‘Anatomia de Uma Queda’ explora drama de tribunal em ritmo tenso
Vencedor em Cannes, longa francês acompanha mulher suspeita de assassinar o marido
✪✪✪✪ Atual vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, Anatomia de Uma Queda estreia nos cinemas com o currículo turbinado por duas vitórias no Globo de Ouro: melhor roteiro e melhor filme internacional, categoria em que curiosamente não poderá figurar no Oscar, já que não foi a escolha da França para concorrer ao prêmio.
Não estranhe, porém, se o longa estiver entre os postulantes ao prêmio de melhor filme quando os indicados forem revelados na próxima terça (23). Méritos para isso não faltam no longa da diretora Justine Triet.
A começar pela atuação sublime da alemã Sandra Hüller como uma mulher suspeita de assassinato. A vítima seria seu próprio marido (Samuel Theis), morto após cair do sótão do chalé onde moravam. Além deles, a única pessoa presente no local no momento da tragédia era o filho do casal, Daniel (Milo Graner), menino com deficiência visual que não tem como dar um testemunho completamente assertivo sobre o caso.
E é justamente aí que brilha o roteiro escrito por Triet e Arthur Harari. Sem se preocupar em dar uma explicação inquestionável ao público, o filme vira um drama de tribunal que analisa as nuances da justiça, conforme são montadas as estratégias da defesa e promotoria.
A protagonista passa a ter cada detalhe de sua personalidade colocado em cheque, desde a orientação sexual até o trabalho como escritora, que, por sinal, rende uma acusação sobre sua habilidade de manipular a realidade.
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Tenso e repleto de camadas, Anatomia de Uma Queda é daquelas obras que, quando acabam, continuam na conversa que suscita junto ao público. Uma jornada intrigante que ecoa além da última cena.
Publicado em VEJA São Paulo de 19 de janeiro de 2024, edição nº 2876