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“O Coala já não é só um festival, é uma marca de música”, diz sócio-fundador

Às vésperas da oitava e maior edição do evento, Gabriel Andrade revela os bastidores da programação e investidas da empresa, como o canal no YouTube

Por Tomás Novaes
Atualizado em 27 Maio 2024, 21h37 - Publicado em 26 ago 2022, 06h00
Imagem mostra homem de bigode sorrindo, em frente a parde de tijolos
Gabriel, no escritório do Coala: entusiasta, sócio e curador. (Leo Martins/Veja SP)
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O Coala Festival nasceu em 2014 com uma seleção de novos artistas paulistanos que viram sua segunda casa — a casa de shows Studio SP, na Augusta — fechar as portas um ano antes. Após algumas tentativas, a linha curatorial do evento conseguiu encontrar a fórmula do sucesso: unir a nova geração aos grandes nomes da música brasileira.

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Foi o pioneiro na cidade com o formato de trazer só artistas nacionais e, após três edições esgotadas, retorna a partir de 16 de setembro no Memorial da América Latina com inéditos três dias de música, expectativa de 48 000 pessoas e um line-up que inclui Djavan, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Liniker e Marina Sena.

Também ultrapassou as fronteiras de festival, tornando-se uma marca que lança discos, gerencia carreiras e produz clipes e campanhas de publicidade por meio das frentes Coala Lab e Coala Records.

Fundador, curador do festival e um dos cinco sócios da marca, Gabriel Andrade, 32, paulista de São José do Rio Pardo que nunca tinha trabalhado com produção nem com música, conta mais à Vejinha sobre o passado, o presente e o futuro da empresa.

Como veio a ideia de criar o Coala?

A ideia de fazer o festival veio quando o Studio SP fechou. Eu era realmente fã de lá e pensei que a gente precisava fazer alguma coisa. Então, tive a ideia de formular um festival para reunir aquela galera — nomes como Criolo, Trupe Chá de Boldo, Charlie e os Marretas, O Terno. Só que essa galera sozinha não trazia público. Então pensei em sempre trazer uns nomes maiores. É isso, era um entusiasta, estava estudando administração na FGV. Eu brinco: nunca fiz uma festa de aniversário antes de fazer o primeiro Coala. Só que o meu sócio, Guilherme Marconi, já trabalhava com eventos e frequentava o Studio SP comigo. Ele topou e levou dois anos até a gente realizar o primeiro, que saiu em março de 2014.

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Qual a importância da edição de 2017, com Caetano Veloso no line-up?

O primeiro ano que a edição do festival fechou a conta foi em 2016. Tanto que a gente tinha meio que desistido do Coala, e o festival, que costumava ser em março, acabou rolando só em setembro. E foi nessa edição que o Marcus Preto entrou para a curadoria — e ele fez a provocação: “No ano que vem é Caetano”. Para a gente isso seria muito surreal. Chamamos o Emicida, que tinha uma relação próxima com Caetano, que acabou topando. Foi o primeiro boom, deu sold out (esgotou). E ali a gente entendeu que talvez o nosso DNA fosse este: se a gente juntasse o indie, o midstream e os clássicos da música brasileira, a coisa faria sentido. E a gente segue isso até hoje.

Como ocorreu a expansão para os atuais três dias de festival?

Trabalhei no Facebook durante seis anos, e lá eles têm um conceito de que o produto está sempre em Beta — isto é, ele nunca está em sua versão final. E trouxe esse pensamento para o Coala também: a gente nunca está na nossa versão final, nem neste ano. Em 2018, como havia rolado o sold out, a gente pensou que talvez fosse a hora de fazer dois dias. Coincidiu com os cinco anos do festival. Então, tínhamos essa desculpa para que, se desse errado, fosse uma edição especial — igual está rolando neste ano, que tem uma demanda represada, então a gente está indo para o terceiro dia. Se isso funcionar — e já funcionou pelo menos em termos de venda de ingressos, agora vamos ver como será operacionalmente —, a gente mantém três dias daqui para a frente.

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Como a empresa se manteve nesses dois anos sem festival presencial?

Quando chegou a pandemia, basicamente esquecemos que fazíamos um festival. Assim, a gente teve a ilusão de que com o Coala virtual conseguiríamos fazer grana, mas a gente só se f…. Tomamos um prejuízo gigante, que ainda carregamos para este ano. Mas como o festival vinha numa crescente, tivemos fôlego para segurar a onda. Precisamos reduzir o salário da galera por um tempo — eu fiquei catorze meses sem receber —, só que a gente não demitiu ninguém. E plantamos várias sementes, lançamos o disco do Bala Desejo, começamos a gerenciar a carreira do rapper BK’, entre outras coisas que continuam em 2022, além do festival. Então, do ponto de vista de negócio, esse momento nos permitiu estruturar outras partes da empresa que antes ficavam de lado. Mas foi muito doloroso.

Qual a diferença do Coala para os outros festivais?

Acho que são três pilares: construção de marca, experiência e inovação. A gente está promovendo e criando cultura. Quem vê essas coisas entende que o Coala já não é só um festival, é uma marca de música que está impulsionando a cena em várias frentes diferentes. Não sei de outro festival que faz isso. Do ponto de vista de evento, o diferencial é a experiência. Ainda acho que temos uma coesão maior. Nos shows, rola uma comunhão entre palco e público que não é todo festival que tem. A gente sempre tenta inovar alguma coisa. Neste ano vai ter um palco novo, uma pista de dança de música eletrônica, mas uma eletrônica com a nossa cara. Ainda assim, se você olhar em termos de curadoria, realmente está cada vez mais difícil se diferenciar, porque essa fórmula que a gente encontrou lá atrás foi assimilada pelo mercado.

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Como vocês lidam com esse boom de festivais na cidade?

O que a gente quer é formar um público coeso, que todo mundo goste de tudo o que está ali. Tem festivais que estão fazendo isso bem, tipo o Rock the Mountain, que eu acho um puta projeto. Mas acho também que tem um excesso de oferta. Está rolando isso porque muita gente se propõe a fazer um festival e não tem ideia do trampo e do risco que é. A chance de você fazer um festival e ganhar dinheiro nos primeiros três anos é praticamente mínima, muito pequena. Acho que a gente estava um pouquinho à frente do tempo em 2014. Para mim, o festival à frente do tempo em São Paulo hoje é o Cena, que fez a leitura dessa tendência do trap e do rap. Você vai ver que esse é o próximo movimento, pode ter certeza de que em 2023 vai surgir festival com esse formato a rodo no Brasil.

Falando em 2023, quais são as próximas apostas do Coala?

A gente está lançando o disco do Tim Bernardes, vamos lançar o próximo disco do Bruno Berle e o próximo do Rubel. Agora somos também a consultoria de música do Itaú, estamos montando a plataforma musical deles para 2023. Eles já estão com uma plataforma de games e no ano que vem vão botar o pé na música, com o objetivo de se conectar mais com os jovens. Posso lhe dar um spoiler de outra coisa: no próximo ano a gente vai focar muito no nosso canal no YouTube, vamos tentar criar uma mídia grande. Acho que essa é uma das grandes lacunas da nossa cena: no rap, tem a Pineapple, no funk, o Kondzilla, na eletrônica, não é brasileiro, mas você tem o Boiler Room. Na nossa cena, a gente tem algumas iniciativas, mas nenhuma dessas conseguiu gerar um canal grande — não que a gente vá conseguir, mas a gente vai tentar com a Coala TV.

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Publicado em VEJA São Paulo de 31 de agosto de 2022, edição nº 2804

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