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Elas decidiram tirar de vez o silicone

Cresce a busca pela cirurgia de explante das próteses. Cinco mulheres dão seu depoimento sobre os sintomas e inquietações que as levaram a essa decisão

Por Helena Galante Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
30 jan 2021, 09h00

Rolando o feed do Instagram, você topou recentemente com uma foto assim? Com roupas pós-cirúrgicas e sorriso no rosto, a protagonista da imagem segura as próteses de silicone que acabam de ser retiradas dos seios.  A busca pelo explante de silicone ainda está longe de superar a procura pelo implante, mas está em crescimento. “Nos últimos anos, muitas pacientes têm buscado a cirurgia para retirada do implante mamário (explante), seja por mudança de estilo de vida (envelhecimento, ganho de peso, mudança de hábitos), seja por apresentarem sintomas sistêmicos relacionados ao implante – breast implant illness (BII) ou ‘doença do silicone‘”, esclareceu em nota de 11 de janeiro deste ano a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

“No último ano, no meu consultório, houve um aumento de 300% na procura por esse procedimento”, conta o cirurgião plástico Gustavo Stocchero. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plastica afirma que a falta de dados científicos não permite concluir relação direta do breast implant illness (BII) com sintomas sistêmicos autorreportados pelas pacientes, como ocorrências inflamatórias e alterações em articulações ou na pele, fadiga, alterações visuais, depressão, entre centenas de outros. “É importante ouvir e acolher as queixas das pacientes e também apresentar as opções seguras e éticas e baseadas em evidência para aquelas que desejam explantes por BII”, afirma o presidente da Sociedade, Dênis Calazans.

“Tudo que você coloca no corpo gera uma reação. Algumas próteses geram mais inflamação, outras menos. A verdade, na medicina, demora para aparecer e ser comprovada. Mas muitas pessoas fazem um racional lógico que um processo de inflamação localizado pode levar a uma inflamação sistêmica. É difícil de isolar o quadro, mas muitas pacientes que eu tirei as próteses tiveram melhora da dor e de sintomas reumatológicos”, afirma Stocchero. Abaixo, confira o relato de cinco mulheres de diferentes idades e profissões que fizeram a cirurgia de explante.

Renata Vanzetto: antes e depois do explante de silicone compartilhado nas redes sociais
Renata Vanzetto: antes e depois do explante de silicone compartilhado nas redes sociais (Reprodução/Instagram/Divulgação)

Renata Vanzetto 

“Posso abrir o restaurante que for. Nada vai se comparar à repercussão de quando compartilhei que tirei o silicone.” É assim que a chef Renata Vanzetto, do Ema, MeGusta Bar, Muquifo Restaurante e Matilda Lanches, resume a experiência de contar na internet a decisão de fazer a cirurgia de explante das próteses que havia colocado quando tinha 20 anos. “Era aquela época que estava todo mundo colocando peito. O primeiro dinheiro que consegui fui lá e pus, sem pensar. O arrependimento veio rápido, nunca fui 100% feliz com a decisão”, afirma Renata. Quando o primeiro filho nasceu, ela sentiu dificuldade para amamentar e começou a pesquisar sobre o explante. “Eu sentia muitas coisas, como dor nas juntas, fadiga, dor de cabeça. Depois que fiz a cirurgia, no final de 2019, nunca mais tive enxaqueca”, conta. Amigas que também tinham próteses de silicone acabaram seguindo seu exemplo. “Falo que eu não estou prometendo nenhum milagre, não sei se é coincidência ou algo psicológico, mas eu me sinto muito melhor. Sinceramente, vejo que o silicone é uma moda que passou.”

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Amanda Djehdian Hoffmann

“Estou extremamente feliz e aliviada. Chorava de dor nos últimos meses, eram dores absurdas pelo grau de contratura que tinha.” Assim que saiu da cirurgia de explante, com as próteses nas mãos, o sorrisão de Amanda Djehdian Hoffmann não escondia sua alegria.  Amanda lembra que a decisão de colocar silicone, em 2006, foi baseada num sentimento de insegurança com o próprio corpo. “Falavam que eu iria ficar mais bonita, cedi a esse padrão. Não me falaram quais eram, de fato, os riscos do silicone.” Diante de sua vontade na época, porém, talvez qualquer aviso fosse ignorado. “Não vou mentir, na época é bem provável que, se me falassem ou se eu soubesse de tudo que está por trás das próteses, eu acredito que por tanta insegurança, teria sim colocado, fez sentido na época pra mim”, escreveu no post que compartilhou a notícia e soma mais de 183 000 curtidas.  Os incômodos começaram em 2013, após um acidente de carro.  Desde 2015, fadiga crônica, dores musculares e perda de memória passaram a fazer parte da sua rotina. No final de 2019, dormir de bruços já era impossível e as dores na região não passavam em nenhum momento do dia. A decisão de fazer algo a respeito veio depois de acompanhar os perfis @perigos.do.silicone e @explantedesilicone e pesquisar bastante. “A terapia me ajudou muito. Essa parte também precisa ser cuidada, porque mexe com a autoestima, a vaidade. Entendi que antes, fiz a cirurgia por estética. Agora, fiz por saúde”, ressalta. Depois do procedimento, Amanda não se declara contra os procedimentos estéticos. “Cada um tem que fazer o que acha. Mas colocar silicone eu não ponho nunca mais. Pode printar e me cobrar depois.” No lugar da cicatriz, ela fez uma tatuagem com o dizer “free”, ou livre, em inglês.

Bianca Malandrino, uma das moderadoras em São Paulo do grupo sobre explante de silicone no Facebook:
Bianca Malandrino, uma das moderadoras em São Paulo do grupo sobre explante de silicone no Facebook: “Quero levar essas informações para o maior número de pessoas” (Arquivo Pessoal/Divulgação)

BIANCA MALANDRINO 

Quando alguém começa a pensar em fazer a cirurgia de retirada do silicone, uma rápida busca na internet pode levar ao grupo fechado no Facebook Doença do SiliconeApoio ao Explante (remoção de prótese), com mais de 43 700 membros. Uma das moderadoras aqui em São Paulo é Bianca Malandrino, que fez a cirurgia do explante em 2018. “Da lista de sintomas bem típicos da Doença do Silicone, eu tinha metade. Hoje há muita informação disponível, mas na época ninguém falava sobre o assunto aqui”, lembra Bianca. “A maioria dos médicos fala que é coisa da nossa cabeça. Muitos não acreditam na doença. É uma indústria de muito dinheiro por trás, né?”, afirma. Nos seis meses anteriores à cirurgia, Bianca pesquisou muito. “Vi que as mulheres do grupo americano que tiraram o silicone tiveram melhora dos sintomas. Vi fotos de antes e depois. Saber que o resultado poderia ficar legal me tranquilizou, mas primeiro de tudo vinha minha saúde. Não deixaria de fazer por medo da estética.” Com a melhora dos sintomas depois do explante, decidiu se disponibilizar para conversar com quem está passando por algo semelhante ou ainda tem dúvidas sobre fazer o implante. “Amigas próximas já desistiram de colocar silicone depois de ouvir minha história. Quero levar essas informações para o maior número de pessoas.”

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Maria do Socorro Moreira, um mês após a cirurgia do explante:
Maria do Socorro Moreira, um mês após a cirurgia do explante: “Recuperei minha respiração normal” (Arquivo Pessoal/Divulgação)

MARIA DO SOCORRO MOREIRA

Aos 58 anos, Maria do Socorro Moreira lembra claramente da decisão de colocar silicone no fim da década de 1980. “Eu tinha 25 anos, tive três filhas, era magrinha, fiquei quase sem mama. Quis colocar o silicone e não tive nenhuma orientação que pudesse acontecer qualquer problema.” Depois de realizar três trocas de próteses, como é recomendado, decidiu que não queria colocar novas próteses. “Tive contratura, a área ficava rígida, desde a primeira vez. Se fizesse só mais uma troca, não a retirada, estaria beirando os 70 anos na próxima vez. Não queria me colocar num centro cirúrgico.” Além de arcar com os custos do procedimento, já que não teve cobertura do convênio médico, teve outros desafios. “Enfrentei resistência da classe médica, ouvi de um médico que iria ficar horrorosa”, lamenta Maria. “Mas só senti melhoras depois. Tinha muita queda de cabelo e um problema respiratório. Depois do explante, recuperei minha respiração normal uma semana depois.”

NATHALIA DESTRI

Em seu consultório na Vila Olímpia, a nutricionista Nathalia Destri preza pela saúde das pacientes. Sua saúde pessoal, porém, não estava 100%. Desde que colocou silicone pela primeira vez, em 2013, e depois trocou as próteses por outras maiores, em 2015, sentia grandes desconfortos. “Tive sintomas muito fortes. Desenvolvi respostas auto-imunes, inflamação e rejeição”, lembra. Antes da retirada, no ano passado, procurou ajuda de reumatologistas, mas nenhum deles conectava as alterações às próteses. “É muito difícil de diagnosticar. Algumas pessoas podem melhorar muito o quadro ao retirar o silicone, outras não”, pondera Nathalia. “Nos primeiros dias os seios ficam mais ‘murchinhos’, é normal. Não me preocupei com isso e depois ele voltou ao normal, estou satisfeita”, lembra Nathalia, que contabiliza diversos benefícios: “Minha pele melhorou, diminuiu a questão inflamatória do meu corpo. Compartilhei o procedimento com outras mulheres para expor esse lado da saúde.”

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