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Por Arnaldo Lorençato
O editor-sênior Arnaldo Lorençato é crítico de restaurantes há mais de 30 anos. De 1992 para cá, fez mais de 16 000 avaliações. Também é autor do Cozinha do Lorençato, um podcast de gastronomia, e do Lorençato em Casa, programa de receitas em vídeo. O jornalista é professor-doutor e leciona na Universidade Presbiteriana Mackenzie
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Memória: Darcy Miolo, um dos fundadores da Miolo, faleceu aos 79 anos

Empresário, vítima de uma parada cardíaca, foi o maior produtor de vinhos finos do país

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Atualizado em 20 jan 2022, 14h06 - Publicado em 19 mar 2021, 13h30

Mais velho de seis filhos, Darcy Miolo, gaúcho com raízes no campo, encontrou no cultivo de uvas a vocação profissional e de vida. O empresário, um dos fundadores da vinícola Miolo com os irmãos Antônio e Paulo Miolo, começou a carreira com plantio e venda de uvas americanas — aquelas destinadas ao consumo doméstico e para produção de suco, mas com as quais muitos fabricantes faziam e ainda fazem vinho no Brasil —, fez uma correção de rota ao plantar variedades próprias para a bebida, de Vitis vinifera.

Se a Miolo se transformou em uma das três maiores vinícolas do país, isso se deve ao visionário Darcy, que morreu em 20 de dezembro, aos 79 anos. Completaria 80 anos nesta semana, em 17 de março. Vítima de uma parada cardíaca, ele tinha diabetes. “A palavra dieta não fazia parte do dicionário dele. Estava muito fraquinho e partiu depois de uma semana hospitalizado”, conta o filho Fábio Miolo, gerente on trade da Miolo Wine Group e radicado em São Paulo.

+ Leia sobre a nova linha de vinhos da Miolo em parceria com a Wine

Antônio, Darcy e Paulo Miolo: negócio familiar
Antônio, Darcy e Paulo: trio de criadores da Miolo Wine Group (Emerson Ribeiro/Divulgação)

A vocação foi herdada do avô Giuseppe Miolo, que veio para o Brasil em 1897, para se dedicar à agricultura na região da Serra Gaúcha, deixando para trás uma vida de pobreza no Vêneto. “Desde que meu bisavô veio para cá, sempre cultivamos uvas”, lembra Fábio.

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Mas demorou para que os Miolo, liderados por Darcy, chegassem ao mundo das uvas finas e aos vinhos de qualidade. Começaram a mudança na década de 1970 com a conversão dos vinhedos, que estavam concentrados em 30 hectares. “Era o início da expansão das uvas finas no Brasil, mas nos primeiros dois anos, sobraram frutas no vinhedo”, diz Fábio. O representante comercial recorda-se que a família vendia a produção à multinacional Bacardi Martini.

Foi só em 1989 que o trio Darcy, Antônio e Paulo Miolo decidiram fundar a própria companhia que levaria o sobrenome da família de imigrantes. Os primeiros rótulos chegaram ao mercado em 1992. Eram o Merlot 1990 e o Sauvignon Blanc 1991. Era um lote de apenas 8 000 garrafas. Dois anos depois, viria à luz o Miolo Seleção e, antes do fim de 1990, a linha tinha menos de 10 itens.

Miolo sede
Propriedade em Bento Gonçalves: ponto de partida da produção (Emerson Ribeiro/Divulgação)

Uma das primeiras providências de Darcy, que sempre produziu vinhos em casa para consumo próprio, foi despachar o primogênito, Adriano, para estudar na enologia na Argentina. O jovem cursou a Facultad Don Bosco de Enología y Ciencias de la Alimentación, em Mendoza, entre 1984 e 1988. Nesse mesmo período, Adriano chegou a trabalhar na Bacardi Martini, o que ajudou a refinar seus conhecimentos práticos.

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Duas matérias com degustações de exemplares produzidos pela empresa, uma delas nas páginas na revista Playboy, que na época era publicada pela Editora Abril, chamaram a atenção para a qualidade da bebida. Em paralelo a esse destaque na imprensa, Darcy se empenhava pessoalmente na divulgação dos rótulos.

Numa época em que era possível aglomerar, levou o vinho a feiras, nem todas especializadas. Teve uma boa receptividade, por exemplo, na UD (Utilidades Domésticas), que era um sucesso no Pavilhão de Exposições do Anhembi. Também se aventurou pela feira de transportes, a Transpo, que reunia as principais montadoras de caminhão a convite de Raul Randon, que mais tarde se tornou seu sócio durante alguns anos. “Meu pai sempre foi superatuante, um visionário, embora não tenha estudado marketing. Era um homem prático e objetivo”, orgulha-se Fábio, que se mudou para São Paulo em 1994, e trabalhou inicialmente como um caixeiro viajante, um representante comercial.

Rapidamente, Darcy Miolo e os irmãos começaram o projeto de expansão da vinícola, que hoje tem quatro unidades, 950 hectares próprios e 15 enólogos para a produção de 10 milhões de litros de vinho por ano. O primeiro avanço foi em 1998 com aquisição de terras. Dois anos depois, veio o projeto Seival, com a linha de vinhos Quinta do Seival, a partir de vinhedos que foram cultivados em Candiota, na Campanha Gaúcha, região fronteiriça com o Uruguai. E não parou mais.

A empresa ganhou mais notoriedade com a chegada ao mercado em 2001 do Lote 43, cuja primeira safra é 1999. Um ambicioso projeto de internacionalização teve início em 2003 e, junto a ele, celebra-se com o enólogo francês Michel Rolland uma parceria, que se estenderia por uma década.

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Miolo Vinhedos
Parte dos vinhedos na Serra Gaúcha: produção está também no Nordeste (Emerson Ribeiro/Divulgação)

Havia olhos também para o turismo enológico, que foi possível com a inauguração da nova sede da empresa na Serra Gaúcha, destinada a receber o crescente número de interessados na produção vitivinícola brasileira. A proposta teve início com a inauguração do restaurante Osteria Mamma Miolo em 1995 na antiga casa de pedra erguida por Giuseppe Miolo e a primeira moradia construída por ele no Brasil — as casas de pedra de imigrantes italianos eram comuns no Rio Grande do Sul.

“Quem cozinhava era minha mãe. Acabamos fechado porque ela queria por a mão na massa o tempo todo”, diz Fábio sobre a segunda mulher de seu pai, Gladis Terezinha, a quem chama de mãe. Ainda dentro dessa iniciativa turística, foi criado o Wine Garden em 2015 por Morgana Miolo, filha de Antônio Miolo. Hoje, o funcionamento hoje obedece às restrições sanitárias por causa da pandemia de coronavírus.

As ampliações de parcerias da Miolo incluíram a chegada ao Nordeste, com mais 200 hectares com a aquisição da Ouro Verde, na cidade baiana de Casa Nova, ao lado da celebrada Petrolina, em Pernambuco. Nessa nova fronteira produtora, batizada de Terranova, estabeleceram uma sociedade com a espanhola Osborne, de 2005 a 2011, com a intenção de produzir brandy, projeto que não foi descartado.

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A holding Miolo Wine Group surgiu em 2009, ano em que também foi adquirida da multinacional Pernod Ricard a Almandén, com 450 hectares. “São nossos vinhos de entrada”, explica Fábio.

Nos últimos anos, Darcy Miolo passava a maior parte do tempo em Candiota, onde tem outra propriedade, dedicada ao cultivo de soja e a plantéis de gado e cordeiro. “Até 2015, meu pai participava do front de batalha. Ele era o cabeça nas negociações. Estava sempre muito envolvido e empolgado”, conta Fábio.

O empresário, fundador e presidente do Conselho de Administração da Miolo Wine Group deixou a esposa Gladis Terezinha Bianchi Miolo e os filhos Adriano, Fábio, Alexandre, Marcos e Cássio.

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