Aprenda a harmonizar pratos nacionais com vinhos do mundo todo
Confira como seria se Baco, o deus do vinho, percorresse o Brasil comendo e bebendo
Dionísio, o deus grego do vinho e das festas, também chamado de Baco pelos romanos, é uma figura mítica conhecida por ter espalhado a cultura do vinho por onde passou. Segundo a lenda, após ser exilado na Índia, Baco empreendeu uma longa jornada de volta à Grécia, ensinando por onde passava a arte de fazer e apreciar o vinho. Agora, imagine se Baco resolvesse fazer uma viagem semelhante pelo Brasil, mostrando aos locais a combinação dos pratos típicos brasileiros com rótulos do mundo todo.
Baco inicia sua aventura aterrissando no Galeão, no Rio de Janeiro, onde é recebido com uma escola de samba e uma feijoada completa, daquelas com ambulância na porta. Este prato icônico é substancioso. Baco escolhe um Amarone, tinto italiano feito pelo método de apassimento, que torna a uva em quase uma passa e resulta em líquido mais robusto e páreo para a feijoada.
Seguindo para São Paulo, Baco é convidado a provar um virado à paulista. Este prato tradicional é composto de arroz, tutu de feijão, couve, bisteca, linguiça, torresmo e banana frita. Para esta combinação rica e complexa, o deus greco-latino oferece um syrah da serra da Mantiqueira (SP), pelo corpo e estrutura ideais para lidar com a diversidade de sabores e texturas do prato.
Em Minas Gerais, claro, lhe deram feijão tropeiro, que ele não demorou a combinar com a acidez e os taninos de um cabernet franc da região francesa do Vale do Loire. No Espírito santo, a divindade depara com a moqueca capixaba. Para o ensopado de peixe e frutos do mar colorido por urucum, Baco acredita que uma bela opção é um sauvignon blanc do Chile, cheio de frescor e acidez.
No Paraná lhe deram um barreado, ensopado de carne desfiada, cozido lentamente em uma panela de barro vedada por farinha de mandioca. Quem diria que ele iria propor um pinot noir, e justo da Borgonha, com sua elegância e complexidade. No Rio Grande do Sul, obviamente ele se acabou no churrasco gaúcho e não surpreendeu ao propor para esta festa um tannat da Campanha Gaúcha.
Na Bahia, “que delícia”, ele disse ao morder um acarajé, e ainda de boca cheia falou: “isso vai bem com um marsanne da região francesa do Languedoc-Roussillon”. Em Goiás, a divindade descobriu o arroz de pequi, para o qual opta por um torrontés da Argentina, com suas notas florais e ponta de doçura, criando uma combinação inusitada e deliciosa.
No Pará, Baco é surpreendido com um pato no tucupi e sua escolha é um riesling da Alemanha, por sua acidez e uma certa afinidade aromática com o prato. Finalizando sua jornada gastronômica no Ceará, Baco experimenta a buchada de bode. Este prato de sabor marcante pede um vinho intenso e complexo, com notas picantes, como um blend chileno de syrah com carménère.
Antes de se despedir, Baco deixa algumas sugestões mais: de Santa Catarina, ostras com Chablis, joia da França; de Alagoas, sururu com vinho verde português; do Maranhão, a caranguejada com albarinho espanhol; de Pernambuco, carne de sol com queijo de coalho, com um bonarda argentino; do Amazonas, o tambaqui com um chenin blanc da África do Sul; do Mato Grosso, caldo de piranha com verdejo espanhol.
Ensedune Marsanne 2021 Do produtor Les Vignobles Foncalieu, do Languedoc-Roussillon, sul da França. Feito com marsanne. Palha claro. Aroma floral, fresco, frutado, com toques de pêssego e mel, com nota mineral. Leve e fresco, com boa acidez, 14% de álcool. Sugestão para o acarajé. R$ 59,90, na Evino.
Baccolo Appassimento 2021 Da Cielo e Terra, do Veneto, feito com corvina e merlot, parcialmente desidratadas. Rubi escuro. Aromas de cereja, figo, passas, chocolate. Paladar de bom corpo, macio, redondo. Sugestão para a feijoada. R$ 84,90, na Evino.
Vertice 2020 Da chilena Ventisquero, com carménère e syrah. Rubi violáceo. Aroma intenso, madeira aparece na frente, com especiarias, frutas negras, musgo, chocolate. Bom corpo, taninos finos, boa acidez, faltou meio de boca. Ainda jovem. Sugestão para a buchada. R$ 376,35, na Wine.
T.H. [Terroir Hunter] Sauvignon Blanc 2021 Da chilena Undurraga, com uvas do Valle de Leyda, 100% sauvignon blanc, (15 % passa por carvalho). Amarelo palha claro. Aroma fresco, com notas de aspargo, maracujá, flores brancas. Ótima acidez. sugestão para moqueca capixaba. R$ 229,29, na Wine.
Publicado em VEJA São Paulo de 09 de agosto de 2024, edição nº 2905.
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