“Minha carreira começou oficialmente em São Paulo”, diz Djavan
Estreando no palco do Rock in Rio neste mês, o alagoano também passará pela capital paulista no dia 16, no Coala Festival, com repertório de sucessos
Do Rio, Djavan, 73, atendeu ao telefone alguns minutos atrasado. O motivo: acabava de chegar da rua, estava no pilates. Na noite anterior, visitava o palco do Rock in Rio em que se apresenta no próximo dia 11. De prosa rápida e maneira clara de se expressar, é curioso pensar que um dos maiores desejos desse artista é “ser compreendido” – “falo de um entendimento sobre o que eu faço: a minha música, a minha harmonia, a minha melodia”, afirma.
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O músico acaba de lançar seu 25o disco da carreira, D (2022), um trabalho de doze faixas produzido pelo próprio, que inclui parceria inédita com Milton Nascimento em Beleza Destruída e participação da família na pop Iluminado, reunindo gerações da linhagem Caetano Viana.
Esses símbolos importantes das bodas de prata de sua discografia não foram previstos. “Só depois que começaram a falar que era o vigésimo quinto, bodas e tal. Sinceramente, não teve nenhuma relevância na feitura do disco — são tantas as funções que eu exerço quando gravo que não sobra tempo para nada que não seja determinante”, conta o músico.
A fase movimentada também traz outras duas novidades, agora em setembro. Dia 10, faz sua estreia solo no Rock in Rio — já havia participado do show do guitarrista lendário Carlos Santana, na edição de 1991, cantando a faixa Oceano –, e dia 16, no Coala Festival, que chega à oitava edição em São Paulo. Os dois shows terão repertório especial: só sucessos.
“Eu fiz muito show em festival, no Brasil e no resto do mundo, em uma época. Depois, saí um pouco fora desse circuito. A carreira vai ficando mais velha e você vai adquirindo algumas necessidades que o festivais não te dão. Mas agora eu estou me animando mais”, conta o músico, adiantando que também tem festivais na Europa marcados para 2023.
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E, falando em festivais, Djavan faz questão de lembrar o mais importante de sua trajetória, ocorrido na própria capital paulista. “A minha carreira começou oficialmente em 1975, no Festival Abertura, nesse belíssimo Teatro Municipal. Isso nunca me fugiu da memória, porque foi o início de tudo”, resgata o alagoano, que, na ocasião, chegou ao 2o lugar com a música Fato Consumado.
Morador do Rio de Janeiro há 51 anos, o artista relembra sua relação com os fãs paulistanos. “Eu sempre tive um amor muito grande por São Paulo, também pelo fato do público paulista retribuir essa atenção comigo. Os shows aí são sempre aguardadíssimos por mim, porque não me lembro de ter feito um show ‘mais ou menos’ em SP”, conta.
Interessado por arquitetura, o compositor diz que, quando visita a metrópole, gosta de pegar o carro e dar um rolê para apreciar os casarões antigos. Sobre a comida, não faltam elogios: “espetacular”, “fantástica”. Mas, sobre a noite da pauliceia, não conhece o bastante para opinar — apesar de já partir do conceito de que “é melhor que a do Rio”. “São Paulo é uma cidade muito agradável. Eu sou um dos que moram no Rio de Janeiro que ama São Paulo — eu moraria aí”, afirma.
Sampa, inclusive, já ganhou homenagem na discografia de Djavan. Trata-se da faixa Meu, do disco Milagreiro (2001): uma linda canção de amor no sotaque da cidade. “Eu procurei trazer à tona o modo de falar paulistano. Eu amo essa música. Eu cantei ela apenas uma vez em shows — e sou cobrado por isso até hoje. Quem sabe na próxima turnê”, deixa no ar.
Independência absoluta
Assinando todos os arranjos, composições e toda a produção de seu último lançamento — prática que se repete desde Vaidade (2004) –, Djavan explica que o comando total tem sua razão de ser.
“Essa independência aconteceu por necessidade total. Eu precisava disso para ser mais íntegro musicalmente. Por isso criei gravadora, produtora, editora. Eu sou um artista que tenho uma coisa muito pessoal no meu fazer, o que me gerou muitas complicações no início”, conta, relembrando casos de arranjos “lindos porém inadequados” feitos por terceiros em trabalhos seus. “Eu quase morro com isso”, enfatiza.
“Essa independência não quer dizer que eu seja uma pessoa totalitária. Eu divido, eu escuto muito. E eu trabalho com pessoas competentes que me conhecem há muito tempo”, diz o alagoano, ressaltando a importância de sua banda na gravação de D.
“Eu queria acentuar neste trabalho a diversidade instrumental, não só musical — que me acompanha a vida inteira. As ideias distintas de cada músico”, explica. A ficha técnica do álbum reúne nomes gabaritados como Marcelo Mariano, Felipe Alves, Torcuato Mariano, Paulo Calasans e Carlos Bala.
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Complexo e pop
“A frase que eu mais escutava nessa época dos músicos era ‘Where’s the one?’ (Onde está o um? — alusão ao tempo que marca o início de um ritmo)”, conta Djavan, rindo, sobre a safra de discos produzidos nos Estados Unidos nos anos 80, os clássicos Luz (1982) e Lilás (1984).
A busca por ser mais compreendido musicalmente é um projeto longo, mas que avança. “Eu acho que a evolução é bem nítida — até pelo meu público, que aumenta a cada ano. Porque a minha música serve para várias tribos”, comenta o artista, citando as redes sociais como um poderoso vetor de conexões.
“A minha questão é essa: eu quero continuar sendo compreendido, porque aí eu tenho chance de chegar nas pessoas com mais facilidade”, enfatiza Djavan, que conclui: “Eu reconheço hoje mais do que antes que minha música tem uma particularidade que não é comum”.
Inteligível ou não, o que importa agora é que o Memorial da América Latina estará lotado na sexta-feira (16) do seu show em São Paulo, assim como o Parque dos Atletas, no Rock in Rio, para ver ao vivo hits como Sina, Se…, Eu Te Devoro, Flor de Lis e Boa Noite, entre tantos outros.
Restam poucos ingressos. Memorial da América Latina. Avenida Mário de Andrade, 664, Barra Funda, ☎ 3823-4600. Sex. (16), 20h25. R$ 260,00. totalacesso.com.
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