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Aprendiz de maestro que usava lápis para treinar ganha batuta

Após ler reportagem da Vejinha sobre Paraisópolis, Ernesto Niemeyer comprou o instrumento para o jovem Acácio Reis

Por Sérgio Quintella Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 14 fev 2020, 15h55 - Publicado em 11 out 2019, 06h00
Niemeyer (à dir.), após presentear Acácio: “Vou ajudar mais” (Alexandre Battibugli/Veja SP)
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De um lado, um jovem aprendiz de maestro de 26 anos, integrante da Orquestra Filarmônica de Paraisópolis, projeto social da favela homônima encravada no Morumbi. Do outro, um economista aposentado de sobrenome emblemático que se solidarizou com as dificuldades do estudante. Sem dinheiro para comprar uma batuta, o instrumento do chefe da orquestra, Acácio Reis treina com um lápis. Treinava.

Após ler a reportagem de capa da Vejinha de 18 de setembro, sobre as conquistas e as adversidades do bairro, incluindo a história de Reis, o paulistano Ernesto Niemeyer, 67, morador dos Jardins, entrou em contato com o rapaz e se propôs a comprar a varinha que é usada para conduzir os movimentos dos músicos. Não contente, o “mecenas”, cujo avô era primo-irmão do arquiteto Oscar Niemeyer, adquiriu uma estante de madeira para apoiar partituras. Mais: doou vinte flautas aos alunos do projeto e promete comprar algumas profissionais caso apareça alguém com potencial. Ao todo, gastou 1 500 reais. “Sempre fui um homem abençoado, nunca passei necessidade e meu dinheiro jamais acabou no meio do mês. A história do lápis me despertou a obrigação de ajudá-lo”, afirma Niemeyer. Sua principal oferta — além de diversas roupas (“Temos o mesmo chassi”) que doou ao rapaz — ainda não foi aceita: “Vou pagar seus estudos, caso ele precise”.

Acácio Reis
Acácio Reis, antes de uma apresentação: sem a batuta, vai de lápis (Alexandre Battibugli/Veja SP)

A ajuda pode vir em boa hora. Como dependia dos 1 800 reais mensais que ganhava na orquestra, como ajudante do maestro Paulo Rydlewski, Reis viu seu orçamento apertar-se depois que o chefe precisou encerrar parte das atividades por falta de patrocínio. Ficou sem salário, e a maioria dos 200 alunos foi dispensada. “Estamos fazendo apresentações pontuais. Consegui pagar a faculdade nos últimos dois meses, mas em novembro não sei como será”, afirma o jovem, que está no último ano do curso de música e dá aulas particulares de bateria e percussão na região do Morumbi. Para realizar o sonho de virar maestro, ainda há um longo percurso de pós-graduação. “Espero que isso gere um efeito multiplicador e que mais pessoas ajudem a orquestra”, sonha Ernesto Niemeyer, o homem que arquitetou as primeiras doações.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 16 de outubro de 2019, edição nº 2656.

Gilson Paraisópolis
(Alexandre Battibugli/Veja SP)
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