Imagem Blog

A Tal Felicidade

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Saúde, bem estar e alegria para os paulistanos
Continua após publicidade

O lugar que queremos habitar

O professor e antropólogo visual, Franklin Lopes, questiona: será que a casa em que vivemos nos abriga?

Por Franklin Lopes, em depoimento a Helena Galante
1 jul 2022, 06h00
Desenhos de construções características da cidade - prédios, casas
 (Getty Images/FILO/Divulgação)
Continua após publicidade

Mais do que um imóvel, um lugar onde reunimos e dispomos objetos, a casa pode ser mais bem entendida como um espelho. Ela nos apresenta diariamente e insistentemente a nós mesmos. Diante dessa imagem que a casa projeta, vamos percebendo a passagem do tempo e o ritmo da vida, dando contornos às nossas maneiras e manias, nos tornando curadores, artistas e espectadores de um museu autobiográfico que nos engolfa.

+ Como ter uma rotina criativa e gerenciar melhor seu tempo

A casa materializa, aterrissa e dá o contorno necessário para o infinito que habita em nós. Sem ela teríamos dificuldade para revisitarmos nossa história, nos reconhecermos e, principalmente, nos reinventarmos. Sem a casa, viveríamos afogados no efêmero dos pensamentos, percepções e emoções.

Ao trazer estabilidade para a vida, a casa nos oferece a possibilidade única de reunir passado, presente e futuro ao alcance das mãos. Talvez esteja aí sua relação inexorável com a identidade. A casa me orienta quando desejos e demandas embaralham os pés.

Diante desse caráter simbólico é natural que ela ocupe papel central em nosso cotidiano e abarque tudo o que nos é necessário para uma vida plena. No entanto, não é isso que vivenciamos atualmente em grandes centros urbanos.

Continua após a publicidade

Desde a Revolução Industrial culturalmente estamos sendo alijados da esfera doméstica. Compramos a ideia de que a vida só acontece em cores pungentes do lado de fora. É lá que estão nosso sustento, nossa diversão e socialização.

Nas cidades a casa se tornou mercadoria, sonho de muitos, privilégio de poucos que em geral terceirizam seus cuidados. Nas cidades, a casa congelou-se em imagens de Pinterest, livre de afetos, como num “visite decorado”.

Enquanto isso, outras redes sociais e crachás parecem ocupar o papel de espelho, nos oferecendo audiência e carreira, homogeneizando nossas escolhas e afastando-nos das possibilidades de habitarmos outros mundos.

Continua após a publicidade

+ Novas prioridades

É nesse cativeiro da vida moderna que o colapso civilizatório a que estamos submetidos encontra morada. A pandemia e a crise climática nada mais são do que expressões de uma casa em ruínas. Ao passo que uma nos confina, outra nos desaloja. Não cabemos mais dentro do mundo que criamos. 

É em meio a esse sentimento profundo de desterro, no entanto, que emerge a possibilidade de retornar. E nunca antes foi tão urgente entender a importância de retornar. Como bem coloca o filósofo e ambientalista indígena Ailton Krenak, “o futuro é ancestral”, e para encontrarmos felicidade e bem-estar precisamos resgatar a essência do morar, nos conectarmos com esse lugar que habitamos e que habita em nós, seja ele corpo, casa ou planeta.

Continua após a publicidade

Essa busca por repactuação já é uma realidade entre nós. Segundo um estudo feito pelo QuintoAndar em parceria com a Talk Inc, sete em cada dez brasileiros se veem morando mais perto da natureza ou em casas sustentáveis; e um em cada dois se vê morando fora dos grandes centros urbanos.

É fundamental abrirmos as portas para novas possibilidades, demolirmos os muros que nos isola e repensarmos, sentados à mesma mesa, sobre o que nos falta, nos sobra e preenche verdadeiramente. Ao longo do processo, fica o convite à reflexão: será que a casa em que vivemos nos abriga?

Franklin Lopes em perfil
Franklin Lopes é professor e antropólogo visual. Formado em administração de empresas (FGV) e mestre em antropologia visual (Goldsmiths, Inglaterra), vem se especializando em métodos de pesquisa multissensorial. É sócio-fundador e diretor de pesquisa da Zodíaco Cultural Strategy e idealizador do Projeto Pertence, que traz atenção para o papel que a casa e seus objetos ocupam (Arquivo Pessoal/Divulgação)
Continua após a publicidade

A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galante. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br

+Assine a Vejinha a partir de 9,90. 

Continua após a publicidade

Publicado em VEJA São Paulo de 6 de julho de 2022, edição nº 2796

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de São Paulo

a partir de 39,96/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.