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“Não mudamos o mundo com filmes, mas mudamos pessoas”, diz Leandra Leal

A atriz, que volta ao cinema com o longa Alemão 2, reflete sobre o papel da arte na sociedade e defende um Carnaval “mais democrático” em abril

Por Barbara Demerov
25 mar 2022, 06h00

Leandra Leal, 39, está de volta aos cinemas em Alemão 2, filme de José Eduardo Belmonte que estreia no dia 31. A atriz, diretora e produtora interpreta Freitas, uma policial civil que enfrenta uma missão perigosa — é a primeira vez que atua em um filme de ação. Se trabalhar nos sets é uma paixão de Leandra, a outra certamente é o Carnaval. Figura constante nos blocos de São Paulo — especialmente no Acadêmicos do Baixo Augusta —, ela acredita que a festa possa acontecer “de acordo com o que a ciência diz” nos desfiles marcados para abril. “Precisamos muito disso”, afirma.

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O que achou de interpretar uma policial que tenta fazer o bem?

Alemão 2 foi um grande desafio. Parece chavão, mas é verdade. O que me atraiu no roteiro foi justamente o desafio que o filme se colocava: ser um longa de ação que falasse sobre essa situação tão difícil (os conflitos nas favelas), sobre a falta de sentido dessa guerra. E, diferentemente do primeiro filme, esse traz personagens femininas muito complexas.

O filme retrata um grupo de policiais que entra em operação na comunidade disposto a evitar conflitos armados. Acredita que um dia isso será realidade?

A polícia deve recorrer mais à inteligência. Eu sou contra as armas. Mas a batalha contra as drogas é mais complexa do que isso. Temos de seguir o caminho do dinheiro, entender quem realmente lucra nessa guerra. A polícia é um braço do Estado, mas seu trabalho não deve ser isolado. É preciso que, junto da polícia, existam escolas, hospitais… A polícia não pode ser o principal órgão do governo dentro de uma comunidade.

O cinema pode ser uma ferramenta de denúncia dos problemas sociais?

Acredito que sim. Não mudamos o mundo com um filme, mas mudamos pessoas que podem vir a mudar o mundo. Nós emocionamos, transformamos pensamentos e quebramos preconceitos, mas são as pessoas que transformam o mundo.

Além de atuar, você dirige e produz. Como está a indústria audiovisual após dois anos de pandemia?

A pandemia fortaleceu o streaming. Temos uma demanda grande por conteúdo nessas plataformas digitais. Ao mesmo tempo, ocorre um abandono completo do governo para com o nosso setor, inclusive criminalizando e desacreditando os artistas. Nossa indústria emprega mais de 300 000 pessoas no país. Estamos sobrevivendo e vamos sobreviver, até porque uma das melhores coisas do Brasil é a nossa cultura.

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Quais são seus próximos projetos?

Vou fazer a série A Vida pela Frente para o Globoplay. Eu a criei com minhas sócias na (produtora) Daza e vou dirigir junto com Bruno Safadi. É uma série que fala sobre seis adolescentes na virada dos anos 2000 e a saúde mental nessa fase.

Você demonstra ser apaixonada pelo Carnaval. O que achou da decisão de adiar a festa deste ano para abril?

Não sei como vai ficar o Carnaval de rua ainda, mas acho que tudo isso faz parte de uma guerra de narrativas políticas. Jogos de futebol com 40 000 pessoas estão acontecendo. As escolas de samba têm 3 000 integrantes. No Carnaval, o ambiente é aberto, as pessoas só entram com comprovante de vacina. Existem maneiras para que a festa aconteça e tem de ser de forma responsável, de acordo com o que a ciência diz.

O que o Carnaval representa para você?

Eu realmente espero que a privatização que aconteceu neste ano (com blocos tocando em festas fechadas) não se crie, porque Carnaval não é privado. É rua, é democrático, é livre. Que a gente tenha em abril, em outubro… Eu falo que, no Carnaval, a gente brinca na rua ao lado de pessoas com quem não conseguiríamos conviver na timeline (das redes sociais). É um exercício de cidadania, de deslocar o olhar, de ocupar a cidade sem ser dentro de um carro. É deixar as coisas acontecerem. Precisamos muito disso.

Apesar de carioca, você frequenta o Carnaval de São Paulo. Do que gosta na festa paulistana?

Eu acompanhei um período muito legal do Carnaval paulistano, que foi o crescimento dos eventos de rua. É bonito ver as pessoas ocupando espaços. Eu me sinto privilegiada por ter visto isso. O primeiro Carnaval no Baixo Augusta foi em 2009. Nos fins de semana de pré-Carnaval havia pouquíssimos eventos, mas hoje esse período virou algo gigante. Esta cidade é maravilhosa. Com tanta gente, tudo aqui vira o maior do Brasil.

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Durante a pandemia, artistas foram cobrados de se posicionar politicamente e ter atitudes coerentes com os discursos. Acredita que é dever do artista expressar opiniões?

Não. É dever do governo cuidar da sua população. Dever do artista é fazer sua arte. Eu me posiciono politicamente porque fui criada em uma família assim, está na minha índole. Eu não ficaria tranquila se não me posicionasse, se não colocasse o holofote em questões importantes. Mas isso é algo pessoal. Se fosse arquiteta, faria o mesmo. Esse é o meu papel como cidadã. O artista não tem essa responsabilidade. Já o cidadão tem. E pode fazer muito.

Muitos estados liberaram o uso de máscaras em espaços fechados, inclusive São Paulo e Rio. Você se sente segura com a decisão?

Continuo de máscara. Acho que a gente tem de obedecer ao que a ciência fala.

Você incentiva a vacinação infantil. Qual a sensação de vacinar sua filha?

A pandemia fez com que a Júlia ficasse com medo de médico, mas deu tudo certo. Foi emocionante. Mas a maior emoção mesmo foi vacinar a minha mãe. Ali, sem dúvida, senti um grande alívio.

Sente o mesmo ao ver os dados sobre o avanço da população vacinada?

Nossa identidade (como país) não é sermos negacionistas, muito menos sermos contra o Carnaval. Nossa identidade é nos vacinar. E olha que tivemos um desmonte do SUS nos últimos anos, porque era para termos conseguido nos vacinar mais rapidamente.

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Publicado em VEJA São Paulo de 30 de março de 2022, edição nº 2782

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