Rolando Massinha: o herói da comida de rua
Montada numa Kombi, a cantina de Rolando Vanucci vira tema de livro e ganha filiais para vender cachorro-quente e churro
Falta pouco para a comida de rua ser legalizada na cidade. O projeto de lei que permite a comercialização de alimentos em vias públicas — hoje,apenas vendedores de cachorro-quente podem pleitear a autorização para tal — está perto de ser sancionado pelo prefeito Fernando Haddad para entrar em vigor.
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O pernambucano Rolando Vanucci acompanha o desenrolar do processo dolado de dentro de uma Kombi. Desde 2008, todas as noites, ele estaciona o veículo na altura do número 1089 da Avenida Sumaré, em Perdizes, coloca algumas mesas e banquinhos improvisados no estacionamento de uma loja de lingerie e monta ali sua cantina: a Rolando Massinha. Sua especialidadesão as massas frescas servidas com molhos caprichados a preços bem camaradas.
“É preciso ser um pouco louco para enfrentar sol e chuva e permanecer anos trabalhando na rua”, conta o pequeno empreendedor, que começou seu negócio com um investimento de 20 000 reais. “No início,achavam que eu vendia dogão e se surpreendiam com meu cardápio.” A loucura do roliço Rolando, que incorporou o apelido Massinha ao nome próprio, deu certo. Atualmente, Vanucci produz 3 000 quilos de massa fresca por mês. Com financiamento, conseguiu montar uma frota de cinco Kombis. Além da fixa, em Perdizes, uma está reservada para eventos e outra fica de sobreaviso, para o caso de haver alguma falha nos fogões, por exemplo.
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A novidade para a próxima semana envolve os dois últimos veículos: um vai se transformar no Rolando Doguinho, especializado em cachorro-quente e estacionado em frente ao Shopping Vila Olímpia, e o outro no Rolando Churrinho, também na Avenida Sumaré. Um delivery e um restaurante de almoço (este um salão convencional entre quatro paredes, na Rua Cayowaá, 857) também integram a marca, que emprega quinze funcionários, todos registrados.
Antes do sucesso do negócio próprio,o cotidiano de Rolando Massinha incluiu períodos como sacoleiro, vendedor de loja, fotógrafo amador e pintor de paredes. “A necessidade financeira me impulsionou”, lembra. A trajetória de ares cinematográficos deu origem à autobiografia Rolando Massinha — Uma História de Vida com Receitas de Amor (Generale, 128 páginas; 39,90reais), com festa de lançamento marcada para segunda (2), às 19 horas, na Livraria da Vila da Rua Fradique Coutinho, na Vila Madalena.
Dezesseis receitas de chefs convidados completam apublicação, cuja tiragem da primeira edição é de 8 000 exemplares. São personagensdo calibre de Andrea Kaufmann, do AK Vila, Carla Pernambuco, do Carlota, Carole Crema, do La Vie en Douce, e Rodrigo Oliveira, do Mocotó.O bom relacionamento com a panelinha da gastronomia pode ser comprovado aos domingos, quando muitos funcionários de cozinha se encontram por lá depois do expediente.
“O Rolando contagia pela simplicidade da proposta”, afirma o boliviano Checho Gonzalez, frequentador da Kombi e organizador da feirinha de comida O Mercado. “Foi lá que conheci o Alberto Landgraf”, completa, referindo-se ao chef do contemporâneo Epice, eleito pela edição especial “Comer & Beber” o melhor endereçode sua categoria. “Vou sempre lá. É prático e a relação custo-benefício é melhor que a de muito restaurante. Já levei até a minha mãe”, diz Landgraf.
Ídolo em sua profissão, Alex Atala participa do livro com uma recomendaçãode peso sobre o personagem principal. “As resistências têm seus heróis. O herói da cozinha de rua hoje se chama Rolando Massinha. Guerreiro, batalhador, simples e, acima de tudo, um homem que, com crença e fé no que faz e no que vende, cruza uma barreira na história da comida de São Paulo”, escreveu Atala. Nada mau para o cozinheiro autodidata que fez carreira dentro de uma Kombi.
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