Três pilares do antídoto do stress
Regina Chamon ensina que entender a construção sorrateira do stress em nossa rotina é algo fundamental para conseguirmos identificar e combater
Certa vez ouvi uma história sobre como cozinhar um sapo vivo. Bem, se você jogá-lo na frigideira quente, ele logo percebe o perigo e pula longe. Mas se você colocar o sapo em uma panela com água fria e deixar o fogo bem baixinho, ele se sente seguro, em um ambiente muito próximo do seu natural. Com isso, a água vai esquentando e, sem sequer perceber, ele já está cozido e sem vida! Então eu queria lhe contar que é exatamente isso que o stress faz comigo e com você! Em algumas situações da vida, como quando perdemos um ente querido, nós nos sentimos tão ameaçados como o sapo na frigideira quente. Nós nos permitimos ser cuidados, corremos em busca de ajuda, ficamos mais atentos ao que nosso corpo, mente e emoções precisam.
Mas imagine que você é o sapo na panela fria: metas no trabalho, homeschooling, aquele amigo querido foi internado com a saúde por um fio e a grana está realmente curta. A água foi esquentando e você não percebeu. Acostumou-se a dormir mal, acha que é normal se sentir cansado o tempo todo, a atenção não anda lá aquelas coisas. Aos poucos a vida foi perdendo o brilho sem que a gente notasse. Esse desafio silencioso funciona como um pano de fundo para muitas doenças como depressão, ansiedade, insônia, obesidade. Solução milagrosa não tem, mas existe um antídoto eficiente para nos ajudar a diminuir o desgaste com essas microdoses diárias de stress. Esse antídoto tem três pilares: reconhecer o stress, promover o relaxamento e as estratégias de adaptação.
Reconhecer o stress é o ponto inicial. Comece percebendo quais os sinais de alerta que seu corpo dá quando você está estressado. talvez uma tensão nos ombros, sensação de angústia, sono agitado. Pode ser ainda que você passe a comer muito doce, tome café sem parar, fique irritado, impaciente ou até se isole das pessoas de que gosta. Sinais reconhecidos, é hora de fazer uma lista das situações que o estressam e avaliar quais você pode eliminar e com quais realmente precisa lidar, para então se preparar para elas.
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Promover o relaxamento não é apenas descansar. É retomar o equilíbrio do corpo, após as microdoses de stress. Você pode fazer isso ao longo do dia com algumas respirações profundas, pausa para um chá, uma boa risada. Mas é importante também ter um momento realmente dedicado a você. Para quem gosta, pode ser meditação ou ioga. Vale ainda uma atividade que envolva a criatividade: escrita, música, pintura, bordado. Vale uma caminhada no parque. Só não vale deixar apenas para o fim de semana!
O terceiro pilar são as estratégias de adaptação. Para os momentos em que não há como sumir com o stress da sua frente é preciso estar com o corpo fortalecido: sono adequado, corpo em movimento, alimentação que nutre de verdade. É importante também estar com a alma fortalecida: uma boa rede de apoio, atitude de adaptação perante os desafios, olhar para a espiritualidade como parte do bem-estar. E contar com suporte profissional sempre que for necessário: terapeuta, psicólogo, psiquiatra.
O stress não é bom ou ruim, é apenas um sinal de que algo precisa ser adaptado. Podemos simplesmente reagir ou responder a ele de maneira consciente, percebendo nossas necessidades mais de perto e cultivando uma vida de mais equilíbrio e bem-estar.
Regina Chamon é graduada em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e certificada em manejo do stress pela Harvard Medical School. No Lapinha Spa, é responsável por cuidados integrativos.
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Publicado em VEJA São Paulo de 09 de junho de 2021, edição nº 2741