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Poder SP - Por Sérgio Quintella

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Sérgio Quintella é repórter de cidades e trabalha na Vejinha desde 2015
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Músico transforma contêineres abandonados em salas de aula em Paraisópolis

Projeto do empreendedor social Acácio Reis atende 140 alunos com ensino de programação, reforço escolar, contação de história e música

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
5 jan 2024, 06h00

Até o fim de 2019, quem passasse pela Rua Manoel Antonio Pinto, em uma das bordas da favela de Paraisópolis, a segunda maior de São Paulo, se deparava com um grande terreno sem uso, cuja área interna possuía cinco contêineres enferrujados e abandonados.

O período coincidia com uma das épocas mais tristes da comunidade. Em 1º de dezembro daquele ano, nove pessoas que participavam de um baile funk morreram pisoteadas após uma ação desastrada da Polícia Militar.

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Com uma primeira ideia de criar uma escola de samba, para aproveitar seus dotes musicais e ensinar percussão à garotada carente do pedaço, o músico Acácio Reis, 31, viu no terreno uma oportunidade para poder guardar seus instrumentos musicais.

Ele localizou a proprietária do espaço, que prontamente topou ceder um pequeno galpão e uma área ao lado: “Cuida e não me dá trabalho”, ouviu o jovem, em tom de brincadeira.

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Catherine (à dir.), com a coordenadora pedagógica Jéssica Brito: cobertor curto (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Quatro anos depois, a Unidos de Paraisópolis não apenas cuidou do espaço como dá trabalho para cerca de quinze voluntários (como estudantes de escolas bilíngues da região que fazem estágios, por meio de parcerias) e hoje atende a 140 crianças e adolescentes que vivem nas proximidades.

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Em cada um dos antigos contêineres, hoje reformados, Acácio montou um segmento de ensino. Há espaços para aulas de programação (Python, Java e desenvolvimento web), reforço escolar (matemática, inglês e jogos educativos) e contação de história (juntamente com aulas de artes).

Como músico de formação, Reis transformou dois dos locais em salas com aulas de piano, flauta, teoria musical, bateria, violino, violão, entre outros. “Nos dois anos iniciais trabalhamos sem energia e só conseguimos montar a estrutura elétrica quando angariamos uma doação de 10 000 reais”, conta o coordenador do projeto.

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Desde o início, aliás, essa tem sido a tônica da ação social. Sem verbas e recursos fixos, a manutenção dos cursos e das estruturas ocorre por meio de doações.

Quando Vejinha esteve no local, no fim do ano, dois ventiladores de parede, objetos de doação, estavam sendo instalados. A mão de obra para ligar os aparelhos também foi fornecida de forma voluntária.

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“Precisamos agora de novos investimentos para aumentar nossa capacidade”, diz Reis, que espera ampliar o atendimento em mais vinte vagas a partir deste ano.

Projetos como o Unidos de Paraisópolis são importantes não apenas para levar conhecimentos que certamente serão utilizados pelas crianças no futuro, mas para resolver questões momentâneas.

“Como meus pais trabalham muito e eu ficaria muito tempo sozinho, venho para cá todas as tardes”, diz o jovem Breno Soledade, 11, um dos alunos-fundadores do local.

O garoto estuda percussão, inglês e flauta, mas é a bateria sua próxima e principal meta. “Já vou arrumar um horário para ele começar agora no início do ano”, diz Acácio.

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Breno: de dia na escola e à tarde nas diversas aulas do projeto

Em dezembro passado, a organização conseguiu aprovação em um programa municipal de apoio a projetos culturais, o Pro-Mac.

A expectativa é que ainda no primeiro semestre os recursos iniciais possam ser captados. “Apesar das dificuldades, nós sempre brigamos para ser vistos como potência, nunca como carência”, explica o idealizador da empreitada.

A história de Acácio Reis e da Unidos de Paraisópolis começou após uma reportagem de Vejinha que abordou a trajetória do líder comunitário Gilson Rodrigues, em 2019.

Na ocasião, Acácio fazia parte da orquestra local e apareceu na revista enquanto estudava para ser maestro (veja os detalhes no quadro). Dias depois, a publicitária Catherine Nakiri fez contato com Acácio e ajudou não apenas a montar o projeto, como está presente quase todos os dias no espaço.

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Pouco antes do Natal de 2023, Catherine participou de uma ação da Amazon e da Cruz Vermelha, que distribuíram brinquedos para todos os alunos. “O cobertor fica curto, mas frio aqui a gente não passa”, diz a publicitária.

Os próximos passos do projeto são profissionalizar seu método e continuar dando muito trabalho em Paraisópolis.

O começo de tudo

Após aparecer em reportagem em que contou sobre a necessidade de uma batuta (o instrumento do maestro) para substituir o lápis em suas aulas na orquestra de Paraisópolis, Acácio recebeu a ajuda do aposentado Ernesto Niemeyer.

Além de comprar a varinha, o sobrinho-neto do arquiteto famoso auxiliou o jovem em vários momentos, como na conclusão do curso de música. A amizade continua e Ernesto é um dos principais colaboradores da Unidos de Paraisópolis.

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(Reprodução/Veja SP)

Publicado em VEJA São Paulo de 5 de janeiro de 2024, edição nº 2874

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