“Somos maiores que toda a TV a cabo do Brasil”, diz CEO da Omelete
Além de produzir dois dos mais importantes eventos pop do mundo, como a CCXP, Pierre Mantovani comemora a audiência na casa dos milhões em canais de jogos
De malas prontas para embarcar ao México, o engenheiro paulista Pierre Mantovani, 48, é uma mistura de ansiedade e animação. Será a primeira vez que o carrochefe da Omelete Company, a Comic Con Experience (CCXP), será exportado para o país, entre os dias 3 e 5 de maio.
Por aqui, o evento, especializado em cultura pop, mais precisamente cultura geek, vai para a 11ª edição e ocorrerá no início de dezembro, com expectativa de reunir novamente 283 000 pessoas na São Paulo Expo, sem falar no engajamento virtual.
Antes disso, entre 26 e 30 de junho, a empresa de Mantovani vai abraçar outro gigante do mercado, a Gamescom, a maior feira de games do mundo. “A indústria de jogos do mundo todo vai estar em São Paulo”, assegura.
Além de produzir eventos, a Omelete Company, que começou como um site (“No início as pessoas achavam que falávamos de culinária”, ri o idealizador da companhia), firmou parceria com dois dos nomes mais importantes do streaming mundial: Gaules (fala sobre e-sports) e Gustavo Baiano (com um canal sobre o jogo League of Legends).
Não os conhece? Seus filhos, sim.
Por mês, a dupla é vista por mais de 22 milhões de pessoas.
Veja a entrevista a seguir.
Primeiro para nós, os mais velhos: o que é cultura geek?
Também chamamos de cultura pop. Geek é o nerd contemporâneo. Antigamente, o termo era pejorativo, mas hoje as pessoas estão abertas, sem preconceitos. Até porque os nerds dominaram o mundo. Veja Steve Jobs (fundador da Apple), Mark Zuckerberg (Facebook) e Elon Musk (Tesla). Hoje, os conteúdos geek são os mais acessados do mundo. Consome-se mais geek do que novela. Veja os filmes, as séries, as temáticas que estão entre os dez mais.
Neste ano, além de promover mais uma edição da CCXP, o maior festival de cultura pop do mundo, a Omelete trará a São Paulo a Gamescom, um sucesso global. Qual a dimensão desses eventos, tanto em público quanto em engajamento?
No ano passado, além do público de 283 000 pessoas, a CCXP teve mais de 10 milhões de visualizações. Nosso alcance total passou de 1 bilhão, isso de impacto, não de pessoas únicas. Vamos para muitos países e temos capacidade muito grande de expansão.
Quais serão as novidades da próxima CCXP?
Por enquanto, as principais novidades serão os atores Giancarlo Esposito (Breaking Bad, The Mandalorian, entre outros) e Matt Smith (Doctor Who, The Crown). Além de participar dos painéis, eles também vão tirar fotos e darão autógrafos. É difícil encontrarmos atores de Hollywood dispostos a interagir com o público, mas garantimos os dois.
E a Gamescom?
Nossa expectativa é receber 80 000 pessoas nos quatro dias de evento. Conseguimos trazer toda a indústria de jogos mundial. Serão 500 desenvolvedoras de games, de mais de cinquenta nacionalidades. O legal é que o DNA do evento permite que as pessoas experimentem os jogos, não apenas vejam os conteúdos.
No ano passado, a então ministra Ana Moser, do Esporte, disse que os e-sports são entretenimento, não esporte. Qual sua avaliação?
São esporte. É só ver a preparação dos atletas de alta performance. A maioria deles treina duro, conta com inúmeros preparadores e faz trabalhos com psicólogos. Quem assiste torce como em uma competição física. Sem dúvida são um esporte
Recentemente, a Omelete Company fechou parceria com dois dos mais importantes streamers da atualidade: Gaules e Gustavo Gomes, o Baiano. Qual o impacto deles para o negócio da empresa?
Com o Gaules, nossa audiência de e-sports no Twitch é de 21 milhões de pessoas por mês. Para você ter uma ideia, o Twitch atinge no total 25 milhões de usuários. Com ele, chegamos a ter 750 000 pessoas simultâneas. Se compararmos com a TV a cabo do Brasil (são cerca de 12 milhões de assinantes), nosso negócio representa o dobro do mercado de TV por assinatura.
Além das empresas de produção de eventos e de conteúdos, o grupo possui outras em seu guarda-chuva e recentemente comprou o aplicativo Chippu, que faz curadoria de filmes e séries com base na preferência dos usuários. Qual o plano de expansão de vocês?
Temos a projeção de internacionalizar a operação em cinco anos. Além de irmos agora para o México para promover a CCXP lá, pretendemos retornar à Europa (o evento foi feito na Alemanha, em 2019). Não somos apenas uma empresa de promoção de eventos. Depois da Chippu, pretendemos olhar para experiências fixas, como um shopping, por exemplo.
Qual o tamanho da companhia hoje?
Temos 240 pessoas trabalhando o tempo todo, mas em épocas de CCXP, por exemplo, chegamos a contratar 20 000 pessoas dentro de um ecossistema.
Como produtor digital, como vê o uso das telas, cada vez mais, por crianças menores, em um cenário geral, na maioria das vezes, pobre e de conteúdo vazio?
É uma responsabilidade dos pais educar. Se os pais são ignorantes digitais, a probabilidade de deixar os filhos soltos na internet é maior. É obrigação deles saber o que ocorre e doutriná- los. Sou pai de duas meninas e tenho absoluto controle sobre elas.
Hoje a garotada não quer ser jogadora de futebol, mas gamer ou influencer. Em comum, os três mercados têm na base da pirâmide os salários baixos e no topo as pessoas que ganham muito. Qual o principal recado às crianças?
Todo mundo tem de se preparar para fazer qualquer coisa, desde que com dedicação e esforço. Por outro lado, as telas têm de ser disciplinadas. Cada jogo foi feito para uma determinada idade. As pessoas usam jogos para se socializar, o que expandiu na pandemia. Como tudo na vida, precisa ser feito com equilíbrio.
Publicado em VEJA São Paulo de 26 de abril de 2024, edição nº 2890