Seis musicais em cartaz na capital que cantam a vida de grandes artistas
O próximo a estrear é "Sidney Magal: Muito Mais que um Amante Latino"; Ney Matogrosso, Alcione e Belchior também estão entre homenageados
Milton Nascimento, Ney Matogrosso, Alcione… Grandes nomes do cancioneiro nacional não estão “apenas” nos shows que realizam pelo país. Eles também se tornaram tema das artes cênicas ao se transformarem em personagens de musicais que retratam suas vidas. Ao longo de 2022, que marcou o retorno expressivo dos grandes espetáculos, tem-se visto muitas biografias musicadas pela cidade. Na sexta (21), estreia mais uma. É Sidney Magal: Muito Mais que um Amante Latino, no Teatro Porto. Fala da vida e da carreira do cantor ícone dos anos 70 e 80 — e, atenção: Magal não deu pitaco na produção.
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Débora Dubois, que assina a direção, repete a experiência de Rita Lee Mora ao Lado, de 2014. “As músicas dele (Magal) tocam em baladas até hoje, mas parte do público não conhece quem é a figura nem o que ela representa”, acredita. Dennis Carvalho, que encabeça Clube da Esquina — Os Sonhos Não Envelhecem, com a estreia no fim de outubro no Teatro Liberdade, busca um público mais amplo além do fã-clube. “Trago a vida pessoal desses artistas, o que torna a produção mais atrativa. Se não fosse assim, poderia fazer um show e só”, diz.
Somam-se às peças que homenageiam artistas em atividade as que celebram a memória dos que se foram. É o caso das produções sobre Belchior (morto em 2017) e Dominguinhos (morto em 2013). Confira, nesta e nas próximas páginas, diferentes maneiras de conhecer a vida desses cantores.
Ele vai fazer o seu sangue ferver
Todo o gingado e a sensualidade de Sidney Magal, cantor que causou — e ainda causa, segundo ele mesmo relatou a Vejinha no ano passado — o delírio dos (e, sobretudo, das) fãs nas décadas de 70 e 80, poderão ser vistos no musical Sidney Magal: Muito Mais que um Amante Latino, que estreia na sexta (21) no Teatro Porto. O espetáculo parte da biografia de mesmo nome (Irmãos Vitale, 376 págs., R$ 48,43), escrita por Bruna Ramos da Fonte em 2017.
A autora é também responsável pela adaptação para o teatro, que aborda as várias facetas de Sidney para além do cantor, ator, dançarino e dublador que ele é, que transitou entre a disco, a música romântica e a lambada. “Escolhi ‘costurar’ a história do Magal à história de sua mãe, a dona Sônia, que foi uma promissora cantora de rádio na década de 40, mas que acabou abandonando a carreira para se casar e formar uma família”, explica a autora. No palco, a atriz uruguaia Yael Pecarovich vive a matriarca, enquanto Joaz Campos interpreta Darcy, o pai.
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O papel do galã é dividido entre o paulista Juan Alba, que o vive na fase adulta, nas décadas de 80 e 90, e o paulistano Luís Vasconcelos, 19, que o incorpora do início da carreira, na adolescência, até o fim dos 70. “Nem estou dormindo à noite”, revelou Juan durante a reta final dos ensaios. Tanto ele quanto Luís já ouviram algumas vezes que eram parecidos com Magal, mas, apesar disso, revelam que não é nada fácil retratá-lo no palco. “Ele é um cara inimitável, um personagem único. Estou tentando pegar algumas características para que o público identifique um pouco de Magal em mim”, explica Alba. “A nossa coreógrafa, a Patrícia Kfouri, está desenvolvendo conosco os gestos e nos ensinando a nos divertir e a dançar como ele”, completa Vasconcelos.
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Na trilha sonora, estarão os hits como Meu Sangue Ferve por Você e Sandra Rosa Madalena, além de duas composições inéditas. O biografado não acompanhou o processo de produção, mas parece ansioso com a estreia. “O Juan Alba faz um Sidney Magal mais bonito até que o real”, se diverte. 12 anos. (135min).
Teatro Porto. Alameda Barão de Piracicaba, 740, Campos Elíseos, ☎ 3366-8700. ♿ Sex. e sáb., 20h. Dom., 17h. R$ 50,00 a R$ 90,00. A partir de sexta (21). teatroportoseguro.com.br.
Tudo que eles podiam ser
No ano em que completa meio século de lançamento, Clube da Esquina (1972), obra master de Milton Nascimento (Tiago Barbosa) e Lô Borges (Cadu Libonati), é cantado no teatro. Depois de estrear em Belo Horizonte, cidade onde surgiu o grupo que dá nome ao álbum, e passar pelo Rio, o musical Clube da Esquina — Os Sonhos Não Envelhecem chega ao Teatro Liberdade no dia 28.
O texto é baseado em livro de Márcio Borges (Rômulo Weber), irmão de Lô, ambos precursores do movimento junto a Milton, Wagner Tiso, Fernando Brant, Beto Guedes e Ronaldo Bastos. A partir das canções, traz à cena a amizade e a parceria musical entre os jovens que se conheceram no Edifício Levy nos anos 60. “Contar a história do Clube da Esquina é contar a história do Brasil”, explica o diretor Dennis Carvalho. “Buscamos criar uma narrativa realista e emocionante ao mesmo tempo.”
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E sentimento é o que não tem faltado nas sessões, que, segundo ele, além de arrancar lágrimas de Milton, incitaram protestos contra e também a favor da ditadura, representada na peça. “Tivemos de parar o espetáculo duas vezes em Belo Horizonte porque o público não parava de bradar.” Para a temporada paulistana, ele se mostra animado, mas também apreensivo: a estreia será dois dias antes do segundo turno das eleições presidenciais. 12 anos. (120min, com intervalo).
Teatro Liberdade. Rua São Joaquim, 129, Liberdade, ☎ 91423-8141. ♿ Qui. a sáb., 21h. Dom., 19h. R$ 75,00 a R$ 240,00. Até 18/12. A partir de 28/10. teatroliberdade.com.br.
Nada debaixo dos panos
Ney Matogrosso — Homem com H homenageia as cinco décadas de carreira do cantor. A biografia musicada vem depois de Silvio Santos Vem Aí, primeiro trabalho da produtora Paris Cultural, lançada pela distribuidora Paris Filmes em 2019. Para trazer a essência de Ney aos palcos, Emilio Boechat e Marilia Toledo, que assinam o texto (ela ainda dirige o espetáculo ao lado de Fernanda Chamma), optaram por um recorte sem compromisso com a cronologia, mas que destacasse passagens importantes da vida do artista.
E o fio condutor dessas histórias são justamente as músicas, com hits do Secos & Molhados, banda na qual Ney foi vocalista na década de 70, a exemplo de Sangue Latino, e canções da carreira-solo, como Por Debaixo dos Panos. Com Renan Mattos no papel principal, a montagem aborda seus embates com o pai militar e conservador, o relacionamento com Cazuza, vivido por Vinícius Loyola, entre outros temas. Ney Matogrosso, que completou 81 anos recentemente, auxiliou no processo de criação da montagem. 12 anos (120min, com intervalo).
033 Rooftop. Shopping JK Iguatemi, ☎ 4810- 6868. ♿ Sex., 20h30. Sáb., 15h30 e 20h30. Dom., 15h30 e 20h. R$ 75,00 e R$ 250,00. Até 30/10. teatrosantander.com.br.
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Ela vai te virar a cabeça
A lenda do bumba-meu-boi, que inspira festejos pelo país, é o ponto de partida escolhido pelo produtor Jô Santana e pelo diretor Miguel Falabella para contar a história de Alcione em Marrom, o Musical. A peça encerra a Trilogia do Samba, cujas homenagens já reverenciaram dois representantes do gênero, Cartola e Dona Ivone Lara. Estão no palco os cinquenta anos de carreira da sambista maranhense de 74 anos, dona de uma voz potente, que vendeu cerca de 8 milhões de cópias no mundo todo.
O que une a trajetória da protagonista ao folclore é o Maranhão, terra natal de Marrom e um dos estados onde paira na cultura e no imaginário a simbologia da lenda. Em dois atos, vemos Alcione desde sua infância, em São Luís, quando aprendeu a tocar trompete com o pai, até as turnês internacionais e a conquista do título de rainha do samba no Brasil. Mesmo aqueles que não conhecem tanto a artista podem se emocionar com ótimas performances de hits como Não Deixe o Samba Morrer e Você Me Vira a Cabeça, cantadas por um grupo de doze atrizes que se transformam em Alciones no palco. Uma delas é Karin Hils, que já protagonizou outra biografia musicada: Donna Summer Musical, também dirigida por Falabella.
Outra é Carol Roberto, paulistana de 16 anos que brilha ao viver a cantora durante a infância e adolescência. O musical levou a homenageada às lágrimas. “Eu já vivi muitas coisas bonitas na minha vida. Desfilar pela Mangueira, ver o nascimento dos meus sobrinhos… Vocês, para mim, são o resumo de tudo isso”, disse Alcione ao elenco após assistir ao espetáculo em setembro. Livre (110min).
Teatro Sérgio Cardoso. Rua Rui Barbosa, 153, Bela Vista, ☎ 3288-0136. ♿ Sex. a seg., 20h30. Dom., 17h e 20h30. Sáb., 16h e 20h30. R$ 80,00 a R$ 200,00. Até 7/11. teatrosergiocardoso.com.br.
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Mais que gostoso demais
A peça Dominguinhos: Isso Aqui Tá Bom Demais começa com um sonho. José Domingos de Morais, o mestre do forró Dominguinhos (1941-2013), escuta sua sanfona o chamar em seus últimos minutos de vida. Desse fragmento poético, a montagem de Gabriel Fontes Paiva, com dramaturgia de Silvia Gomez e direção musical de Myriam Taubkin, conduz a narrativa com cenas de acontecimentos da trajetória do cantor.
A infância em Garanhuns (Pernambuco), o primeiro contato com Luiz Gonzaga, que o “apadrinhou” após vê-lo tocar em um hotel na cidade, em 1947, e que o levou para o Rio para começar a carreira, aos 13 anos, os amores e a família são postos no palco por um elenco de sete músicos, que se revezam nos personagens. Três deles acompanharam o trabalho do instrumentista de perto: Cosme Vieira, Zé Pitoco e Liv Moraes, filha e parceira de Dominguinhos na vida e na arte e que canta Gostoso Demais com Vieira, em um dos momentos mais bonitos do musical. Foi ela quem ajudou na inserção de falas, jeitos e traços de seu pai no roteiro.
“Três características da obra do Dominguinhos que buscamos ressaltar são a alegria, a sofisticação musical e a simplicidade”, diz o diretor. “Ele nunca deixou suas raízes para trás”, comenta Paiva em referência à principal figura do cenário, uma árvore que reluz diferentes cores. O público ainda pode esperar performances enérgicas de Isso Aqui Tá Bom Demais e Eu Só Quero um Xodó. Livre. (110min).
Teatro Faap. Rua Alagoas, 903, Higienópolis, ☎ 3662-7233. ♿ Sex. e sáb., 20h. Dom., 18h. R$ 120,00. Até 27/11. faap.br/teatro.
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Não é uma alucinação
Belchior — O Musical, que estreou em 2019 no Rio de Janeiro e passou pelo mesmo ano e em 2020 pela capital paulista, tem apenas duas apresentações, nos dias 12 e 13 de novembro, no Teatro Bravos. O espetáculo de Pedro Cadore retrata a trajetória do cantor, morto em 2017, a partir da juventude do artista. O texto foi escrito com base em entrevistas dadas pelo próprio Belchior durante a carreira.
Na trama, Pablo Paleologo interpreta o homenageado, e o ator Bruno Suzano dá vida ao Cidadão Comum, personagem comum nas canções de Belchior e, dependendo da análise, seu alter ego. No repertório, estão músicas como Alucinação, Apenas um Rapaz Latino-Americano e Coração Selvagem. 12 anos. (70min).
Teatro Bravos. Rua Coropé, 88, Pinheiros, ☎ 2364-4891. ♿ 12/11 (sáb.) e 13/11 (dom.), 20h. R$ 80,00 e R$ 100,00. teatrobravos.com.br.
E tem mais!
Outros musicais em cartaz e que vão estrear na cidade
> Anastasia, o Musical. O clássico da Broadway sobre a Grã-Duquesa da Rússia estreia em novembro, no Teatro Renault.
> O Pequeno Príncipe, o Musical. O livro de Antoine de Saint-Exupéry ganha versão teatral com toques de autobiografia, para pais e filhos. Até 18/12, no Teatro VillaLobos (leia mais neste link).
> A Pequena Sereia, o Musical. Sucesso de público, a montagem inspirada no filme da Disney teve temporada prorrogada. Até 27/11, no Teatro Santander (leia mais neste link).
> Em Busca do Balão Mágico — Uma Aventura Musical. Peça nostálgica dirigida por Jarbas Homem de Mello que pode encantar crianças e filhos saudosos. Até 6/11, no Teatro das Artes (leia mais neste link).
> Elas Brilham — Vozes que Iluminam e Transformam o Mundo. Espetáculo sobre grandes mulheres da música em nova temporada na capital. Até 23/10, no Teatro Claro.
> A Hora da Estrela ou o Canto de Macabéa. O musical sobre o romance de Clarice Lispector estará de volta à capital. De 3/11 a 11/12, no Teatro Vivo.
> Tempo Certo. Dilemas amorosos marcam a montagem do selo Circuito Off. Até 28/11, no Teatro Viradalata (leia mais neste link).
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Publicado em VEJA São Paulo de 19 de outubro de 2022, edição nº 2811