Coquetelaria desponta em Pinheiros
Sem carão, bares apostam em drinques bem executados em ambiente informal
Nada contra os grandes balcões onde barmen-estrelas recitam o terroir de cada ingrediente, esculpem pedras de gelo à la Brecheret e derramam o líquido na taça com a postura de um Baryshnikov. Esses locais costumam ser ótimos para tomar uma. Mas o paulistano está aprendendo a apreciar sua bebida de maneira diferente, mais desencanada, como quem entorna uma cervejinha.
“A coquetelaria estava indo para um lado arrogante”, acredita a bartender Talita Simões, sócia do recém-inaugurado Biri Nait, em Pinheiros, bar que defende justamente a simplificação. A profissional, que já passou por endereços tradicionais de Londres e de São Paulo, como o Skye, no Hotel Unique, e o restaurante Side, no Itaim, deixou de lado a pompa e criou para o lugar bons coquetéis de fácil execução, por preços que se iniciam em razoáveis 19,90 reais, servidos em ambiente jovial, quase de baladinha. “Aqui não tem nada ‘gourmetizado’”, crava.
O Biri Nait faz parte de uma recente geração de estabelecimentos abertos no último ano em Pinheiros, tradicional reduto cervejeiro. Os empresários encontram na região aluguéis um pouco mais em conta que no Itaim ou nos Jardins e um público em busca de ambientes descolados. Nesse cenário, vão atraindo também fãs de destilados acostumados com bares, digamos, mais sérios.
Um dos grandes ímãs de bons levantadores de copo é o bombado Guarita, fundado em julho. Na mureta que a casa mantém na calçada, o pessoal se apinha e esvazia taças em clima de total informalidade. “O cliente pode vir de chinelo”, diz o sócio e bartender Jean Ponce, famoso por ter trabalhado no chique D.O.M, de Alex Atala. “Faço o mesmo drinque que eu executava no melhor restaurante do Brasil”, jura.
Quem vasculha o bairro para matar a sede etílica depara até com as versões mais botequeiras dos templos da birita. Na Rua dos Pinheiros, o Paramount tem tudo para ser um pé-sujo, mas serve atraentes tragos preparados por Netinho, ex-funcionário do concorrido Astor, na Vila Madalena. Perto dali, na Avenida Faria Lima, acha-se o Spritz, onde se tomam bebidas de sotaque italiano.
O movimento não para de crescer. No dia 14, deve brotar na área outro defensor da bandeira “taça sem pose”. É o Guilhotina Bar, na Rua Costa Carvalho. O projeto chama atenção por ser capitaneado por um dos bartenders mais respeitados do país, Márcio Silva, que foi o primeiro titular do ótimo SubAstor, na Vila Madalena, e dono de longa carreira no exterior.
Ele montou o estabelecimento com poucas mesas — são apenas quatro — e alguns barris de apoio, com espaço de sobra para a galera circular enquanto beberica os coquetéis feitos por ele a preços de 24 a 31 reais. “O segredo é a pré-produção, com infusões que demoram até três semanas para ficar prontos”, garante. Lá todo mundo vai pôr a mão na massa. Um dos sócios, Rafael Berçot, auxiliará no balcão, e o outro, Marcello Nazareth, ajudará a receber a clientela. Glamour para quê?