Dee Lazzerini celebra as mulheres da família em nova mostra na Faap
Exposição individual de artista mineiro reúne mais de 200 obras, incluindo série de corações "alfinetados"
Mais de 1 milhão de alfinetes integram a nova mostra Latência, de Dee Lazzerini — cada um deles inserido manualmente, destaca o artista. “Adoraria ter uma máquina para isso, mas coloco um por um mesmo!”, diverte-se.
Encaixados em esculturas de poliuretano, os alfinetes são sua principal matéria-prima e compõem a seleção de 230 obras que estarão em exposição no Museu de Arte Brasileira, na Faap, a partir de terça-feira (14).
“Quando construo esses corpos artificiais, perfuro e machuco a cada alfinete. Um único alfinete representa agressão, mas milhares deles se tornam proteção. Juntos, eles formam uma segunda pele”, define.
Nessa camada de proteção, as “perfurações” feitas em cada escultura podem ser interpretadas como os desafios e rupturas inerentes à vida — entre eles, a dor e o luto. Mas a escolha do alfinete, segundo Dee, faz referência às mulheres de sua família.
“Existe uma relação afetiva, porque todas elas bordavam e o alfinete é uma ferramenta de costura”, explica. “A morte de minha mãe e dessas mulheres também foi bem emblemática para entender que a vida é peculiar e que você perde seu chão, mas assim se torna mais forte.”
De maneira instintiva, os formatos de suas obras também nasceram inspirados nessa infância repleta de mulheres e na energia feminina que o artista mineiro herdou dessa época.
“Lembro que minha mãe criava moldes para cortar as roupas, me ensinou a fazer tricô e eu ficava deitado na cama dos meus pais com uma caixinha de sapatos brincando de Barbie”, conta. “Depois minha mãe me contou que eu não ‘tinha’ uma Barbie, na verdade eu roubei a que era da minha irmã”, relembra, aos risos.
Todos esses elementos hoje fazem parte de seu trabalho e podem ser vistos na nova exposição individual. Dee é um dos novos talentos do projeto Dan Acredita e participou da coletiva Estrato Lúcido na DAN Galeria, em Itu.
Em cartaz até 14 de julho, sua nova mostra inclui a instalação-título, com 111 esculturas exibidas em diferentes etapas de produção, e uma sequência de corações estampados com bandeiras de países como Finlândia, Canadá e Japão. A série é inspirada no World Happiness Report, estudo anual da ONU que classifica a felicidade global em 143 nações ao redor do mundo (na edição de 2024, o Brasil subiu da 49ª posição para a 44ª).
“Criei oitenta versões a partir dessa lista”, diz. Após passar pela Faap, Dee planeja investir na versão digital da instalação principal, que será transformada em NFT. “E quero muito buscar uma carreira internacional. Acho que Miami é um polo interessante por sediar a Art Basel”, adianta.
Museu de Arte Brasileira. Faap. Rua Alagoas, 903, Higienópolis, 3662-7198. Com acesso a cadeirantes. A partir de terça (14). Terça a domingo, 10h/21h. Até 14/7. Grátis. faap.br/museu
Publicado em VEJA São Paulo de 10 de maio de 2024, edição nº 2892