Continua após publicidade

Relançamento de obra de Hitler causa polêmica no meio editorial

Redes grandes de livrarias, como Saraiva e Cultura, afirmaram que não venderão a publicação

Por Nataly Costa
Atualizado em 1 jun 2017, 16h19 - Publicado em 19 fev 2016, 23h00
Livro Minha Luta - Hitler - Martins Fontes
Livro Minha Luta - Hitler - Martins Fontes (Alexandre Battibugli/)
Continua após publicidade

Na segunda-feira passada (15), uma obra que está entre as mais controversas de todos os tempos figurava em uma das principais prateleiras da Livraria Martins Fontes, na Avenida Paulista: Minha Luta (Mein Kampf, no original alemão), a autobiografia do ditador Adolf Hitler escrita nos anos 20 e considerada a bíblia do nazismo. No dia seguinte, o diretor executivo Alexandre Martins Fontes passou por ali e não gostou do que viu. Mandou retirar o título do destaque — apesar de defender seu direito de vendê-lo. “Não vou julgar o conteúdo de cada livro da loja, mas posso fazer uma curadoria do que é exposto”, afirma.

+ “Há perigo em muitos livros, até na Bíblia”, diz editor que publicará Hitler

O relançamento de Minha Luta é o assunto do momento entre livreiros e editores paulistanos desde que a obra entrou em domínio público, no último 1º de janeiro. O compêndio incendeia polêmicas há quase um século por sustentar ideias como a superioridade da raça ariana — com uma tentativa de trazer embasamento científico à tresloucada teoria — e o extermínio de minorias, incluindo crianças deficientes, negros e homossexuais.

Nos últimos setenta anos, o volume esteve sob a batuta do Estado da Baviera, na Alemanha, que tratava o material com máxima ressalva, quase sempre vetando sua reprodução. Em 2005, recomendou à editora paulistana Centauro, que havia publicado 2 000 exemplares sem autorização, o recolhimento dos livros, de 508 páginas.

+ Museu da Cidade: você já foi, mas provavelmente não sabe

No mês passado, quando a necessidade do aval alemão caducou, a Centauro reimprimiu mais 5 000 cópias. Sofreu outro revés, desta vez da Justiça do Rio de Janeiro, que proibiu a comercialização naquele estado. “É um absurdo essa censura, vamos recorrer até o fim”, diz o editor Adalmir Caparros. O imbróglio pegou de surpresa outro selo de São Paulo, a Geração, que prepara uma versão crítica — prevista para sair em março — com cerca de 400 páginas de comentários de historiadores brasileiro se norte-americanos. “As notas não estarão nos rodapés, e sim entremeando o texto de Hitler, contestando mentiras e erros históricos”, explica o sócio Luiz Fernando Emediato. Uma terceira casa, a Edipro, da Bela Vista, chegou a anunciar Minha Luta, mas desistiu.

Continua após a publicidade
Luiz Fernando Emediato - Geração Editorial - Livro Minha Luta - Hitler
Luiz Fernando Emediato – Geração Editorial – Livro Minha Luta – Hitler ()

Apesar de não haver veto na capital, a obra está longe de ser consenso. As livrarias Cultura e Saraiva, por exemplo, recusaram o título. O site Estante Virtual, que comercializa o acervo de 1 350 sebos ao redor do país, orientou os parceiros a não disponibilizar o produto. “É pura incitação ao ódio contra as minorias, algo vedado pela nossa Constituição”, diz o secretário da Confederação Israelitado Brasil, Rony Vainzof, que discorda até do valor documental da escrita de Hitler.

+ Novo zoneamento muda fiscalização de comerciantes

“A história já é muito bem ensinada sem o auxílio da obra.” O professor de direito Flávio de Leão Bastos Pereira, do Mackenzie, faz ressalvas à publicação do “texto seco” (como o da Centauro), mas é a favor da edição crítica, formato lançado na Alemanha — lá, as 2 000 páginas figuram na lista dos mais vendidos. “A proibição só cria curiosidade em torno desse livro, quando precisamos contestá-lo e desmitificá-lo”.

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de São Paulo

a partir de 35,60/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.