Público retorna a bares e restaurantes, mas faturamento é baixo
Em quase um mês de reabertura, endereços veem o ressurgimento da clientela sem grandes aglomerações
É morna a temperatura da retomada do público a bares e restaurantes da cidade. Desde o dia 6 de julho estabelecimentos da gastronomia puderam voltar a acolher a clientela, com uma série de restrições.
Um dos lugares que optaram por retornar foi o Boteco Boa Praça, no Itaim Bibi, com atraente área ao ar livre na Faria Lima. Todos os 100 assentos — 150 menos que o normal, de acordo com os decretos estaduais — estavam ocupados no último fim de semana. Felizmente, não se viram no entorno cenas de aglomeração como as registradas no primeiro dia da reabertura no bairro do Leblon (RJ), em 2 de julho — um dos vídeos que mostram o desrespeito ao distanciamento social foi gravado em frente à filial carioca do bar.
“Ao atender as pessoas sentadas, a operação fica cinco vezes mais simples, mas o faturamento é apenas 20% do que era antes”, lamenta Alessandro Ávila, CEO do A.Life Group, que comanda a casa. A cifra coincide com a porcentagem que a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SP) divulgou como a média da receita atual em relação às registradas anteriormente à pandemia.
O horário restrito — das 11 às 17 horas — é apontado por empresários como um grande entrave. Na última semana, circulou pelas redes sociais um protesto que pede ao governador João Doria que autorize os estabelecimentos a funcionar à noite. “Estamos trabalhando duro para trazer de volta os funcionários que ainda estão em casa, uma vez que a receita do delivery não paga a operação”, diz Milton Freitas, dono de espaços como Antonietta, em Higienópolis, e Jacarandá, em Pinheiros, e um dos apoiadores da carta.
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Endereços que abriam só no jantar, sobretudo bares, passaram a funcionar no almoço, muitas vezes em regiões corporativas esvaziadas. Dessa forma, o forte tem sido mesmo o fim de semana. Teve lugar até que decidiu operar só aos sábados e domingos, caso do bar Trabuca, no Itaim Bibi e no Jardim Paulista. “Às 14 horas já estávamos full”, conta o sócio Denis Endo Nicolini.
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A calçada foi proibida nessa primeira fase. “Ter mais lugares para a clientela ajudaria a diminuir o prejuízo e, consequentemente, evitaria demissões”, defende Armandinho Lara, das redes Tatu Bola e Eu Tu Eles. Nem todos, porém, são favoráveis ao serviço perto da rua neste momento. “Sempre vai ter aqueles que fazem zona”, acredita Ronaldo Camelo, do Grupo São Bento.
E assim foi visto em regiões boêmias, como Pinheiros, Itaim Bibi e Vila Madalena, onde alguns grupos bebiam na rua, em frente ou perto de bares. A atitude é condenada pelos donos das casas e médicos.
Empresários ouvidos pela reportagem relataram raros os casos de clientes que se recusavam a ir embora na hora ou a usar máscaras. “A fiscalização está atuante”, diz Sergio Cardoso, do Jordão Bar, no Tatuapé. “Mesmo assim, tem gente que parece que não está vendo as notícias e chega às 17 horas querendo entrar.” De acordo com a secretaria das Subprefeituras, até domingo (26), 219 estabelecimentos gastronômicos haviam sido interditados nos três últimos fins de semana por não cumprir os decretos.
Quem faz questão de ir a um bar ou restaurante deve permanecer de máscara pelo menos até o momento de a comida chegar, evitar o serviço de manobrista e preferir espaços ventilados, explica o médico Jamal Suleiman, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. Mas ele reforça que ainda não é hora de sair de casa. “Ninguém come de máscara”, lembra. “Com a flexibilização, cria-se a sensação de que acabou o problema, mas só poderemos sair como antes quando tivermos uma vacina.” Até a última terça (28), a capital somava 213 436 casos de Covid-19, segundo estimativa da prefeitura.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 5 de agosto de 2020, edição nº 2698.
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