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Vinho e Algo Mais

Por Por Marcelo Copello Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Especialista na bebida, Marcelo Copello foi colunista de Veja Rio. Sua longa trajetória como escritor do tema inclui publicações como a extinta Gazeta Mercantil e livros, entre eles "Vinho e Algo Mais" e "Os Sabores do Douro e do Minho", pelo qual concorreu ao prêmio Jabuti
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Aprenda a harmonizar pratos nacionais com vinhos do mundo todo

Confira como seria se Baco, o deus do vinho, percorresse o Brasil comendo e bebendo

Por Marcelo Copello
9 ago 2024, 06h00
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A viagem de Baco pelo Brasil: vinhos que harmonizam com pratos brasileiros  (Divulgação/Divulgação)
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Dionísio, o deus grego do vinho e das festas, também chamado de Baco pelos romanos, é uma figura mítica conhecida por ter espalhado a cultura do vinho por onde passou. Segundo a lenda, após ser exilado na Índia, Baco empreendeu uma longa jornada de volta à Grécia, ensinando por onde passava a arte de fazer e apreciar o vinho. Agora, imagine se Baco resolvesse fazer uma viagem semelhante pelo Brasil, mostrando aos locais a combinação dos pratos típicos brasileiros com rótulos do mundo todo.

Baco inicia sua aventura aterrissando no Galeão, no Rio de Janeiro, onde é recebido com uma escola de samba e uma feijoada completa, daquelas com ambulância na porta. Este prato icônico é substancioso. Baco escolhe um Amarone, tinto italiano feito pelo método de apassimento, que torna a uva em quase uma passa e resulta em líquido mais robusto e páreo para a feijoada.

Seguindo para São Paulo, Baco é convidado a provar um virado à paulista. Este prato tradicional é composto de arroz, tutu de feijão, couve, bisteca, linguiça, torresmo e banana frita. Para esta combinação rica e complexa, o deus greco-latino oferece um syrah da serra da Mantiqueira (SP), pelo corpo e estrutura ideais para lidar com a diversidade de sabores e texturas do prato.

Em Minas Gerais, claro, lhe deram feijão tropeiro, que ele não demorou a combinar com a acidez e os taninos de um cabernet franc da região francesa do Vale do Loire. No Espírito santo, a divindade depara com a moqueca capixaba. Para o ensopado de peixe e frutos do mar colorido por urucum, Baco acredita que uma bela opção é um sauvignon blanc do Chile, cheio de frescor e acidez.

No Paraná lhe deram um barreado, ensopado de carne desfiada, cozido lentamente em uma panela de barro vedada por farinha de mandioca. Quem diria que ele iria propor um pinot noir, e justo da Borgonha, com sua elegância e complexidade. No Rio Grande do Sul, obviamente ele se acabou no churrasco gaúcho e não surpreendeu ao propor para esta festa um tannat da Campanha Gaúcha.

Na Bahia, “que delícia”, ele disse ao morder um acarajé, e ainda de boca cheia falou: “isso vai bem com um marsanne da região francesa do Languedoc-Roussillon”. Em Goiás, a divindade descobriu o arroz de pequi, para o qual opta por um torrontés da Argentina, com suas notas florais e ponta de doçura, criando uma combinação inusitada e deliciosa.

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No Pará, Baco é surpreendido com um pato no tucupi e sua escolha é um riesling da Alemanha, por sua acidez e uma certa afinidade aromática com o prato. Finalizando sua jornada gastronômica no Ceará, Baco experimenta a buchada de bode. Este prato de sabor marcante pede um vinho intenso e complexo, com notas picantes, como um blend chileno de syrah com carménère.

Antes de se despedir, Baco deixa algumas sugestões mais: de Santa Catarina, ostras com Chablis, joia da França; de Alagoas, sururu com vinho verde português; do Maranhão, a caranguejada com albarinho espanhol; de Pernambuco, carne de sol com queijo de coalho, com um bonarda argentino; do Amazonas, o tambaqui com um chenin blanc da África do Sul; do Mato Grosso, caldo de piranha com verdejo espanhol.

Ensedune Marsanne 2021 Do produtor Les Vignobles Foncalieu, do Languedoc-Roussillon, sul da França. Feito com marsanne. Palha claro. Aroma floral, fresco, frutado, com toques de pêssego e mel, com nota mineral. Leve e fresco, com boa acidez, 14% de álcool. Sugestão para o acarajé. R$ 59,90, na Evino.

Baccolo Appassimento 2021 Da Cielo e Terra, do Veneto, feito com corvina e merlot, parcialmente desidratadas. Rubi escuro. Aromas de cereja, figo, passas, chocolate. Paladar de bom corpo, macio, redondo. Sugestão para a feijoada. R$ 84,90, na Evino.

Vertice 2020 Da chilena Ventisquero, com carménère e syrah. Rubi violáceo. Aroma intenso, madeira aparece na frente, com especiarias, frutas negras, musgo, chocolate. Bom corpo, taninos finos, boa acidez, faltou meio de boca. Ainda jovem. Sugestão para a buchada. R$ 376,35, na Wine.

T.H. [Terroir Hunter] Sauvignon Blanc 2021 Da chilena Undurraga, com uvas do Valle de Leyda, 100% sauvignon blanc, (15 % passa por carvalho). Amarelo palha claro. Aroma fresco, com notas de aspargo, maracujá, flores brancas. Ótima acidez. sugestão para moqueca capixaba. R$ 229,29, na Wine.

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Publicado em VEJA São Paulo de 09 de agosto de 2024, edição nº 2905.

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