Arte como caminho de cura e estímulo à saúde mental
Como o contato com a arte permite conectar-se à própria essência e se faz como um tipo de terapia?
Tudo começou em abril de 2019, antes de nem sequer imaginar o que seria uma “pandemia” e entender absolutamente nada sobre problemas psicológicos. Com uma sequência de acontecimentos desastrosos (a morte dos meus avós, a perda do emprego e o término de um relacionamento), descobri que a “tristeza” de minha mãe não era somente uma fase ou uma reação passageira, mas sim uma doença traiçoeira — a depressão. E eu fazia parte do grande time “ignorante” que não conhecia nem entendia a doença. Estudei e dediquei atenção para ajudá-la.
Percebi, ao conversar com diversas pessoas, que problemas psicológicos eram muito mais comuns do que imaginava, estavam muito presentes na sociedade, o que me fazia questionar — se praticamente todos sofrem com algum distúrbio, por que ninguém fala sobre o assunto, por que não buscamos ajuda?
E então vieram os entendimentos. Esse é um grande tabu porque nós não aprendemos sobre o que sentimos em lugar algum, não falamos sobre saúde mental na nossa casa, com nossa família, não conhecemos nada sobre distúrbios nas escolas. Deveria ser comum. Assim como vamos ao dentista ao sentir uma dor de dente, deveríamos tratar da mesma maneira das questões ou confusões mentais. Deveria ser natural procurar ajuda, um psicólogo, fazer terapia. Todas essas questões me provocaram um grande incômodo e a necessidade de fazer algo.
Então identifiquei que a arte poderia ser um grande caminho de cura para a depressão, constatando que havia uma melhora sempre que minha mãe entrava em contato com ela. Entendi que quando você está em contato com a arte, seja criando ou apenas apreciando, é como se tudo ao redor silenciasse, você se conecta com sua essência e consequentemente experimenta um tipo de terapia.
Assim nasceu a Feira Criativa Mente, com o propósito de quebrar o tabu sobre a depressão e disseminar informação de uma forma leve e disruptiva, estimulando a saúde mental em um evento repleto de arte, música, empatia e cultura. Além de reunir pequenos produtores, oferecendo espaço e oportunidades para apresentar e vender seus trabalhos, fazemos sempre uma roda de bate-papo aberta e descontraída para falarmos sobre questões psicológicas e cotidianas, levando informação e gerando trocas.
Com oito edições já realizadas em São Paulo, passamos por diversas regiões, como Pinheiros, Mooca, Jardins e Vila Madalena. As feiras ocorrem de
forma itinerante, justamente para levar informação ao maior número possível de pessoas.
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Hoje, minha mãe, Helena, continua em tratamento, mas afirma que o projeto a salvou e resgatou. Ela é a responsável pela curadoria dos artesãos: faz todo o atendimento aos pequenos produtores, o que acabou dando origem a uma verdadeira rede de apoio. Através do trabalho, das conversas e trocas, criam-se conexões e cumplicidades.
Os participantes identificam que a arte é realmente um caminho de cura para inúmeras pessoas, além de, claro, ser fonte de renda através da economia criativa. Helena também criou a Vitrine Virtual Criativa, iniciativa que ajudou inúmeros pequenos produtores pelo Brasil durante a pandemia.
Estamos crescendo, realizando edições mensais da feira, e temos novos projetos, como uma plataforma digital e um espaço físico, para se tornar o primeiro Hub Criativo de apoio à arte e à saúde mental. Acredito que nada é por acaso. Se aplicarmos o conceito da resiliência, extraindo oportunidades dos desafios que vivemos, poderemos, com certeza, fazer deste mundo um lugar melhor para todos.
A próxima edição da FEIRA CRIATIVA MENTE (@criativamente.arte) acontece no domingo (29) na Vila Madalena, com atividades gratuitas para todas as idades. A programação está disponível em projetocriativamente.com.br.
A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galante. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br
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Publicado em VEJA São Paulo de 1 de junho de 2022, edição nº 2791