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Artistas indígenas ganham destaque nos museus paulistas: “Nossa arte é viva”

O Masp inaugura nesta sexta-feira (24) duas exposições e uma sala de vídeo protagonizadas por povos originários de diversas origens

Por Mattheus Goto
24 mar 2023, 06h00
Obra "Yube Inu Yube Shanu" (2020), do Coletivo MAHKU
Obra "Yube Inu Yube Shanu" (2020), do coletivo MAHKU (Eduardo Ortega/Divulgação)
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Desde 2016, o Masp (Museu de Arte de São Paulo) elege um tema para pautar a programação. Depois de falar sobre Histórias da Sexualidade (2017), Histórias das Mulheres (2019) e Histórias Brasileiras (2021-22), é a vez dos povos originários. Em 2023, as Histórias Indígenas começam a ser contadas com duas exposições, inauguradas nesta sexta-feira (24) e em cartaz até o próximo dia 11 de junho.

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Uma delas é MAHKU: Mirações, que marca os dez anos do Coletivo MAHKU (Movimento dos Artistas Huni Kuin), do povo Huni Kuin, no Acre. Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, Guilherme Giufrida, curador assistente, e Ibã Huni Kuin, curador convidado, a mostra gira em torno de cantos, mitos e experiências visuais geradas pelos rituais de nixi pae, que envolve a ingestão de ayahuasca, denominadas mirações.

“O MAHKU é uma transmutação do som para a imagem”, explica Kássia Borges, integrante do grupo. O coletivo foi criado por Ibã no intuito de manter viva a língua hãtxa kuin e apresentar a cultura do povo para pessoas não indígenas. Ele juntou seus filhos, começou a cantar músicas na língua nativa e pediu para que fizessem representações visuais dos sons — já que considera que não é possível traduzir as letras, apenas atribuir um novo sentido.

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O coletivo MAHKU, formado por Ibã Huin Kuin, seus filhos e sua esposa (Daniel Dinato/Cortesia/Divulgação)
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Em 2017, quando o fundador se casou com Kássia, que na verdade é carajá, ela passou a integrar o grupo e introduziu novas técnicas e materiais de trabalho. Formada em artes plásticas nos anos 1980, ela vê uma valorização da produção indígena nos últimos cinco anos.

“Antes só tinha trabalho guardado como memória, e nossa arte é viva”, conta. “Era um apagamento enorme. Não podia ter nome indígena, não podia falar a língua. Foram anos de muito sofrimento.”

Segundo a artista, um dos fatores que influenciaram essa mudança foi a pressão externa. “Demorou para os museus brasileiros  abrirem as portas para nós. Fui à Dinamarca em 1993 e vi indígenas australianos no mesmo museu que o (Joan) Miró”, analisa.

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Um dos curadores da exposição, Guilherme Giufrida diz que era um desejo antigo do Masp falar sobre as Histórias Indígenas. Na programação inicial, o tema estava previsto para 2021, mas foi adiado devido à pandemia. “É uma primeira geração de artistas tomando o controle da narrativa, que coincide com um ano em que houve a criação do Ministério dos Povos Indígenas. É só o começo”, comenta. Para prestigiar esse momento, o Masp cedeu, pela primeira vez na história, o espaço da rampa vermelha para a exposição de obras dos artistas do coletivo.

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Autorretrato de Carmézia Emiliano, “Eu [I]” (2022), que abre a mostra no museu (Rodrigo Guedes da Silva/Divulgação)
A outra exposição aberta nesta sexta-feira (24) é Carmézia Emiliano: a Árvore da Vida, sobre a artista de origem macuxi, de Roraima. Há também uma ocupação na sala de vídeo pelo Coletivo Bepunu Mebengokré, até 18 de junho. O museu também vai participar da edição da SP-Arte (de 29 de março a 2 de abril) com a venda de objetos feitos por povos indígenas. No segundo semestre, dá continuidade ao assunto com uma exposição coletiva, em outubro, com curadores indígenas de vários lugares do mundo.

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A programação cultural se estende para outras instituições: além do Museu das Culturas Indígenas, cuja pauta é elaborada em colaboração com as comunidades locais, o Instituto Moreira Salles apresenta até 9 de abril Xingu: Contatos, com obras de artistas indígenas como o Coletivo Kuikuro de Cinema, e o Museu da Língua Portuguesa aborda as línguas faladas por povos originários em Nhe’e Porã: Memória e Transformação até 23 de abril.

Publicado em VEJA São Paulo de 29 de março de 2023, edição nº 2834

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