Sesc 24 de Maio recebe o Choraço, projeto em homenagem ao choro
Na sua terceira e maior edição, evento reúne diferentes gerações de chorões; gênero tem ganhado nomes contemporâneos
O choro está longe de ser coisa de museu. E o projeto Choraço, que reunirá shows, oficinas e bate-papos sobre o gênero musical no Sesc 24 de Maio, é prova disso.
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“Nesta edição a gente está trabalhando não só com artistas clássicos, mas também com os mais contemporâneos, com pessoas que bebem na fonte e continuam perpetuando a história do choro”, conta Silas Santos, técnico de programação musical da unidade. “Esse terceiro encontro é mais grandioso, a gente vai envolver não só as atividades em música, mas também atividades informativas, cursos, masterclasses.”
O período de realização do festival não é uma escolha aleatória. No dia 23 de abril, este sábado, um dia após a abertura, comemora-se o Dia Nacional do Choro e marca o nascimento do músico e compositor carioca Pixinguinha, o nome mais fulgurante no desenvolvimento do gênero que começou como um “abrasileiramento” da música erudita europeia.
A união de bandolim, violão de sete cordas, clarinete e pandeiro, trazendo ainda as influências de ritmos africanos, fundou o estilo conhecido há mais de 100 anos e abriu os caminhos para a popularização do samba.
O berço do choro é o Rio de Janeiro. Mas a capital paulista não passa despercebida na biografia do estilo musical — João Dias Carrasqueira, Antonio D’Auria, Amador Pinho e Garoto são algumas referências paulistanas citadas por Izaías Bueno de Almeida, 84 anos, fundador no início dos anos 70 do grupo Izaías e Seus Chorões, o mais antigo em atividade na cidade.
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Nascido na Zona Norte e criado em um dos redutos do samba na capital, o Parque Peruche, Izaías toca bandolim desde os 14. Nas últimas sete décadas, nunca havia ficado mais de uma semana sem manusear seu instrumento profissionalmente — até chegar a pandemia. “Cheguei a entrar quase em depressão porque o conjunto parou, a gente não via mais ninguém, perdemos amigos do choro. Isso causou uma profunda tristeza em todos os chorões”, revela.
A ferida de ver a cultura das rodas nos botequins, cada vez mais raras, ser varrida de vez em decorrência da Covid-19 parece estar sendo curada — e o projeto Choraço representa o retorno mais do que esperado. “Tem muito jovem tocando, com força total, isso é muito importante — e muito diferente da época em que o choro havia morrido completamente com o advento da bossa nova. Nós nunca tivemos um movimento como esse que está acontecendo”, compara o integrante do grupo cinquentão.
E, representando as novas gerações, surgem nomes como o conjunto paulistano Chorando as Pitangas, com integrantes na faixa dos 30 e 40 anos, que estreia o disco Terceira Dose em show com participação dos Barbatuques, e o músico mineiro Thiago Delegado, 39, violonista que lançou seu quinto álbum, Detalhes Guardados, no fim de 2021.
Outro destaque na programação é o trompetista e compositor Mateus Aleluia Filho, cujo pai é ex-integrante do conjunto Tincoãs e pesquisador de cultura afro-brasileira. “Minha relação com choro é bonita, já que meu instrumento participa das rodas, das gafieiras. Meu disco tem muita influência dele”, conta o instrumentista, que lançou seu primeiro trabalho-solo, Sopro do Interior, em agosto do ano passado.
+Assine a Vejinha a partir de 12,90.
Confira os destaques da programação:
SHOWS
Izaías e Seus Chorões
Sáb. (23), 20h. Dom. (24), 18h. R$ 40,00
Mateus Aleluia Filho
27/4, 20h. R$ 40,00
Thiago Delegado
30/4, 20h. R$ 40,00
Chorando as Pitangas
12 e 13/5, 20h. R$ 40,00
OFICINA
Sobre violão de sete cordas – com Edmilson Capelupi
17/5, 14h. Grátis
BATE-PAPO
A história do choro – com Izaías e Israel Bueno de Almeida
Sex. (22), 19h. Grátis
Sesc 24 de Maio. Rua 24 de Maio, 109, centro, ☎ 3350-6300. → Até 20/5. sescsp.org.br.
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Publicado em VEJA São Paulo de 27 de abril de 2022, edição nº 2786