Serial killers e crimes reais inspiram nova onda de podcasts paulistanos

Casos e mistérios sem solução são fonte para os programas em áudio que tentam decifrar alguns dos incidentes mais brutais da capital e do país

Por Humberto Abdo
Atualizado em 27 Maio 2024, 19h01 - Publicado em 17 dez 2021, 06h00
Vista de baixo ângulo de marcadores numerados em amarelo que identificam a presença de evidências físicas na cena do crime na floresta
True crime: nova onda de podcasts paulistanos explora gênero (Azmanjaka/Getty Images)
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Não tem romance, nem ficção. Na lista de escapismos, os mistérios e crimes reais são campeões de público. Desde o sucesso de A Máfia dos Tigres (2020) na Netflix, que marcou o início da quarentena, o gênero true crime está em alta e conquistou os podcasts, com pelo menos seis títulos recentes de criadores paulistanos empenhados em decifrar alguns dos casos mais brutais da capital e do país.

Um deles é o Café com Crime, de Stefanie Zorub. Desde 2020, o programa teve 2,2 milhões de downloads e 114 000 ouvintes únicos no Spotify. Neste ano, o número de seguidores aumentou mais de 400% na plataforma. “Embora meu público seja mais feminino, não existe perfil único. Crime gera um interesse geral”, acredita a autora. “A psicanálise explica essa atração”, complementa a escritora Paula Febbe, criadora do recém-lançado Teorias de Quinta, de terror, e do inédito Profiling, previsto para março de 2022 com doze episódios de criminosos brasileiros analisados a partir da psicologia forense, segunda formação da paulistana.

Foto de uma mulher loira e de avental olhando para o lado com rosto de suspeita. Ela está sentada em uma escrivaninha e as luzes são baixas
Susto pelo oculto: Paula Febbe explora terror e crime em novas produções (Tainá Lossehelin/Divulgação)

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Serão narrativas com detalhes sobre figuras como o Monstro do Morumbi e o Maníaco do Parque, ambos assassinos em série que atacavam em São Paulo. “Todos nós temos pensamentos perversos, mas não podemos expressá-los para o mundo, por isso os filmes de terror e crime suprem a necessidade inconsciente de ouvir esses relatos.” Não à toa, as narrativas apavorantes têm conquistado a audiência pelos ouvidos, segundo ela. “Assim como nos livros, precisamos usar a imaginação para aquilo que não é visto e esses elementos ocultos muitas vezes são até mais assustadores.”

Não saber quem matou Dana de Teffé é o que atrai curiosos sobre o sumiço da socialite em 1961 após uma viagem do Rio de Janeiro em direção a São Paulo. “Ela pode ter sido morta por ser rica, por ter se divorciado várias vezes (o que era um escândalo na época) ou até pela suspeita de ter sido uma espiã”, especula Stefanie. “Nunca encontraram o corpo e isso abriu espaço para muitas teorias.”

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Crimes famosos — clássicos ou em andamento — estão entre os favoritos dos ouvintes: Suzane von Richthofen, Elize Matsunaga e o recente Lázaro Barbosa são alguns dos que passam pela lupa de várias produções. “Certos nomes ganham status de celebridade, mas para cada um deles existem crimes semelhantes que não tiveram a mesma repercussão”, pontua Stefanie.

Nos casos menos comentados, jornais locais e processos criminais abrem o caminho para a apuração dos futuros relatos. A dupla responsável pelo Fábrica de Crimes, comandado por Mariana Perez e Roberta Medina, também aproveita a experiência adquirida na advocacia para ler e “traduzir” os documentos. “É quase como duas amigas conversando no quarto, porque ninguém quer ouvir juridiquês”, opina Roberta. Mesmo assim, evitam dar espaço para informações não confirmadas ou opiniões, que proliferam nos comentários dos seguidores. “O caso Pesseghini (chacina em que foram mortos cinco membros dessa família paulistana) está entre os cinco mais escutados porque não tem solução e as pessoas comentam: ‘Foi o menino quem matou ou tem forças ocultas envolvidas?’ ”

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Nem toda história termina sem resolução nessa nova leva de podcasts. Investigações encerradas e solucionadas ainda dão assunto — e provocam polêmicas ao romantizar ou amenizar a imagem do assassino. “O serial killer Ted Bundy, por exemplo, fez coisas terríveis além das mais divulgadas”, ressalta Paula. “De maneira nenhuma dá para retratar esses caras como alguém que gostaríamos de ter por perto, isso precisa ficar sempre claro.”

Assim como a lábia e o carisma dos psicopatas ajuda a atrair vítimas, medo e instinto de sobrevivência continuam a fisgar novos interessados nessas histórias. “Especialmente os casos nacionais, perto de casa, que nos colocam no lugar da vítima e nos fazem perguntar ‘O que eu faria se fosse ela?’ ”, pondera Stefanie. “Essas notícias sempre bombaram, tanto que nos anos 1990 tínhamos o Linha Direta (programa da Globo) e o Aqui Agora (do SBT). Hoje elas estão em todas as plataformas.”

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Para escutar de ouvidos bem abertos

Três programas em áudio sobre histórias à margem da lei

1001 CRIMES. Uma volta ao mundo ilegal (com direito a viagens no tempo) que explora casos antigos de nomes como Albert Fish, Sophie Ursinus e William Burke.

ASSASSINOS EM SÉRIE. A partir de pesquisas e análises psicológicas, apresenta os métodos e as loucuras de alguns dos serial killers mais notórios da história.

MODUS OPERANDI. As minúcias e contradições de delitos famosos que ficaram de fora do noticiário, narrados pela dupla Carol Moreira e Mabê Bonafé.

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Publicado em VEJA São Paulo de 22 de dezembro de 2021, edição nº 2769

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