2020 foi o ano em que a minha cabeça ficou cheia de incertezas como a de quase todo o mundo. Tinha o COMER & BEBER para fazer, mas havia o medo de ficar doente, de os lugares voltarem a fechar por causa da pandemia e a necessidade de correr contra o relógio, tirar do zero uma revista em apenas três meses. Foram noites insones e em vários momentos me perguntei ‘vou conseguir?’. A resposta era: não tinha outra escolha e a edição de ‘o ano dos resistentes’ está aí para provar essa resiliência. E deu certo.
Mas essa história começa beeeem antes. Pouco tempo antes do lançamento do guia Comer & Beber em 1997, mais precisamente cinco anos, eu estreava como crítico de restaurantes — várias pessoas me perguntam “como faço para me tornar um crítico?” e sempre penso que ainda vou escrever um manual sobre o tema, justo eu que vim ao mundo da gastronomia sem manual. A Vejinha, desde seu nascimento 36 anos atrás, publicava sua seção semanal de garfo e copo. Nessa época, escrevia sobre cinema e teatro.
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Minha estreia foi em julho de 1992 com um texto do Carlino, o mais antigo de São Paulo. Era uma responsabilidade imensa resenhar um lugar que surgiu no fim do século XIX e foi testemunha de fatos como a virada do império para a república, duas guerras mundiais, a Semana de Arte Moderna, a criação e mudança do Masp do centro para a Paulista, o golpe militar, os festivais de música da Record com ‘É Proibido Proibir’… Devo ter sentido um frio na barriga ao ser convocado para a tarefa e para o posto que, inicialmente, seria provisório. Nem me lembro dessa sensação, mas não esqueço da bavaresa com calda de frutas frescas do Carlino.
Na época da primeira edição do Comer & Beber, a recordação nada agradável é que não fui convidado para fazer os textos dos vencedores. Aliás, nenhum texto. Entrei na última hora quando o corpo de notáveis convidados não deu conta do recado e precisei por a revista de pé. A partir daquele momento, sabia que tinha uma missão.
Sou a única pessoa que está no Comer & Beber desde o início. Inclusive nos três anos que passei fora da Vejinha como editor de gastronomia da extinta ‘Gazeta Mercantil’ — nessa época, participei como jurado de restaurantes. A edição cresceu e chegou a 1000 endereços. Mas também se ajustou aos novos tempos com os 450 estabelecimentos atuais, número muito significativo não só em São Paulo, mas em qualquer outra capital do mundo.
Vale lembrar que nem mesmo a pandemia assustou a guerreira equipe de gastronomia por mim conduzida, leia-se Saulo Yassuda (bares) e Gabriela Del’Moro (comidinhas), enquanto alguns guias desapareceram e outros foram suspensos, inclusive internacionais — a Editora Abril continuou acreditando e investindo no segmento. Fomos às ruas, visitamos, provamos, avaliamos como sempre fizemos — claro que com todos os cuidados que se exigem diante da assustadora pandemia. E o guia nunca deixou de ser publicado nem mesmo em um cenário tão adverso quanto o de 2020, o ano dos resistentes como está estampado na capa do Comer & Beber mais que especial.
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Agora, se completam 25 edições em defesa da gastronomia, sempre de olho no leitor e valorizando estabelecimentos do ramo. E empresto aqui o slogan do extinto ‘Guia Brasil’: vamos antes para você se dar bem. Dá um baita orgulho fazer parte dessa história, ter contribuído para reconhecer o talento de cozinheiros estreantes e de muitos outros consagrados como os 10 que estão nesta foto e foram destacados ao longo das duas primeiras décadas do guia. Que venham mais 25 anos cheios de apetite!
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