite em que a re- portagem visitou o local, uma loira de maquiagem iluminada e vestido exuberante anunciava uma versão para Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (filme de Pedro Almodóvar adaptado para a Broadway). Para bancar o quórum dos artistas, passa- se o chapéu, o que rende 250 reais em média a cada performer nas exibições. Dos clientes, um público bem variado, são cobrados 15 reais logo na entrada, que podem ser revertidos em consumo.

Tiago Santos e artistas do Cabaré: sexy sem ser vulgar (Rogério Pallatta/Veja SP)

Disputa do Minhocão

Em fevereiro do ano passado, a prefeitura divulgou que construiria um parque linear em parte dos 3,4 quilômetros do Elevado João Goulart, o Minhocão. O plano fez água nove meses depois, quando a gestão de Bruno Covas (PSDB) anunciou que a empreitada, que teria 17 500 metros quadrados de área verde, seria abandonada sem previsão de retorno. Enquanto nenhum destino é definido para a via quase cinquentona, moradores também divergem sobre o que deveria ser feito com a estrutura. “A prefeitura não foi capaz de manter os jardins verticais vivos (nos edifícios que ficam ao lado), como poderá tocar essa aventura insana que é fazer um trecho de parque em cima desse elevado?”, questiona Francisco Machado, um dos ferrenhos defensores da demolição da via. “O parque seria o must- have da região, amo o Minhocão”, discorda a modelo Paola di Mônica, que pratica corrida no local todos os fins de semana.

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Minhocão: encrencas, assaltos, lazer e degradação (Marcelo Justo/Veja SP)

Se meu chão de taco falasse

Não só de discos de vinil vivem os colecionadores do pedaço. Na charmosa Casa Elefante (Rua Doutor Cesário Mota Júnior, 277), com quase 12 000 itens, há um acervo de CDs raros que chegam a custar 320 reais, caso de Tabapora, da cantora May East. Outro título com preço salgado é a trilha sonora instrumental da novela Meu Pedacinho de Chão (2014).

Casa Elefante: CD da cantora May East (Reprodução/Reprodução)

A polêmica da Canuto

Dona de uma legião de empreendimentos da Rede Biroska na Rua Canuto do Val, Lilian Gonçalves afirma nunca ter fumado nem bebido em sua vida. “Meu organismo não aceita.” A despeito de sua intolerância, conta receber mensalmente uma média de 100 000 pessoas interessadas em esgoelar-se em karaokês, em comer sushi e em beber cerveja. Estimativas do setor mostram que seus negócios chegam a movimentar cerca de 190 000 reais em noites de grande movimento. Em quase cinquenta anos de “noite”, diz ter sofrido baixas após o Psiu, a Lei Seca e a Antifumo. “Casa noturna, bebida, música, dança combinam com o quê? Cigarro.” Há novos santa ceciliers que chamam seu estilo de negócio de “predatório” e dizem não frequentar seus estabelecimentos. Ela dá de ombros. “Não tem um vizinho que me odeie, todos me amam de paixão”, acredita.

Lilian Gonçalves: pioneira no pedaço (Leo Martins/Veja SP)

Butique de carne

Há sete anos instalada na Rua Barão de Tatuí, a grife de carnes Beef Passion passará não só a vender os cortes de carne super-premium como também a servir almoço com tíquete médio de 60 reais. As estrelas da casa seguirão o mesmo padrão de qualidade do que é negociado atualmente no local (de maior preço, o bife ancho wagyu sai por 260 reais, 400 gramas). Trata-se de uma produção em que o gado tem uma alimentação balanceada, ouve música ambiente (há até Nando Reis nas playlists), faz recreação com futebol e vai para o abate sem sofrimento. “Nossa produção é 100% sustentável”, relata a empresária Amália Sechis. Atualmente, o lugar já recebe eventos fechados para vinte pessoas, que podem saborear os cortes. Nesse modelo, são pagos 200 reais por cabeça (de convidado), sem bebida. A taxa de rolha, no entanto, não é cobrada.

Amália Sechis, da Beef Passion: carne diferenciada (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 5 de fevereiro de 2020, edição nº 2672.

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