Museu da Cidade: você já foi, mas provavelmente não sabe
Do Solar da Marquesa, no Centro, à Casa do Bandeirante, no Tatuapé, (re)descubra a instituição espalhada pelas cinco regiões da capital
É possível que você nunca tenha ouvido falar no Museu da Cidade, mas como todo bom paulistano, você já o conhece. Talvez tenha sido levado em um passeio da escola, visitado sem querer ou ido até ele sem ligar o nome ao local. Na verdade, o museu não é composto por um, mas por treze museus: do Solar da Marquesa, no centro, até a Casa do Bandeirante, no Butantã, está espalhado pelas cinco regiões da cidade.
Em comum, todas as casas são construções tombadas – ou seja, com grande relevância histórica e devem ser preservadas como um bem cultural do Estado (o que não quer dizer que todas estejam, efetivamente, bem conservadas). Além disso, elas são ligadas à Secretaria Municipal da Cultura e apresentam exposições de arte contemporânea, história, fotografia e objetos. A instituição passou a existir, efetivamente, em 2010. Porém, o projeto de sua criação existe desde 1936.
Saiba quais são cada uma das casas e as curiosidades sobre suas construções:
Amante de Dom Pedro I, Domitila de Castro Canto e Melo, a marquesa de Santos morou no palacete entre 1834 e 1867. Ela fez deste elegante palacete um ponto de festanças e banquetes que não acabavam mais. Hoje, o espaço abriga o escritório do Museu da Cidade (onde trabalham cerca de trinta pessoas), no centro, e é, sem dúvidas, uma das casas antigas mais charmosas da cidade. Por lá passam mostras que vão desde a apresentação do acervo da marquesa até obras de arte contemprânea, como é o caso da exposição em cartaz, A medida do Tempo das Coisas, de Daniel Malva.
Ali do ladinho, entre o Solar da Marquesa e a Casa da Imagem, fica o beco que ligava a antiga Rua do Carmo (hoje Roberto Simonsen) ao rio Tamanduateí. Há quem diga que era o caminho que os criados dos palacetes usavam para jogar fora dejetos dos banheiros – afinal, ainda não existia a privada.
A mais bonita e bem conservada de todas as construções do Museu da Cidade, a casa atual é datada de cerca de 1889 e chamada também de Casa Número 1, numeração que recebeu ná época de sua fundação. A combinação entre o pé-direto alto, o piso de madeira e as paredes finamente decoradas fazem transportar para o século XIX. Até o final do mês de março, o palacete apresenta a exposição Por Debaixo do Pano, da fotógrafa Nair Benedicto.
Este é o exemplar mais antigo do Museu da Cidade: num inventário de 1698, consta a construção de um imóvel na região. No início do século XX virou residência de imigrantes e há alguns anos, na década de 1980, foi restaurada e aberta à visitação. Hoje, a construção de taipa de pilão tem seis cômodos e dois sótãos.
Estranho pensar que o monumento também integra este time, mas, vá lá, ao menos tem alguém se preocupando pela sua conservação. A escultura foi criada em 1922, para comemorar o centenário da proclamação da independêcia. As últimas notícias que tivemos dele foi a abertura da cripta em que foram enterrados os restos mortais de Dom Pedro I, da Imperatriz Leopoldina e de Dona Amélia, segunda imperatriz do Brasil.
Este nome estranho, que remete à uma casa assombrada, tem ligação com o grito de independência retratado no quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo. Na pintura, aparece um casebre parecido com esse, porém, como o registro mais antigo é de 1844, percebe-se que o movimento foi o contrário. No restauro da construção para as comemorações do IV Centenário, a casa localizada no Ipiranga passou a incluir elementos parecidos com a casinha retratada no quadro.
Localizada no bairro do Jabaquara, o casebre branco com telhado de tijolos (alguns ainda originais) é uma construção de 1719: imagine o que tinha nessa época naquelas regiões – absolutamente nada! Era a sede de um sítio, cujo último proprietário chamava-se Antonio Cantarella, responsável pela urbanização da região, que transformou o lugar em chácara e realizou seu loteamento em 1969.
O arquiteto de origem russa, Gregori Warchavchik criou este projeto para a primeira casa modernista do país. Construída em 1928, a casa é testemunho do intenso processo de urbanização e industrialização que ocorria na cidade na época. Foi Warchavchik a primeira pessoa a criar um braço do movimento modernista, criado em 1922, para a arquitetura. Destituída de qualquer ornamentação, a obra era tão impactante para a época que, para conseguir obter aprovação junto à prefeitura, Warchavchik apresentou uma fachada toda ornamentada, e quando concluiu a obra, alegou falta de recursos para completá-la.
A localização desta capelinha em plena Avenida Morumbi dificulta o acesso de quem chega de carro: estacione na via ao lado, Rua General Almério de Moura, 200, em frente à Casa de Vidro. Aproveite também para visitar este casa, que foi a residência da arquiteta Ítalo-brasileira Lina Bo Bardi. Depois da visita, ao chegar na igreja, você vai entender porque é um bem tombado: foi construída, também, por Gregori Warchavchik, em 1949, sobre ruínas de taipa de pilão do século XIX. Ela recebe diversas instalações de artistas contemporâneos, o que faz ser muito interessante observar a harmonia entre a antiga construção e intervenções atuais.
Atenção: a casa, localizada no Caxingui, está fechada para visitas por tempo indeterminado. Mas, a construção segue as mesmas características do Sítio da Ressaca, com arquitetura típica das casas bandeiristas.
Construída, provavelmente, no final do século XVIII, a casa foi notada primeiramente por Mário de Andrade, na década de 1930: foi ele um dos primeiros a dizer que São Paulo e suas construções históricas mereciam um Museu da Cidade. Pena que ele não viveu para ver – sua ideia so saiu do papel quase 90 anos depois.
12) Sítio Morrinhos
O Sítio é um complexo composto por uma sede, construída no início do século XVIII, e por diversas construções anexas datadas da segunda metade do século XIX e início do século XX. Em 1902, o local foi levado a leilão e adquirido pelo Mosteiro São Bento. Era utilizado como chácara de descanso de seus membros durante os finais de semana. Repleto de jardins e árvores parece, mesmo, com um retiro espiritual. Hoje, abriga a sede do Centro de Arqueologia de São Paulo. A mostra Escavando o passado – arqueologia na cidade de São Paulo reúne materiais recolhidos em pesquisas arqueológicas realizadas em diversas regiões da cidade.
13) Chácara Lane
Esta casa amarelada passou a fazer parte do time do Museu da Cidade no último mês. Localizada em plena Rua da Consolação, ela remonta as origens da Universidade Mackenzie. Depois de sediar o Gabinete do Desenho, o casarão passou os três últimos anos fechado e agora é inaugurado com a exposição Guerra do Tempo da artista Marilá Dardot.