Saquê vira tema de festival na Japan House com degustações gratuitas
Bebida tradicional no Japão hoje é servida até em restaurantes nada asiáticos
Embora por aqui não alcance a mesma popularidade de uma cerveja estupidamente gelada, o saquê conseguiu conquistar parte do público brasileiro. Primeiro, com as malfadadas saquerinhas (“caipirinha” de saquê). Agora, esse líquido tradicional no Japão que resulta da fermentação do arroz tem recebido espaço também em redutos mais gastronômicos não orientais.
Um deles é o bar de vinhos Beverino, na Vila Buarque, onde o sommelier e proprietário Bruno Bertoli não raro sugere uma dose para acompanhar um dos pratos do cardápio. Em restaurantes premiados, a prática também se torna presente. Instalado nos Jardins, o Fame, o melhor italiano da cidade por VEJA SÃO PAULO COMER & BEBER 2021, serve uma degustação de onze etapas (430 reais) que pode ser harmonizada com onze taças (390 reais), dez de vinho e uma da bebida asiática, em geral pareada com receitas de lula e bottarga (ovas de peixe curadas).
“Combina principalmente pela textura, que preenche o paladar de forma cremosa e envolvente”, diz Erika Renzetti, que cuida da seleção etílica enquanto o marido, o romano Marco Renzetti, toca o fogão. Se o público estranha a “intrusão” oriental? Que nada. “Muitos não conhecem saquês mais secos e se surpreendem com os que servimos. Sempre pedem um bis.”
Mas essa relativa popularidade ainda é pequena para quem trabalha diretamente com a bebida. Enquanto entre janeiro e setembro de 2021 o Brasil comprou 192 000 litros do Japão, a Itália importou 236 000 litros de lá (não entram no cálculo, vale lembrar, saquês produzidos nos próprios países). Os dados são da associação nipônica Japan Sake and Shochu Makers Association (JSS), que apoia a produção, promoção e distribuição de bebidas.
“Teríamos de tudo para ser um dos maiores importadores, com uma quantidade de descendentes enorme, uma quantidade grande de restaurantes japoneses, temakerias…”, aponta Fabio Ota, sommelier da bebida. Para ajudar a divulgar o produto por aqui, Ota, à frente da importadora e loja Mega Sake, se uniu à JSS e realizou em março de 2021 o primeiro Festival do Sake, 100% digital.
Neste ano, na segunda edição, a coisa ficou maior ainda. Agora também com a parceria da Japan House, o evento será presencial, entre 4 e 13 de março, com seis workshops e 324 vagas para degustações bem informais, nos corredores do museu, mais alguns encontros on-line. As inscrições para as atividades, gratuitas, deverão ser feitas no site da instituição.
Vão rolar também atividades fechadas ao público, dedicadas a gente do setor, como um bate-papo sobre o cenário do item no país, com a presença de Hideyuki Ozaki, presidente da Kikkoman do Brasil, dona da Azuma Kirin, produtora nacional. Esse encontro será exibido pela internet.
O festival vai contar, ainda, com o lançamento do documentário São Paulo, Capital do Sake, filme que mostra as diferentes formas de consumo na metrópole e que ficará disponível no YouTube. “Fomos a lugares como o Izakaya Issa, um boteco na Liberdade, ao Ohka, (restaurante) “baladinha” que vende dezenas de garrafas por dia”, diz Ota.
Bê-á-bá > perguntas ao especialista*
Beber quente ou frio?
Trata-se de uma bebida versátil, mas o costume de beber saquê quente não é tão popular no Brasil. No Japão,
é tomado desde geladíssimo até superquente. Mais importante que a temperatura é ter um saquê fresco.
O recipiente ideal para tomar é o masu, aquele copo quadradinho?
Tem restaurantes que o usam, mas não faz sentido nenhum. Não salienta os aromas. Saquê bom é tomado
na taça, principalmente os mais aromáticos.
Vale a pena tomar com sal?
Não. Sal é para mascarar o sabor de bebida ruim.
Isso não se justifica.
* Fabio Ota tem o título de Master Sake Sommelier da Sake Sommelier Association (SSA) de Londres.
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