Dono do L’Entrecôte de Paris processa o chef Olivier Anquier
A disputa judicial, que corre em segredo de justiça, gira em torno do contrafilé com fritas, carro-chefe dos dois restaurantes
Está errado quem acredita que um filé com fritas só traz felicidade. Quando o assunto é negócio, o prato cobiçado pelos paulistanos pode trazer também muitos dissabores. No momento, ele é o ingrediente principal de batalha que já dura ao menos três anos e foi parar na justiça. O empresário José Carlos Semenzato, 48 anos, dono da rede franqueada L’Entrecôte de Paris, deu início ao processo judicial contra o chef e apresentador de TV Olivier Anquier, que é proprietário do L’Entrecôte D’Olivier, em 2014, acusando-o de danos morais e materiais.
O processo foi motivado pelas postagens nas redes sociais do chef Olivier, nas quais ele convidada o público a conhecer o seu L’Entrecôte d’Olivier, lugar que servia o contrafilé “original”. Segundo Semenzato, as postagens davam a entender que a concorrência (no caso, a sua rede de restaurantes L’Entrecôte de Paris), seria a versão “genérica” do negócio.
“Fazer isso é coisa de quem não tem nenhum entendimento do mundo empresarial. Não se vence um concorrente diminuindo-o, mas sim com qualidade e competência”, diz José Carlos Semenzato
O processo corre em sigilo desde o começo a pedidos do advogado do L’Entrecôte de Paris. “Optamos por fazer desta maneira para nenhuma das empresas ser denegrida, mas já que o assunto se tornou público, que seja dita a verdade”, entende o empresário Semenzato. Sua rede de franquias já conta com 22 unidades, quatro delas em São Paulo.
O outro lado – Para Olivier Anquier, 57 anos, há um problema de interpretação. Ele faz questão de ressaltar que ele foi o responsável por “importar” o modelo de menu único de Paris, onde funcionam os restaurantes Le Relais de l’Entrecôte e Le Relais de Venise.
A receita faz parte da culinária francesa, muito conhecida pelo exímio preparo de molhos. Segundo o chef, todo fim de semana as famílias se reúnem para saborear o bife com fritas que tem, na verdade, o molho como a estrela principal. “Cada família faz uma receita diferente de molho. No meu restaurante sirvo a da minha tia Nicole”, conta Olivier. Ao trazer a ideia para São Paulo, o chef passou a servir, ao lado das fritas, o contrafilé em tiras já no prato, ao contrário da França, onde o costume é o garçom servir a carne.
Olivier inaugurou sua primeira casa, na rua Doutor Mario Ferraz, 17, em 2009, com o nome de L’Entrecôte de Ma Tante (Entrecôte da Minha Tia). No final do mesmo ano e a menos de um quilômetro de distância (Rua Pedroso Alvarenga, 1135) abria as portas o L’Entrecôte de Paris, servindo também um menu único: salada de entrada e contrafilé com fritas. “Há cerca seis anos, mudei o nome do meu restaurante, acrescentando o Olivier, para evitar a confusão entre os dois”, coloca o chef. Em 2016, ainda com o objetivo de se diferenciar do concorrente, o cozinheiro famoso promoveu a mudança da tipografia da marca. Mas, reconhece, que a confusão continua até hoje. “Muitas pessoas levavam o cupom de desconto oferecido por eles (L’Entrecôte de Paris) no meu restaurante”.
“Isso é uma clara demonstração de insegurança, que não vai mudar nada. Eu existo e sempre vou existir. Agradeço a ele por difundir esse conceito pelo Brasil”, diz Olivier Anquier
De acordo com Rodolfo Correia Carneiro, sócio do Carneiro e Advogados Associados e responsável pela ação movida pelo L’Entrecôte de Paris, a primeira vitória foi a aprovação de uma liminar a fim de multar Olivier em 20 000 reais por cada vez que o mesmo usasse as palavras “original” ou “genérico” em redes sociais e entrevistas, com intuito de desvalorizar o concorrente. Além disso, ainda segundo os advogados, um juiz de primeira instância reconheceu se tratar de concorrência desleal e proferiu a sentença a favor do L’Entrecôte de Paris. A indenização requerida equivale a 10% das vendas realizadas nos restaurantes de Oliver no período em que foi utilizada a palavra “original” para designar o L’Entrecôte D’Olivier.
“O caso aguarda a sentença de segunda instância e, portanto, está passível de reforma”, explica Rodolfo Carneiro. “Se o réu não conseguir suspender os efeitos de condenação, o mesmo, provavelmente, deverá pagar uma indenização milionária”. Olivier recorreu da decisão judicial. “Não podemos impor uma ditadura de interpretação de texto ao público. Eu não tive a intenção de prejudicar o concorrente”, defende-se o chef.