Bons rótulos de vinhos austríacos conquistam espaço em São Paulo
Pouco conhecidas, essas garrafas mostram qualidade e preço competitivo
O agricultor Fritz Wieninger ganhou rugas de preocupação ao redor dos olhos azuis nos últimos dois anos. Uma tempestade de granizo danificou sua plantação na montanha de Nussberg, o ponto mais alto para o cultivo de uvas brancas em Viena, às margens do Rio Danúbio. Ele perdeu assim parte da colheita de castas usadas para elaborar um de seus principais rótulos, o Gemischter Satz.
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À frente da empresa fundada por sua família em 1966, Wieninger fez dessa bebida uma especialidade da casa. Na composição entram uvas plantadas, colhidas e prensadas juntas, como a weissburgunder, a neuburger e a welschriesling de um terreno vizinho a Nussberg, menos mineral. O prejuízo foi ainda mais lamentado por ter ocorrido num período em que o país de Mozart e Freud se tornou conhecido também por fazer vinhos respeitáveis. Eles estão ganhando espaço em vários mercados por sua qualidade e seu preço competitivo, embora não sejam exatamente baratos.
Em São Paulo, a presença austríaca começa a se tornar perceptível. Por aqui, algumas boas ofertas podem ser encontradas a partir de 97,30 reais. Uma das novidades previstas para o próximo mês é justamente o desembarque do Gemischter Satz 2011. O lote de importação de 300 garrafas vai se somar aos mais de sessenta rótulos do mesmo país incorporados às cartas de restaurantes da capital desde 2011.
Dezesseis estabelecimentos incluíram essa nacionalidade europeia em sua cave. As seleções mais variadas são a do Bravin, em Higienópolis, com doze opções, e a do La Table, no MorumbiShopping, com dez. Esses endereços estão à frente até mesmo do único restaurante austríaco da cidade, o Wolf’s Garten, em Pinheiros, com três sugestões.
O interesse por esses vinhos tende a crescer depois do salto de qualidade registrado nos últimos anos. “Regras rígidas do Ministério da Agricultura, aliadas a técnicas modernas de produção, sofisticaram uma tradição familiar e intuitiva”, explica Mauricio Rodrigues, sócio da importadora Vinhos da Áustria, aberta em 2010 e especializada em garrafas da terra da valsa. Ela ajudou a multiplicar o volume de opções no mercado paulistano. Atualmente, comercializa 55 rótulos de vinte vinícolas das onze regiões produtoras.
Antes da sua chegada, a Mistral abastecia adegas com dezesseis vinhos de três vinícolas, entre elas a Prager, de Wachau, a principal área de brancos secos. Em 2012, a Decanter trouxe oito rótulos da Hiedler. Muitos vinicultores austríacos aproveitaram a boa fase para investir na revitalização do negócio. Como exemplo, a Loisium ergueu uma sede pós-moderna, com spa-resort, assinada pelo arquiteto americano Steven Holl. Entre as 35 variedades cultivadas no território, dezessete são nativas. A branca grüner veltliner cobre um terço dos 46 000 hectares (cabem pouco mais de três Áustrias vinicultoras na cidade de São Paulo).
Em expansão, a zweigelt, a blaufränkisch e outras cepas tintas já ocupam outro terço das plantações no país. Crescem em solo calcário, o que, em geral, resulta em bebidas mais ácidas, com pouco açúcar — combinação estranha a paladares acostumados ao “desce redondo” da malbec e da merlot. “Eles são atraentes para quem busca sabores diferentes”, afirma Lucila Taninaga, outra das proprietárias da Vinhos da Áustria. Quem deseja se aventurar na primeira garrafa pode começar pela versão de sobremesa Tschida. É um jeito doce de iniciar a viagem por essa nova fronteira vinícola. Prost!
Enoteca Decanter. Rua Joaquim Floriano, 838, Itaim, tel.: 3702-2020
Mistral. Rua Rocha, 288, Bela Vista, tel.: 3372-3400
Vinhos da Áustria. Rua Doutor Geraldo dos Campos Moreira, 17, Brooklin, tel.: 4306-6151