“Acho que minha parada é saber brincar com as palavras”, diz Rubel
Músico carioca lança seu terceiro disco nesta sexta-feira (3), com participações especiais que vão de Milton Nascimento a Gabriel do Borel
O carioca Rubel, 31, lança, nesta sexta (3), seu terceiro disco: o duplo As Palavras, Vol. 1 & 2. Ironicamente, na primeira entrevista concedida sobre o trabalho, para a Vejinha, o que parecia mais complexo para o músico era justamente encontrar as palavras para descrever o que havia criado.
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“É muita coisa, mas eu vou falando na medida que vier”, começou.
De primeira, o que chama atenção são as participações, com o feito de unir Milton Nascimento ao DJ Gabriel do Borel em um mesmo trabalho. A lista — também com Ana Caetano, Bala Desejo, BK’, Deekapz, Liniker, Luedji Luna, MC Carol, Mestrinho, Tim Bernardes e Xande de Pilares —, por si só, sugere a ideia do projeto: falar sobre o Brasil.
“Os dois discos anteriores eram muito íntimos e pessoais, e eu sentia vontade de falar sobre o que estava além de mim e dialogar mais com o país em que a gente vive”, diz o artista.
Partindo dessa ideia de escrever músicas menos ensimesmadas, iniciou uma pesquisa no cancioneiro e na literatura brasileira que durou três anos, resultando na fusão de pagode, MPB, música eletrônica, forró e funk que está presente no álbum, gravado entre São Paulo, Rio e Salvador.
“As participações foram uma consequência da diversidade de gêneros, que foi uma consequência da vontade de falar sobre o Brasil. A ideia musical não era essa, era fazer canções”, explica.
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Sobre os convidados, revela o nome mais complexo de trazer. “O Gabriel do Borel foi muito difícil, por conta da agenda dele. E esta, Putaria, foi a música mais difícil de produzir. Tinha tentado muitas parcerias com pessoas do mundo do funk, e todas diziam ‘não’.”
Se continuasse recebendo respostas negativas, Rubel diz que não iria gravar a faixa. “Essa foi a questão que mais me atormentou ao longo da produção. Ao mesmo tempo que eu sabia que tudo que estava fazendo era genuíno e partia de um lugar de reverência por cada um desses gêneros, eu só me sentiria responsável fazendo essas misturas se tivesse alguém de cada universo produzindo ou cantando comigo”, explica.
“O funk e o samba vêm da favela, eu não pertenço a esse lugar, então tenho de chegar com muito respeito”, resume.
Sobre o porquê do título do álbum, responde citando inspirações em livros de Sartre (1905-1980) e Caetano Veloso, mas sintetiza a ideia essencial: “Eu me vejo muito mais contando histórias do que sendo um bom cantor ou um grande músico. Acho que minha parada é saber brincar com as palavras”.
Publicado em VEJA São Paulo de 8 de março de 2023, edição nº 2831
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