“Quando eu morrer, quero ser cimentada no Minhocão”, diz Isabel Teixeira

Sucesso interpretando a personagem Maria Bruaca na novela Pantanal, da Globo, a atriz fala de sua história de amor com a cidade de São Paulo

Por Clayton Freitas
Atualizado em 27 Maio 2024, 21h45 - Publicado em 22 jul 2022, 06h00
Atriz Isabel Teixeira em ensaio para o fotógrafo Jorge Bispo; ela está encostada em uma parede branca e veste uma blusa preta. A atriz está com as duas mãos na boca
Intérprete de Maria Bruaca em Pantanal tem uma sólida e longeva carreira no teatro paulistano  (Jorge Bispo/Divulgação/Divulgação)
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Em 1997, há 25 anos, a Vejinha deu destaque à peça A Cozinha, dirigida por Iacov Hillel, com Isabel Teixeira, à época aluna da Escola de Artes Dramáticas da USP, no elenco. “A Vejinha faz parte da minha vida”, diz.

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A também diretora e dramaturga de 48 anos é uma das principais artistas de sua geração no teatro, tanto nos palcos da capital quanto fora do Brasil. De 2007 a 2019, fez apresentações em países como Japão, Croácia e França. Neste último ficou um ano em cartaz interpretando o texto em francês, idioma em que é fluente.

Filha da também atriz Alexandra Corrêa e do músico Renato Teixeira, quem optou pelos palcos foi ela, ainda aos 8 anos de idade, nas aulas de teatro na Biblioteca Viriato Corrêa, na Vila Mariana. Dois anos mais tarde, aos 10, estreou profissionalmente e levou o prêmio de atriz revelação. O gosto pela música não veio dos acordes da viola do pai, mas das notas do piano da avó. Com ela aprendeu o instrumento e ainda toca violão, flauta transversal e canta, já tendo feito aulas com Hans-Joachim Koellreutter, o mesmo mestre de Tom Jobim.

Leia a seguir trechos da entrevista em que ela fala de seu amor pela capital, inclusive uma de suas maiores emoções no ano passado: correr a São Silvestre.

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Quais memórias tem da infância?

Nasci na Rua Capote Valente, em Pinheiros. Capote era o apelido da minha mãe na escola, já que ela usava um quando chovia. E depois meus pais se separaram. A gente era meio hippie e morou um pouco ali perto da Rua dos Ingleses (Bela Vista), com amigos, e depois fomos para a Vila Clementino. Dos meus 7 até os meus 14 anos eu morei lá, e tinha uma atividade muito grande na Biblioteca Viriato Corrêa, aonde minha mãe deixava eu ir a pé. Com 8 anos eu já era uma criança mais independente. Eu ia a essa biblioteca, gostava muito de ler e fazia aula de teatro com um bibliotecário lá.

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Quais são suas lembranças afetivas da capital?

Eu fiquei muito tempo atravessando o Oceano Atlântico. Às vezes tinha uma semana de folga e eu voltava para respirar o ar poluído da minha cidade. Eu tenho afeto real por São Paulo. Eu gosto demais do Minhocão, da Amaral Gurgel, da Vila Buarque, toda essa região também do Baixo Consolação, da Praça Roosevelt, do Satyros, da Augusta, isso tudo é minha vida. Eu tenho uma devoção pela feira, pela padaria, pela pulsação dessa cidade. Eu gosto de ir para a praia no Rio de Janeiro vestida de paulista. Eu nunca deixarei a minha cidade. Sou paulistana, do bairro de Santa Cecília. Costumo dizer que, quando eu morrer, eu quero ser cimentada no Minhocão. Eu sou muito da cidade. Amo correr no Minhocão, eu choro sempre, porque acho aquilo lindo. Adoro sair com a minha filha e levá-la ao Copan, tomar um café na Megafauna (livraria na Avenida Ipiranga, dentro do Copan), dar uma volta por ali. Às vezes, quando a gente está muito empolgada, vai à Sé, passa pelo Pátio do Colégio, pela Liberdade. Eu sou de andar na cidade e gosto muito.

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O assédio na rua está grande?

Eu não senti ainda esse assédio. Quando a gente voltou do Pantanal, me maquiei, fiz um rabo de cavalo e fui passear no Minhocão com o Jesuíta (Barbosa, o Jove de Pantanal), e as pessoas não me reconheceram, eu estava de máscara, mas reconheceram ele e só depois me reconheceram. Então a gente sempre era parado por causa dele. E em São Paulo sou muito do bairro, sou santa-cecilier, fico muito à vontade ali. Paro para conversar, tirar foto, eu estou gostando disso, sou dessas. Sou da comunicação, eu gosto do outro, da pessoa. E todo mundo tem uma história para contar. Acho que uma reverência extrema a uma pessoa que faz televisão é algo estranho.

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Como foi correr a São Silvestre?

Foi uma das experiências mais lindas de devoção à minha cidade. Que coisa mais linda que é aquela largada na Avenida Paulista. A minha adolescência foi na Paulista, no Masp, a gente morava ali perto da Praça Oswaldo Cruz. Eu atravessava a Paulista andando para ir tomar café no Fran’s Café, para ver show no vão do Masp. Quando cheguei à Ipiranga com a São João, eu chorei. É uma festa para São Paulo. Que emoção eu senti naquele dia!

No teatro a sua opção sempre foi mais pelo drama. Por quê?

Para mim o fluxo é no drama, porque, para mim, viver é um drama. Mas essa saída para o cômico, acho que a sobrevivência se dá por isso. Eu sempre tive essa preocupação de rir de mim mesma na vida. O humor é uma coisa muito da minha família materna. A risada alta, eu rio alto, eu adoro me divertir. Eu não forço o cômico.

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As pessoas que forem ao teatro vão querer ver algo como Maria Bruaca?

Eu não só estou preparada para isso como quero brincar com isso. Muito. Essa comunicação que tem na televisão, que é popular, eu queria levar para o teatro agora.

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Como escolhe os projetos dos quais participa?

Eu me encanto com coisas novas, com grupos, com projetos, sempre escuto e me interesso mesmo. Neste momento eu tenho um sonho que não é em São Paulo. É o de trabalhar com Tony Ramos. Eu cruzei com ele aqui no estúdio (Globo) e falei: “Gostaria muito de trabalhar com você”. E ele disse: “Quem sabe a gente não se encontra nos palcos da vida?”. E eu achei bonito e seria lindo trabalhar com ele.

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Como rodar o mundo com o teatro ajudou você como artista?

Eu nunca saí do Brasil a turismo, sempre saí a trabalho e virava turismo depois. Fiz peça no Japão, na Croácia e eu conheço a França, além da América Latina, que é um outro público. E aí tem uma coisa linda, que está acontecendo agora também. O contato com um público diferente. Isso é comunicação expandida. É você sentir a peça em outra cultura. É você sentir a cultura de um país pela resposta do público.

Existe algum palco que para você é especial, mas nunca atuou nele?

O Oficina, eu nunca fiz peça lá. Fiz leitura com o Zé (Celso, diretor do Teatro Oficina), fui às peças, mas nunca entrei como atriz naquele corredor. Tenho paixão pelo Sesc Consolação, o Belenzinho, pelo Teatro João Caetano, toda vez que eu volto lá me dá uma grande emoção, e pelo Centro Cultural São Paulo, todos os espaços de lá. Eu adoro o Copan enquanto espaço, faria qualquer coisa lá. Eu gosto dos meandros da cidade.

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Publicado em VEJA São Paulo de 27 de julho de 2022, edição nº 2799

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