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A briga entre os sócios do espanhol Don Curro

Como a disputa dos irmãos e proprietários do restaurante espanhol, mais tradicionais da cidade, vai mudar o destino do negócio

Por Arnaldo Lorençato
Atualizado em 20 jan 2022, 09h20 - Publicado em 14 mar 2015, 00h00

Sempre em porções grandiosas, a paella deu fama ao quase sessentão Don Curro. Graças à receita (um arroz ao açafrão, frutos do mar e pedaços de frango que custa 326 reais e serve três pessoas), o restaurante de Pinheiros sagrou-se oito vezes campeão na categoria espanhol da edição especial VEJA COMER & BEBER, a última delas em 2008. A fase gloriosa ficou para trás e, nos últimos tempos, a casa vem sofrendo com a perda de público e de prestígio. O problema mais grave, no entanto, envolve o rompimento recente entre os sócios. No comando do negócio, os irmãos José Maria e Rafael Rios, filhos do fundador do estabelecimento, brigaram feio e decidiram se separar. Falta apenas a assinatura do divórcio comercial, prevista para ocorrer nos próximos dias. O racha vai fazer o Don Curro sair do confortável imóvel de 2 000 metros quadrados na Rua Alves Guimarães.

+ Conheça a história do Don Curro

No fim de janeiro, uma acalorada discussão no salão do restaurante entre José Maria e seus sobrinhos, Rafael e Rodolfo, filhos de Rafael, tornou pública para quem almoçava por lá a batalha travada pelos proprietários e seus herdeiros. Testemunhas contam que, aos berros, o tio proibiu a dupla de comer de graça. No mesmo tom, recebeu de resposta “Isso aqui era do meu avô”, disse um deles. Corre nos bastidores que o motivo do bate-boca foi a descoberta por José Maria de que Rafael é um dos sócios do Aragon, restaurante de culinária ibérica inaugurado em outubro no Jardim Paulista. Montar quase na clandestinidade uma casa concorrente do Don Curro no bairro vizinho foi considerado uma traição indesculpável. “Copiaram até o nosso estilo de cozinha”, queixa-se José Maria. “Se você for lá, verá que não tem nada a ver”, rebate Rafael. “Além disso, o restaurante é do meu filho Fernando. Só o acompanho e não faço parte do contrato social”, desconversa.

+ Receita: paella do Don Curro

Criada por Francisco Rios Dominguez (que era o toureiro Don Curro na Andaluzia antes de virar restaurateur no Brasil) e sua mulher, Carmen Escalona Garcia, em 1958, na Água Rasa, bairro da Zona Leste, a casa espanhola foi trazida para Pinheiros na década de 60. Na separação comercial, José Maria comprará os 37,5% de Rafael e passará, assim, a ter 75% na empresa. Os 25% restantes pertencem a suas irmãs Carmen e Isabel, que não participam da gestão. Pessoas próximas aos irmãos contam que a relação entre eles nunca foi tranquila. “A coisa vem se deteriorando faz tempo”, reconhece José Maria.

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Don Curro
Don Curro ()

Um dos motivos das encrencas entre os dois envolvia a forma de renovar o negócio. “O Rafael queria popularizar a marca e transformar o Don Curro em uma rede,” diz José Maria, que não concorda com isso. Nos tempos áureos, passavam pelo salão com cozinha envidraçada perto de 10 000 pessoas por mês. Esse número despencou para menos de 4 000 nos últimos três anos. “Aos sábados e domingos, continuamos trabalhando bem, mas, durante a semana, o movimento caiu por causa da proibição de fumar, da Lei Seca e da insegurança com arrastões”, acredita Rafael, que continua dando expediente no Don Curro junto com o filho Rodolfo. A queda na quantidade de clientes se refletiu no número de funcionários, que baixou de 150 na década de 90 para os cinquenta atuais. “Temos espaços ociosos no restaurante”, reconhece José Maria ao se referir aos depósitos de alimentos, câmaras frias e peixaria. Com a cisão entre os dois, deve ocorrer a venda do imóvel próprio da Alves Guimarães.

Don Curro
Don Curro ()

Com um terreno de 1 300 metros quadrados e fincado em um ponto bem valorizado e cobiçado por construtoras de prédios, ele valeria 18 milhões de reais, segundo as contas dos irmãos. A ideia de José Maria é procurar um novo ponto nas redondezas para remontar o Don Curro. A administração ficará aos cuidados de sua filha Sabrina Rios. “É preciso passar o comando para a terceira geração”, diz ele.

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